Artes visuais é bom e eu gosto (1). Depois que descobri o FILE no Facebook, faço questão de floodar a TL de meus contatos com a absurda qualidade alta de imagens que publicam lá. Normalmente, a galera gosta. Mas, desta vez, postei uma fotografia de Krista van der Niet e teve uma garota que não gostou lá muito. Primeiro, vejamos a elegância da fotografia:
Uma modelo esguia, linda. Uma composição bacana. Eu adorei, gente! Aí a mulé, comentando lá no Face, disse que não sabia no que eu tava pensando. No bate-papo, perguntei se ela queria mesmo que eu respondesse. Aí ela pensou numa resposta bem bolada e soltou: “eu estou pensando que vc esta achando que nós mulheres somos jumentas de quatro patas… Fique vc sabendo que os homens não são o pó so solado do salto alto que nós usamos…” (sic).
Fora de brincadeira, aquilo ali me deu um desarranjo gastro-entérico-neural brabo. Tratei, então, de pedir esclarecimentos – não sem deixar de ressaltar a presunção do comentário. Disse ela que era feminista, que usar salto alto é elegante e o homem sempre ficará no chinelo. Um pouco mais de náusea na hora que li isso. Meu Deus do céu, AONDE que uma feminista vai achar um salto alto elegante (exceto por um juízo estético muito particular e depurado da carga machista que o salto alto projeta)? Das duas, uma: ou ela é machista e não sabe, ou se comporta como uma amazona.
Bom, o uso de saltos não é recente, e os homens já usaram. O salto já serviu pra pra proteger os calçados da lama na Idade Média. Somente no século XIX se iniciou uma generalização no uso exclusivo por mulheres. Dados históricos à parte, vamos primeiro a alguns motivos pró-uso: elegância, imponência, mais altura, mais sedução… e mais orgasmo. Afora o orgasmo, não vejo nenhum motivo interessante pras mulheres usarem. Primeiro: salto alto lasca a postura, progressiva e paulatinamente após anos de uso com o objetivo de “conservá-la”. Segundo: mulheres de salto são uma presa fácil pra assaltantes, estupradores e mascus. Terceiro: são horríveis pra praticar atividade física. (Pra minha alegria, uma aluna da academia onde faço dança de salão mudou de idéia depois que reprovei a meia-pata dela, tanto pelo tamanho do salto quanto pelo pouco contato entre o chão e a ponta dos pés; a probabilidade de ela tropeçar aumentaria enormemente com a altura do calçado.) Quarto: está fora de questão que a difusão de salto alto é o CALÇO da grande távola redonda machista, dando-lhe visibilidade e – supostamente, é claro – impedindo que ela caia.
Voltemos, pois, à foto. Não sei o que a motivou a pensar que eu pensava aquilo sobre as mulheres. Mas, bom, não é isso que o salto dá? Uma opulência inutilizadora? Uma beleza que faz capengar? Um envergonhamento a longo prazo, diretamente proporcional a seu tamanho e à cafonice que, muitas vezes, orienta seu uso? E é nisso tudo que consiste a ironia que a garota soube adivinhar enquanto conversávamos (sem que eu tenha dado algum motivo explícito pra isso). Ironicamente, vou acabar concordando com a opinião da garota a meu respeito. Vou soltar um “hã-rã” bem blasé e me conformar com meu pouco valor enquanto homem. Infelizmente, tem mulé que se dobra mesmo ao adestramento social, pelo comodismo que o comportamento de rebanho lhe dá. A grande diferença é que eu realmente espero que os saltos (entre outras coisas) sejam aposentados.
(1) Pasqualetes, não me corrijam, por obséquio. Respeitem meu mau gosto gramatical.