A Sociedade Ameaçada Pela Seleção Natural
Por Ivenio Hermes
Cronologia
No mundo animal não há traição, não há crueldade, o que há é o puro instinto de sobrevivência que faz com que os mais fracos, ou aqueles menos preparados para o enfrentamento do cotidiano, sejam selecionados para perecer. É a seleção natural.
Essa lei da natureza faz com que mães jacarés, caso não ache outra fonte de energia, comam alguns dos filhotes para obter energia para salvar o resto da ninhada. Essa mesma lei determinou que a mamãe de um pardal o derrubasse do ninho, pois durante sua saída do ovo, a perninha direita quebrou e ele estava definhando devagar e contaminado os irmãos com a infecção da perna.
Na sociedade hodierna temos leis que regulam a convivência dos seres humanos que, dotados de intelecto superior, não precisam tomar atitudes que são grotescas e cruéis entre seres que raciocinam.
Seria totalmente inaceitável e desumano que as famílias se livrassem dos mais fracos, ou que o Estado deixasse as minorias serem extintas pelo simples fato de considerá-las diferentes negativamente.
Se em nossa sociedade fosse aceita a seleção natural, teríamos perdido uma das maiores inteligências já conhecidas, a do astrofísico britânico Stephen Hawking.
Contudo, agindo de acordo com a lei da seleção natural, a gestão de segurança pública potiguar deixa de proteger o ninho de seus filhos, relegando-os a mercê do inimigo natural do homem: o próprio homem.
A sociedade potiguar vive na gestão do abandono em quase todas as esferas da administração que elegeu, e famílias perdem seus bens conquistados com sacrifício, perdem seu tão necessário sossego, perdem a vida de seus entes queridos e até de policiais, cuja justiça nunca é feita e nem buscada com afinco pela falta do aparelhamento policial e recurso humano.
A Ausência da Intervenção Humana
O pequeno pardal atirado para fora do ninho por sua própria mãe, talvez morresse de desgosto e pela dor do abandono que minariam suas forças, deixando-o mais suscetível à infecção.
Porém, um grupo de pessoas resolveram ser gestores daquela situação que, embora fosse normal no mundo animal, no dos humanos, em um Estado sério, seria considerado um ato punível por lei. Esses gestores, não sabiam o que fazer, mas recolheram o animal pardal e o limparam e o abrigaram, dando ao pequeno especial, um pouco de pão umedecido em água que foi completamente sobejado.
O pardal parecia entender que ia morrer.
Graças aos gestores sérios e comprometidos com a coisa pública, Stephen Hawking foi protegido daqueles outros humanos predadores ou sem sentimentos que o abandonariam a própria sorte ou jamais investiriam no que o homem que passou a vida estudando e trazendo soluções físicas para alguns enigmas e a gravidade no Universo, pudesse um dia deixar sua cadeira de rodas, à qual estava preso a vida inteira, e flutuar livre, mesmo que somente por alguns minutos, em gravidade zero.
Os gestores incompetentes e que nada buscam além do benefício próprio através de poder, status e dinheiro, estão perdendo potenciais “Câmaras Cascudos” e “Anatálias Alves” todos os dias em todas as partes do Rio Grande do Norte. A falta de identificação com o problema da segurança pública e a falta de investimento na área, demonstra que não há compromisso e nem respeito aos eleitores que os elegeram, e nem de seus secretários que não mostram respeito ao cargo de confiança em que foram investidos.
Em todos os dias existem perdas substanciais nas famílias potiguares. Crimes que não são registrados como a tentativa de assalto à casa de uma bibliotecária de uma famosa instituição de ensino de Natal, que não foi levado a cabo devido à reação da filha, que juntamente com a mãe, enfrentaram o ladrão armado, possivelmente com um simulacro (arma de brinquedo que aparenta arma de verdade).
A maior revolta da bibliotecária, sua família e amigos, é que ela ligou para a Polícia Militar que anunciou estar se deslocando para o local, e desde quinta-feira, dia 29 de novembro de 2012, ainda não chegou. Sabedora de que seu relato junto a uma Polícia Judiciária ineficaz não resultaria em nenhuma ação positiva, a bibliotecária que sofre por estar adoentada e frágil, nem procurou fazer o registro da ocorrência.
Ela entendeu que não possuía nenhuma proteção e nem conseguiria auxilio da segurança pública potiguar, e antes que fosse eliminada pela seleção natural instalada no Rio Grande do Norte, ela reagiu. Em sua vizinhança, esse seria o oitavo assalto nos últimos 30 dias.
Assim como o pequeno pardal, ela está abandonada por aqueles que a deveriam proteger e sem a sorte do passarinho de encontrar gestores interessados, ela precisou reagir. Se ela tivesse morrido, seria uma grande perda que somente ampliaria os números da insegurança.
