Estou acompanhando, caros leitores e debatedores da Carta Potiguar, a ocupação da reitoria da UFRN por parte de um pequeno grupo de alunos e não compartilho das análises que atribuem positividade ao ato. Discordo também de um certo afago na alma que alguns não deixam de sentir, e não temem verbalizar, quando se vêem diante de uma ação coletiva, que seria a materialização romântica de uma suposta mística e irracional “potência subterrânea”.
É preciso lembrar que um alicerce de diálogo já foi estabelecido – a reitora institucionalizou uma comissão, com amplos poderes, para investigar os contratos questionados, que estão publicados no portal da universidade, a segurança terceirizada da UFRN, além de outros aspectos levantados. A maioria dos componentes da comissão é da oposição ao grupo da prof(a) Ângela Paiva, inclusive.
Ora, a ocupação da reitoria só teria legitimidade, se a instituição não tivesse efetivado o seu papel de, através de regras democráticas – cultivamos respeito por elas, não?! –, permitir amplo espaço ao contraditório, canais para a oposição se expressar e, se achar conveniente, indagar a atual gestão naquilo que acreditar ser relevante. Mas não é, nem de longe, o caso.
O que motiva os alunos milicianos é uma certa tentativa de subverter a lógica de legitimação acadêmica, que parece não agradá-los. Há um desprezo em relação à universidade, que se expressa nos ataques ressentidos contra quem eles enquadram como “intelectuais de gabinete”, “conservadores”, “conformistas”. O descontentamento diz respeito aos meios acadêmicos de crescimento na instituição. A luta é para subverter a lógica que valida os “intelectuais de gabinete” e endossar o perfil de discente, que seria o do “revolucionário”. Aquele que repudia a “teoria”, como no comercial da UnP, em favor de uma “prática” capaz de formar uma visão ampliada e engajada sobre o mundo. O deboche canalizado contra quem gosta de livros é a consequência. É o critério político esmagando o do desempenho. Este é o real pano de fundo sociológico da disputa. Daí toda a boçalidade estudantil, que é desesperadamente exposta, de alunos que se apresentam como unidades de resistência ao “poder”, imitando, conforme pode ser visto em relatos postados na internet, a gesticulação, a fala e os trejeitos dos atores dos filmes de cadeia e de crime organizado brasileiros (http://blogdoedmilsonlopes.blogspot.com.br/2012/11/a-estetica-do-crime-na-invasao-da.html).
O debate, que deve ser travado sem medo, tem de se efetivar em esferas minimamente democráticas e com regras básicas de diálogo. E é justamente o que os alunos que ocupam a reitoria e seus mantenedores (PSOL, Sintest, Pstu, etc) não prezam. Como discutir com atores que, sequer, sabem ouvir? O primeiro pilar fundamental de uma conversa é assegurar o direito de fala do interlocutor. Nem isso eles respeitam. Querem ser ouvidos – e estão sendo -, mas ligam uma sirene quando o opositor vai expressar seus pontos de vista.
O “movimento” faz uso de táticas autoritárias, não devemos ter medo de dizer. Não é porque são alunos e estão lutando por um fim supostamente superior, que podem tudo. A busca pelo bem supremo já serviu de justificativa para as maiores barbaridades. Eles picham o patrimônio público, achincalham quem discorda e não têm o menor pudor de sustentar uma pauta antiacadêmica.
É impossível enxergar como progressista uma atuação que usa da violência como estratégia política e utiliza a intimidação como maneira de desqualificar a instituição e seus representantes. Isto tem nome: fascismo. Mais. Não é reflexivo, nem muito menos crítico; em suma, não merece vingar na universidade.