Um amigo me disse: “Rosalba ainda vai se reeleger só com essa história de copa do mundo no RN. Tu vai ver o oba-oba que vão fazer”.
Será, fiquei me perguntando…
Elaborei uma resposta.
Penso que há alguns pressupostos incorretos por trás de tal perspectiva:
Primeiro – ainda é muito forte a ideia de que o “povo” é massa de manobra. Que qualquer história cola. Me parece que a mudança na estratificação social, aumento da escolaridade e as redes sociais, que permitem a rápida circulação de informação – inclusive, às informações inconvenientes para o status quo -, tornam a pintura do melhor dos mundos improvável.
Para a copa gerar um impacto extraordinário na cabeça do eleitor, ela terá de, me desculpe a redundância, produzir um impacto extraordinário. Não há outro meio.
Segundo – A frase: “tu vai ver o oba-oba que vão fazer” parte do ponto de vista de que jornal, blog, jornalista, formador de opinião, publicidade revertem uma condição adversa.
É o erro de imaginar que o problema de uma gestão é sempre de comunicação. Nunca político. Nunca voltado para as escolhas de quem (ou o quê) a administração resolver atender e de que maneira.
Micarla e Rosalba utiliza(ra)m tudo o que há de melhor na área da publicidade e o resultado permanece(u) inalterado.
Daí que, pelo modo com que a copa (não) foi discutida, só vejo um futuro se constituindo – o eleitor se sentirá enganado.
Na teoria, venderam a tese de que seriam 50 anos em 05 (mas não falaram para quem).
Ora, a prática não poderia ser mais perversa.
01) Dois equipamentos públicos derrubados (machadinho e machadão). Até agora não entendi porque não reformaram o machadão.
Será que alguém acredita na ideia de que era preciso demolir o antigo castelão e fazer um novo? Alguém crê em Papai Noel, ou fecha a janela com medo de ser abduzido por um ET?
02) As obras de mobilidade não vêm mais. Aquela tão sonhada transformação se tornou uma grande piada de mal gosto.
Claro. Vão pintar canteiro, recapear uma rua ou outra e alardear tais ações como “obras da copa”. Mas, mais uma vez, o eleitor não é trouxa.
De concreto, só a dívida e dois equipamentos derrubados.
E o Arena das Dunas, a não ser que algum cidadão tenha a fé de que receberemos shows de Madonna, Pink Floyd, etc, virará um grande elefante branco.
Com ABC e América mandando seus jogos em suas arenas, para futebol ele também não vai servir.
Ah!… Tem ainda a lorota da transformação da economia do Rio Grande do Norte. Preciso debater esse conto da carochinha?
É bom, né…
Para pensar a conjuntura que está por vir é interessante não partir de fantasias, suposições. A ferramenta comparativa ajuda muito mais.
Nesse sentido, convido a olhar para a África. O comércio, para além do momento do evento, teve o salto esperado, vendido, sonhado?
O que se escuta na imprensa é que não. Elefantes brancos se somam às dívidas contraídas. Em alguns casos, ainda conforme os jornais internacionais, há cidades africanas que cogitam derrubar os estádios, porque o custo de manutenção simplesmente não compensa.
É legal não esquecer que todo o comércio do perímetro que cobre o evento será de propriedade da FIFA. Não comparem a copa com o carnatal. Apesar de ambos ocorrerem no mesmo bairro, a relação será completamente diversa.
Portanto, o eleitor não será iludido com dois jogos. O voto é o resultado de uma síntese de múltiplas determinações. Ele tenderá muito mais a levar em consideração aquilo que é “urgência material” para ele – uma copa de futebol não irá se sobrepor às questões de saúde, segurança, educação, emprego, etc.
É por tudo isso que a copa não desempenhará o papel eleitoral benéfico atribuído a ela. Se interferir, será negativamente. Será pela expectativa transmutada em frustração.
É aguardar para conferir.