Foram vários os alunos que não conseguiram chegar no horário de prova para o ENEM. Milhares foram desclassificados sem sequer fazer a prova.
Após este acontecimento, muitos nas redes sociais começaram a “reproduzir” uma série de afirmações querendo nos convencer que a culpa do “atraso” é do indivíduo, que ele é o completo culpado por tudo e que deve e merece ser penalizado por sua irresponsabilidade ou falta de interesse. A charge acima expressa bem o “ideal” repassado por milhares através de correntes nas redes sociais.
Porém, não há como concordar tais afirmações ou com este tipo de humor que tenta colocar toda culpa no indivíduo e, além de descontextualizar tudo, deixa livre a classe política de sua parcela de culpa. Na realidade estas correntes são um tipo de “falsa lógica”. Nos guiam por uma falsa lógica para chegar a resultados que são falsos, mas parecem verdadeiros, já que possuem um bom “raciocínio lógico”.
Tentemos analisar o quadrinho e seus devidos contextos:
Primeiramente é de se observar que qualquer pessoa pode dormir na fila de um show e no dia seguinte ir para o mesmo cansado e não tendo alimentado-se bem e ainda assim o show será muito bom.
Isto não é possível em provas de concurso como o ENEM. Nestes casos você tem que descansar e estar relaxado, é muito difícil fazer uma boa prova tendo uma noite sem dormir ou não alimentando-se devidamente.
Claro que existem aqueles que saíram de casa faltando pouco tempo para a prova e acabaram ficando de fora. Estes realmente merecem ficar de fora. Mas não podemos invisibilizar um problema “estrutural” em nome da irresponsabilidade de alguns poucos.
Colocar a culpa no aluno frente ao caos que são nossas cidades é simplesmente fazer vista grossa aos desmandes políticos que temos. Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo, deveríamos ter os melhores serviços também, mas não temos. E isso não pode ser “invisibilizado” pelo humor colocando a culpa no indivíduo. Várias pessoas em Natal saíram de casa 9 horas da manhã e mesmo assim tiveram problemas para chegar no horário de prova (meio-dia). O humor serve tanto para fazer críticas como para “desvirtuar” o problema e nos fazer esquecer o que mais nos afeta. Não podemos “excluir” a classe política dos problemas que enfrentamos diariamente. Pagamos impostos e queremos resultados. E um dos resultados é um sistema de mobilidade urbana eficiente.
O Humor também serve para reproduzir preconceitos e invisibilizar desmandes.