Vivemos em uma sociedade profundamente desigual, pautada na exploração de uma minoria sobre uma grande maioria. Essa maioria é a classe trabalhadora que cotidianamente é alvo de opressões e processos de alienação para manter a máquina que move o que é essencial para os capitalistas: o lucro. Desse modo, tudo que possibilite a manutenção das desigualdades e que proteja a acumulação de capital é alimentado cotidianamente por diversos meios. Uma das opressões legitimadas pelas instituições e aparelhos do capitalismo é o machismo, expressado e propagado violentamente até sua naturalização.
A desigualdade de gênero arraigada em nossa sociedade, alicerçada pelo patriarcado, sexismo e padrões heteronormativos impede que homens e mulheres se unam por laços de solidariedade e companheirismo contra o mesmo inimigo: o capital. Fácil notar o quanto é benéfico para os capitalistas que se mantenham relações desiguais de gênero, dividindo a classe trabalhadora. As violências contra às mulheres, seja expressa nas representações midiáticas, nas letras de músicas e nos casos de agressões, estupros e homicídios, reforçam, a cada dia, a condição da mulher enquanto oprimida, atingindo sua auto-estima, sua dignidade e muitas vezes, ceifando suas vidas.
A maneira como é vivenciada a violência pode sofrer influência de diferentes fatores, étnicos, culturais, econômicos e sexuais, que podem ser combinados entre si. Se formos colocar numa pirâmide, a mulher negra, pobre e lésbica estará na base dos processos de preconceito, opressão e exploração. Pois o patriarcado, racismo e homofobia estão conectados com a condição de classe e favorecem que essa mulher esteja numa posição de maior fragilidade, o que é fundamental para que se mantenham as desigualdades, sem contestações à dominação patriarcal.
É válido ressaltar que para uma transformação radical da sociedade, é preciso que o ideário feminista esteja presente e que suas propostas estejam claras para homens e mulheres. Compreendendo que a luta feminista não se trata de inverter os papéis de gênero e sim está fundamentada na conquista da igualdade e dignidade para todas as mulheres, sem distinções.
A história nos mostra o quanto a luta das mulheres organizadas foram eficazes para conquistas significativas referentes à participação política, inserção nos diversos setores econômicos, direitos reprodutivos e liberdade sexual. No entanto, todas essas conquistas não foram suficientes para frear de uma vez por todas as manifestações da ideologia machista.
Os dados sobre os casos de violência contra à mulher ainda são alarmantes e crescentes. Segundo o “caderno complementar” do Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, 91 mil mulheres foram assassinadas no Brasil nos últimos 30 anos. Aproximadamente 70% das agressões acontecem em ambiente doméstico e 80% dos casos da violência contra as mulheres são praticadas pelo maridos, companheir@skk ou namorad@s ou ex-namorad@s.
A violência física sempre é encorajada por violências simbólicas propagadas nos meios de comunicação, que nos dizem que somos coisas, meros objetos para a satisfação e posse masculina. Outra informação alarmante é que são nos lares (ambiente que por muito tempo foi nos destinado como “seguro”) que ocorrem os homicídios femininos, correspondendo à 40% dos casos.
O estado do Rio Grande do Norte está ocupando a 17ª posição entre os estados com maiores índices de feminicídios (homicídios motivados pela desigualdade de gênero), Natal e Mossoró são as cidades com as maiores médias de feminicídios do estado. Sem dúvida, a Lei Maria da Penha representa um avanço, porém o atendimento e proteção às vítimas precisam ser qualificados, assim como o aumento das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM). Hoje no Brasil, existem apenas 466 delegacias especializadas, que atendem menos de 10% dos municípios brasileiros. É necessária a criação de mecanismos assistenciais como Casas Abrigo, profissionais capacitad@s e serviços de saúde.
Também é necessário a apuração de dados estatísticos, como recorte de raça, orientação sexual, renda etc., agravadas pela falta de políticas de promoção de cidadania para as mulheres nos estados e municípios. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da zona Sul de Natal, localizada no bairro da Ribeira, que atende também as zonas leste e oeste, possui mais de mil inquéritos pendentes e cerca de 350 ordens judiciais que ainda não foram cumpridas. Além disso, falta efetivo e estrutura para o atendimento.
É preciso denunciar o descaso em que a DEAM-Zona Sul se encontra, cobrar pela ampliação dos serviços públicos de atendimento à mulher. Coragem é a palavra para nós, mulheres da Frente Feminista do Levante popular da juventude-RN, que desejamos fortalecer a luta feminista, nos nossos cotidianos e publicamente, construindo através da igualdade e justiça social, um modelo de sociedade que não se ampare nas desigualdades de gênero e nas diversas opressões.
Para isso, chamamos à luta todos e todas que queiram construir um mundo mais digno para todas as mulheres, no dia 27 de novembro, terça-feira, em frente à DEAM-Zona Sul, convidamos todas as vozes indignadas e denúncias para lutar contra o machismo na nossa cidade!
Ato “Levante-se pela vida das mulheres”
QUANDO? Terça, 27 de novembro, às 9h
ONDE? Em frente à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher-DEAM
Rua Frei Miguelinho, N º 113-Ribeira (na rua da Casa da Ribeira)
PELA VIDA DAS MULHERES!!!
MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!
FRENTE FEMISNISTA LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE
O Levante popular da juventude-RN realizará uma ação alusiva ao dia internacional pela não violência à mulher, lembrado no dia 25 de novembro. A ação, que ocorrerá em mais 17 estados, pretende denunciar e dar visibilidade aos números alarmantes e crescentes de feminicídios. Aqui em Natal, o levante, junto à várias organizações feministas, vem tornar público e realizar um ato amanhã (dia 27/11) às 9h em frente à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher-DEAM, Ribeira. Neste ato, haverá a leitura de uma Carta Denúncia, elaborada pelo CRDH em parceria com Levante Popular da Juventude e diversos articulações feministas, sobre o descaso público com DEAM´s no Estado.