Do Blog do Daniel Dantas
Liberdade de expressão é um dos elementos mais caros à democracia liberal e moderna. Do ponto de vista das grandes organizações de mídia, ela se traveste no conceito ideológico da liberdade de imprensa.
Uma liberdade de imprensa que represente a liberdade de expressão é fundamental à vivência democrática. Mas estamos longe de vivermos isso no mundo contemporâneo.
No fim de maio, logo de comecei a publicar as informações acerca do #Caixa2doDEMnoRN, recebi uma ligação interessada no tema por parte de um repórter do jornal O Globo. Era uma sexta-feira e eu estava em Salvador. O repórter informava que iria a Goiânia no fim de semana cumprir pautas relativas a Cachoeira, mas aprofundaria a matéria na semana seguinte.
Imaginei que os poderosos do RN poderiam derrubar a pauta. Por isso, calculei que tornar público o interesse de um representante da grande imprensa poderia preservar as chances de publicação da matéria.
Ledo engano.
A pauta foi derrubada. Semanas depois, fui informado de que a pauta foi derrubada devido a uma ação deliberada do deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB). Consultei o repórter que disse que iria apurar. A informação nunca foi negada.
Falei sobre o fato neste post de 7 de junho passado.
No domingo passado, voltei a falar com o mesmo repórter. Seu interesse: a participação do próprio Henrique Alves nos esquemas desvendados pela Operação Assepsia. Ali, temos a ação clara de Cláudio Varela, identificado como lobista de Henrique. Cláudio articula um encontro entre Henrique e Tufi Meres. Tempos depois, o próprio Tufi relata em e-mail ter se encontrado com Henrique Alves para acertar a administração do Hospital da Mulher em Mossoró. Por quatro meses de contrato, a Associação Marca de Tufi Meres recebeu R$ 16 milhões.
O repórter conduziu sua apuração na segunda-feira. No fim da manhã, mandou-me um SMS: “Vamos dar a matéria amanhã”. Henrique havia negado qualquer contato com Cláudio Varela – que, segundo consta da investigação, teria um cargo no Ministério da Previdência – e, mesmo diante do e-mail de Tufi Meres, negou ter se encontrado com o dono da Marca.
A matéria não saiu.
Ontem pela manhã o repórter se disse puto e que iriam colocar ao menos no online. Depois explicou tratar-se de um mal entendido. “Vamos torcer para que saia amanhã”, disse.
E novamente não saiu.
Um colega da grande imprensa me disse dias desses que Henrique Alves não tem envergadura para se blindar. Não estou bem certo. Pelo menos no caso de O Globo. A experiência mostra um placar de 2 a 0 em favor de Henrique.
Mas uma vez o jornal derrubou uma pauta desfavorável ao deputado.
Mesmo o veículo do colega que afirmou faltar envergadura para que Henrique fosse blindado não se dispôs a fazer a pauta – ainda que tenha considerado relevante.
A esperança que resta é o foragido Tufi Meres.
Segundo informações que circulam, cansado de fugir Tufi estaria disposto a abrir o bico para o Ministério Público num acordo de colaboração premiada. Se Tufi falar pode derrubar a cúpula do PMDB – aqui e no Rio de Janeiro. Aguardar se o que dizem a respeito das intenções de Tufi Meres se confirma.