É preciso cultivar um ponto de vista menos ufanista e mais questionador em relação aos sites de vendas promocionais. Em que pese os preços atrativos e as facilidades oferecidas, tais espaços virtuais também são um meio de ampliar o apelo para o consumo, pois que representam um avanço das práticas de compra e venda. Uma colonização do “mundo da vida” por parte do mercado.
No capitalismo, os seres humanos satisfazem às suas necessidades a partir da aquisição de mercadorias, disse certa vez o pensador Karl Marx. Porém, a interação entre o homem e a mercadoria não se dá, necessariamente, de forma equilibrada. O “capital”, buscando sua reprodução, gera inúmeras estratégias no sentido de forjar “novas” necessidades, de fundar o desejo – neurótico, diriam os teóricos da Escola de Frankfurt – por mais consumo.
O acesso diário aos sites promocionais pode ajudar a institucionalizar este desejo, a produzir uma interação de maior avanço do mercado para áreas até então não localizadas por “ele” (falo em mercado como um conjunto de práticas e não como uma entidade dotada de vida própria). As promoções atrativas e apelatórias facilitam a compra alicerçada na ideia de que se está fazendo um bom negócio, criando, ao mesmo tempo, uma relação desmensurada com a aquisição de mercadorias. Como no filme “O clube da luta”, em que o personagem principal, antes de promover uma virada radical em sua vida, passava às noites, lendo catálogos e tentando “preencher” o seu vazio, comprando sofás e artigos para terminar a decoração de sua casa.
Há pessoas que entram nos sites promocionais diariamente. É como se todo dia o indivíduo criasse a rotina de andar por um shopping, para saber se tem algo vantajoso a ser adquirido. Meio “doentio”, não?!
Nas conversas mais banais os “imperdíveis” valores pagos por um produto/serviço estão lá se fazendo presente. Os momentos de fruição (uma conversa num bar, em casa, etc) são monopolizados por diálogos sobre: “você viu o preço daquilo no site tal”. E continua: “eu comprei só pelo preço. Não se perde. Um dia eu uso”. No final, ao invés de servir o indivíduo, o sujeito acaba servindo ao consumo e a pretensa noção de liberdade/comodidade se desmancha rapidamente no ar.