Alan Lacerda é o cara que mais saca de política que conheço. Para o bem da blogosfera, além da docência, o professor da UFRN também está com um blog, que é pura análise.
Aproveito a oportunidade e veiculo na Carta um de seus textos.
Vale a pena conferir!
Do Blog do Professor Alan Lacerda, lordedaniel.blogspot.com.br
A pergunta no título do artigo pode parecer uma provocação sem fundamento. Afinal, como não poderia existir o fenômeno da liderança do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-10)? Como não reconhecer a influência pervasiva de suas orientações no atual governo e a força de sua presença nas decisões do PT?
Na interpretação mais favorável, o lulismo é visto como o resultado de políticas direcionadas para os mais pobres que garantiram a ampliação da classe média e reduziram a pobreza extrema a níveis recordes. Esse movimento criou um laço de lealdade de vasta camada da população com Lula, sem que fosse realizado um rompimento de seu governo com políticas de contenção fiscal e inflacionária.
Na interpretação mais crítica, o lulismo é visto como perigosa ressurgência populista, ao fomentar o culto da personalidade do ex-presidente e a complacência com seus erros. A relativa “ortodoxia” no campo econômico mascararia a reprodução proto-autoritária do poder do PT e de seu líder maior via políticas assistencialistas.
O resultado, em ambas as visões, está na própria reeleição do presidente em 2006 e de sua candidata a presidente em 2010 por margens expressivas.
E, no entanto, Lula tem perdido várias eleições não-presidenciais nas quais compareceu em atos de campanha. Exemplos não faltam, inclusive em cidades nas quais o presidente foi bem votado quando de sua reeleição: Natal com Fátima Bezerra (PT) em 2008, Manaus com Vanessa Grazziotin (PCdoB) em 2012. Toda a sua liderança não impediu a vitória em 2010 do PSDB em Minas Gerais e São Paulo.
Estes fatos sugerem que o conceito de lulismo padece de fragilidade conhecida: não podemos mensurá-lo com nenhuma precisão. Há cidades e estados em que Lula fez campanha e ganhou; há cidades e estados em que Lula fez campanha e perdeu. O que podemos de fato medir? O que podemos de fato comprovar que existe? A elevada avaliação positiva do presidente Lula ao longo de seu governo, presente nas séries históricas de institutos como o Ibope, Sensus e Datafolha. E este é um indicador clássico de análise política, com o qual é possível, em conjunto com a situação macroeconômica, compreender resultados eleitorais.
O irônico poderia dizer, imitando conhecido sotaque estrangeiro existente no Brasil: “lulismo, isso non ecziste; presidente bem avaliado, isso ecziste”.