“Não ter festa dá a impressão que o mundo ficou sério”
Por Magnus Henry
Membro do Programa de Educação Popular em Direitos Humanos Lições de Cidadania, militante do Levante Popular da Juventude, Estagiáriod de Direito do CRDH-UFRN
Nada mais triste para uma cidade do que uma população que se esconde em suas casas e o auge de sua diversão é ir para uma boate ou bar, nada mais entediante que a falta de arte e de música nas ruas, nada mais repressor que enclausurar os tambores e os violões aos espaços privados. É quase consensual entre todos os natalenses o quão desanimador e insatisfatório é o cenário cultural da capital potiguar.
São as confraternizações coletivas as responsáveis pelas melhores trocas entre os moradores de uma cidade, pelas mais brilhantes criações culturais de um povo. A cidade precisa de um espaço de integração entre seus habitantes, onde não importe raça, cor, nem, principalmente, classe. Quando afirmo que o cenário cultural natalense é insatisfatório me refiro há ausência de música, de dança, enfim, de arte nos espaços públicos (pra mim o local por excelência da arte).
Xs gestorxs públicos dirão de prontidão que esse texto é uma falácia, já que de tempos em tempos tem uns eventos grandiosos que trazem nomes ainda mais grandiosos do cenário musical nacional. Ora, leitores amigos, trata-se de uma tentativa de nos iludir que há um efetivo investimento em cultura, ou estão todos satisfeitos com essa política pouco inteligente? Enquanto alguns milhões de cifras são gastos com os grandes eventos, os grupos locais de arte sofrem uma morte lenta e sofrida sem ter sequer um espaço fixo para ensaios.
Com a ausência de uma política pública constante de cultura, a falsa alternativa do privado tenta inutilmente supri-la. A arte a poesia deixa o seu espaço por excelência para ser trancafiada em bares caríssimos e casas. Quando tudo parecia não ter como piorar em Natal eis que inaugurado uma grande cadeia para as artes, um teatro dentro de um shopping, que seleciona minuciosamente quem entra lá para consumir o produto arte, e quem legitimamente pode produzi-lo, e aproveita para matar aquele outro histórico teatro (como é mesmo o nome?). E ainda tem aquela infeliz história sobre o bar da meladinha, num é que tentaram fechar mais um espaço do povo?
Enquanto isso o espaço público de Natal prossegue sem alma, sem sorrisos, sem musicalidade, e aquele povo sofrido que não tem direito a se expressar nas mais diversas formas na rua, no espaço público, continua usurpado de sua capacidade criativa.
Ah! Mas se essas ruas, mas se essas ruas fossem nossas! Oxente! E não são?
Espero que nasça desse cenário desolador um movimento que questione a essa negação do espaço público como espaço de fazer arte e de confraternização da cidade e aquela lavagem das ruas do centro da cidade que aconteceu na penúltima terça-feira (15/01/12) pensada pelos organizadores do encontro de estudantes de arquitetura em parceria com a Nação Zambêracatu não seja uma atividade pontual (e que vire uma atividade periódica para que aquela alegria que se espalhou pelas ruas do centro da cidade não seja sepultada), que os grupos que produzem arte existente nessa capital exijam as ruas para apresentar os seus trabalhos, que as festas do Monte do Sol (conjunto Pirangi) e de Felipe Camarão (aquele que contou com a presença de Lia de Itamaracá) contagiem os bairros dessa cidade que tem tantos talentos e ritmos adormecidos e que pipoque um movimento, tal como revolução, de artes e festas do povo, (seria pedir demais que o Teatro Alberto Maranhão virasse cenário para arte do povo?) Aí sim, os gestores públicos (daquelas velhas famílias que parasitam aqueles velhos cargos) assistiriam inertes o amanhã renascer e esbanjar poesia realmente popular.
E que os tambores, cantos, poesias e causos sequestrados para os bares e casas finalmente saiam às ruas em grandes blocos populares nas ruas dessa cidade, seja na periferia, no centro e na tradicional ribeira, como se já fosse carnaval (o ano inteiro).