O Compromisso do Amor
Os gestores de segurança do pardal não sabiam mais o que fazer. O animalzinho definhava e parecia sofrer. Eles acreditavam que a perninha já apodrecida poderia ser salva e que se deixassem numa caixa protegida, no local onde caíra, a mãe voltaria a para resgatá-lo.
Assim como a PM não foi auxiliar a bibliotecária e nem a PC pode fazer qualquer coisa, não por culpa das instituições em si, mas de seus gestores diretos e indiretos que não buscam entender o problema, a mamãe-pardal também não viria buscar o filhote.
O pardalzinho, entretanto, estava nas mãos de gestores sérios, que sem saber o que fazer diante daquela situação nova que se lhes apresentava, não mentiram, assumiram que desconheciam e procuram um especialista.
Habituado a lidar com situações como aquela, um senhor cuja experiência dada por Deus, pela vida e pelos estudos, foi consultado sobre o que fazer com pardal especial. Tomando o animal nas mãos e o analisando, indagou se os gestores valorizavam aquela vida e estavam dispostos a cuidar dela, pois a perninha estava mirrada e ele careceria de cuidados especiais pelo resto da sua breve vida.
Stephen Hawking foi valorizado pelos seus pares. Sua vida era tão importante quanto à de qualquer outro ser humano, independente de suas escolhas, de sua etnia e de suas necessidades especiais. Graças ao valor dado ao astrofísico, hoje temos grandes avanços oriundos de sua contribuição.
Os potiguares não são valorizados. Suas vidas não estão seguras e tampouco estão suas propriedades e seus sonhos. A segurança pública do Estado do RN dá vexame quando mostra não conhecer com o que está lidando e demonstra isso com veemência.
A policia civil está esquecida. O secretário de Segurança Pública afirmou diretamente para os suplentes que nem sabia o que eles representavam. Ou ele mentiu ao conversar com Flávio Fagundes, presidente da comissão dos suplentes do concurso da polícia civil de 2009 ou ele falou a verdade dando mostras de que sua assessoria não o subsidia com dados necessários para exercer o cargo público e, portanto, ele não passa para instâncias superiores, as soluções que ele é capaz de obter.
A polícia militar vive caos administrativo até no lançamento de seus salários e diárias, desmotivando o policial ao empenho profissional. Como polícia ostensiva e alvo de ações do crime organizado, a falta de equipamento de proteção individual e de reação proporcional à agressão torna esses homens vítimas do próprio Estado que os empregou para proteger e servir.
O cidadão potiguar civil ou pertencente a força policial que pretenda pertencer, estão abandonados. O pardal ainda está na vantagem. Seus protetores obtiveram uma assessoria séria e que também queria o bem do animal selecionado para morrer.
O Futuro do Pardal
Indagados sobre seu compromisso e valorização da vida do pardalzinho, os gestores, que já o chamavam de “mascote da rua”, face ao seu engajamento em cuidar daquela pequena vida, responderam que fariam tudo pelo pardal.
O senhor encheu a boca d’água e como a mamãe-pardal faria, deu água e comida ao pequeno ser que, faminto, abriu a boca e se alimentou até fartar-se. Parcialmente recuperado, o animal pareceu querer voar, teve ânimo e soltou um pequeno pio. A perna apodrecida, contudo, o mataria de infecção.
Assim, acariciando o pequeno ser, o senhor limpou toda a perninha com álcool gel e num gesto aparentemente cruel, mas necessário para salvar aquela vida, amputou a parte gangrenada e ferida. O animal agora tinha chances reais de escapar.
Aos 65 anos, Stephen Hawking, totalmente paralisado por causa de uma doença degenerativa, dependendo até de um computador e de um sintetizador vocal para falar, flutuou livre em gravidade zero.
Tanto Hawking quanto o pardal foram bem cuidados e tiveram a chance de sobreviver. O cientista contribuiu muito para a evolução das ciências espaciais e outras ciências correlatas.
O pardalzinho, assim como a sociedade potiguar, depende de um compromisso honesto com seu povo e valorativo do ser humano. Destarte, como muitos pardais que são derrubados do ninho e não encontram almas caridosas e empenhadas em salvá-los, ou cujo fato as autoridades nem tomaram conhecimento, o povo potiguar possui um futuro incerto quanto ao respeito ao seu direito de ter uma segurança pública eficaz.
REFERÊNCA
AFP Agência Mundial de Informação. Stephen Hawking deixa de lado a cadeira de rodas para experimentar a gravidade. UOL News. Disponível em < http://migre.me/cdoPj > Publicado em 26 Abr. 2007.