A condição em que Carlos Eduardo assume a prefeitura do Natal é de uma faca de dois gumes.
A primeira possibilidade é a de criar imensas expectativas e frustar, posteriormente, os cidadãos.
Micarla e Rosalba partiram por esse caminho e a alta votação vinda das urnas rapidamente se converteu em acachampantes reprovações nas pesquisas de opinião. Paga(ra)m por promessas inexequíveis. Venderam um mundo verde-rosa difícil de se realizar na prática.
Alias, como esquecer do slogan de Micarla durante a campanha, repetido inúmeras vezes, que, com ela, “Natal poderia muito mais”?
Como não lembrar do “Fazer acontecer” da “Rosa”?
O que encarnou um desejo de mudança no passado, hoje figura como piada de péssimo gosto.
Me parece que o futuro prefeito já trabalha para arrefecer os ânimos, ao enfatizar que o primeiro ano será de dificuldades. Em suas falas, não perde a oportunidade de salientar o rombo financeiro deixado pela borboleta.
Portanto, a tendência é de não incorrer no erro de sua antecessora.
A segunda possibilidade, para mim a mais provável, será a de reverter o total cenário de caos. Afinal, pior do que está não fica.
E aí, no realismo político, a situação é positiva.
Carlos Eduardo terá um tempo de respiro.
Mais. Sei que é difícil ouvir isso, principalmente para quem estar sem receber, mas se ele pegar a prefeitura com os salários atrasados e conseguir reestabelecer o pagamento dos vencimentos, já entrará criando um ambiente favorável em torno de sua capacidade de gestão.
Wilma de Faria herdou a prefeitura de Aldo Tinoco nessa situação parcelou e quitou tudo, ganhando a simpatia dos servidores.
O lixo também não é coletado. Se ele voltar a recolhê-lo, mais um ponto para ele e sua equipe.
O ano letivo está, praticamente, comprometido. Se normalizar, sairá bem na fita.
Sinceridade maquiaveliana (diferente de maquiavélico, termo utilizado para denotar uma certa maldade política).
Você pode não ter votado nele, mas é fato que Carlos Eduardo reuniu o que há de melhor na composição do seu secretariado – profissionais vindos da Universidade e/ou de administrações anteriores. Ao contrário da ex-prefeita, não trabalhará com quadros verdes.
A abacaxi é enorme, mas ele se arma para conseguir descascá-lo.
É por esses aspectos que a situação política para ele se desenha como positiva. Afinal, qual o político que não quer deixar a marca de ter resgatado uma cidade?! Quem não sonha representar um marco de mudança?
Além disso, apesar do tempo de calmaria não ser infinito, ele terá de três a seis meses de “paz” para voltar a prestar, plenamente, os serviços básicos que a cidade precisa.
Se conseguir, já criará clima de opinião diverso do que está posto e voará em céu de brigadeiro. Carlos Eduardo assume em uma condição que permite capitalização política – pois quanto mais alterar a situação, mais significativa será a diferença que ele institucionalizará em relação a sua antecessora.
E o resgate da alta estima dos natalenses representará o fortalecimento de seu grupo no RN.
É aguardar pra ver.