Uma carapuça para alguns vestirem no corpo inteiro
Por Beth Michel
Depois de uma prolongada ausência (justificada por vários percalços que não vêm ao caso) nas páginas dos colegas Blogueiros – que generosamente aceitam publicar meus atrevimentos “escrivinhatórios”; tratei de arranjar um tempinho para bater ponto, antes que meus queridos editores e parcos leitores me releguem ao olvido.
Uma das coisas que não deixei de fazer neste intervalo silente foi me manter informada dos escritos dos coleguinhas, e vez por outra até teci alguns comentários sobre os que me chamaram a atenção e infelizmente de maneira desagradável. Hoje percebi que a maioria destes comentários se referia a “noticias plantadas”, ou até totalmente inverídicas, ou que simplesmente não obedeciam às regras básicas do bom jornalismo informativo. Mesmo não sendo profissional da área, conheço estas regrinhas de ouro (ou melhor: de molibdênio), e que suponho que devam ser ensinadas nos bancos universitários. Na verdade são regras bem simples e fáceis de memorizar, que consistem em formular as seguintes perguntas antes de dar uma notícia (fato) a público. São elas: Quem? O que? Onde? Quando? – não necessariamente nesta ordem, mas obrigatoriamente com respostas objetivas e comprováveis. E evidentemente que sejam feitas as mesmas perguntas a todos os lados envolvidos.
Aí vem um intrometido e espaçoso qualquer, e me acusa de ter esquecido o “por quê?”, e me pergunta o porquê de eu não ter colocado o “por quê?” na lista, é porque o “por quê?” não é passível de uma comprovação inequívoca.
Fui clara? Não? Certo! Então vamos lá!
O “por quê?” é uma questão subjetiva; e por assim dizer mutável, ou que depende de interpretações, dependendo tanto de quem pergunta como de quem responde. E, além disso, permite inúmeras variáveis, valendo até um “porque sim!” típico das senhoras modernas que alegam a TPM para dar este tipo de resposta. Sem falar nos intransigentes de plantão que inevitavelmente respondem com um nauseabundo: “Porque não!”. Ou aquele malandro que te mete um ameaçador: “Como assim: ‘por quê’?”
O “porque” não é factual, nem pode ser identificado ou medido como as outras perguntas supramencionadas. O “porque” equivale a motivação e “latu senso” opinião, crítica, análise, interpretação, simpatia… E tanto do entrevistado como do entrevistador, e que por sua vez darão ensejo a que o público leitor (ouvinte ou telespectador) forme também suas próprias conclusões a respeito dos tais “por quês?”
Quando um jornalista ou “formador de opinião” – esta expressão é mais uma invencionice hodierna, posto que ninguém “forma” a opinião de outrem. Bem, quando os tais informantes se metem a dar os “porquês” de um fato, já não é mais notícia e sim “pitaco”. E isto não é “formar opinião” e sim “deformar” a realidade! E nem me venham perguntar os “por quês?” da “mídia” partir para este viés. Que isto aí já entra em outra seara, e que não caberia nem em uma bula de remédio tarja preta.
Em tempos mais sensatos e responsáveis, a imprensa colocava um quadro especial – fora do “corpo da notícia”- a opinião da redação sobre esta ou aquela noticia; e isto era seguido até mesmo pela “imprensa marrom”, pasmem! Mas, com a celeridade e ampliação advinda da “globalização”, esta e muitas outras boas práticas foram alijadas do processo informativo.
E assim pensando e escrevendo, cheguei a espantosa conclusão que a “evolução dos meios de comunicação” produziu um efeito colateral pra lá de nefasto: a imprensa do Século XXI involuiu para a mais tenra infância… Aquela fase terrível em que os filhos de 3 ou 4 anos infernizam pais, mães, babás, professores com os “por quês?” de tudo e de nada.
Agora fico me perguntando o que acontecerá daqui a uns 10 anos – caso continuemos adotando os mesmos modos e ritmo? Prevejo um momento em que voltaremos aos balbucios “ta-ti-bi-ta-ti” dos primeiros anos para finalmente nos resumirmos aos grunhidos da idade da pedra. Que pena! Ou quem sabe, se não tomar conhecimento do que acontece lá em caixa prego, não nos torne um pouco mais interessados naquilo que acontece debaixo dos nossos narizes e não temos tempo para notar, pois estamos demasiadamente ocupados em prestar atenção nos “porquês” alheios e inócuos que a imprensa globalizada nos mete cérebro adentro?
(*)Artista plástica, escritora, membro do Blog do Ivenio Hermes, além de possuir seu próprio site. Veja o perfil de Beth Michel em http://bit.ly/U2Ll08