Opiniões de uma mente brilhante
Por Ivenio Hermes
O Maior perigo está na mente
Um dos maiores perigos que envolve a liberdade religiosa não está exposto nas vitrines das lojas de armamento, nem nas lojas de bíblias e nem tampouco nas rodas de debate científico, ele está na mente de pessoas cujo poder de argumentação poderoso fomenta outros ao fundamentalismo religioso ou ateísta, provocando um novo embate que extrapola os ambientes de reunião, invade as redes sociais e chega as ruas na forma de violência física e psicológica.
Na contra todos os argumentos antagônicos, um mente brilhante demonstra na teoria e na prática que o convívio com respeito mútuo pode existir, a mente de Rebeca Câmara Alves.
As cores do mundo
Num argumento simples, direto e completamente despido de preconceitos, Rebeca expõe suas opiniões sobre os dois lados da explicação do homem para suas origens.
Para que haja clareza em seus argumentos, ela diferencia o ateu e o ateísta. O ateu é aquele que possui uma convicção íntima de filosofia não religiosa, sendo pragmático de tal forma que prefere pautar sua conduta e sua filosofia de vida no cientificismo e no materialismo. Contudo, o ateísta, é uma espécie de militante da filosofia não espiritualista, ou seja, ateia.
Destarte, o ateu possui sua filosofia sem se importar com a dos outros, enquanto o ateísta é um propagador na comunidade onde vive ou onde possa exercer alguma influência, os ideias nos quais acredita.
Nesta corrente de raciocínio, sob o ponto de vista da militância na difusão de seus pensamentos, não há muita diferença entre o ateísta e aqueles “crentes” que pregam efusivamente querendo convencer a ferro e fogo as pessoas da existência de um deus, ou de qualquer outra religião que pregue a conversão forçada pelo sentimento de euforia.
Para Rebeca o mundo pode ter o colorido das diversas correntes de pensamento, e as cores do mundo podem ser ressaltadas pelo respeito mútuo.
Liberdade de Expressão
“Tolerar igualmente todas as religiões… é o mesmo que ateísmo.” (Papa Leão XIII, “Immortale Dei”)
O respeito à liberdade de expressão é algo muito modernamente conversado, exposto e legitimado nas leis, mas afirmações como a do Papa Leão XIII visava incitar aqueles que estavam sob a fé da igreja que liderava, a não tolerar nem outras religiões e nem ateus.
Rebeca Alves sente-se completamente à vontade em falar daquilo em que acredita. “Sinto-me extremamente segura em falar de minhas convicções não religiosas pela segurança das minhas ideias”, diz a pensadora. Apesar disso, ela ainda sofre os olhares diferenciados, o choque no semblante das pessoas quando se deparam com sua postura e ainda certas piadinhas preconceituosas, o que a deixa mais resignada e fortalecida.
Ela abertamente assume-se ateia em todos os ambientes nos quais interage.
Particularmente, durante a entrevista que ela me concedeu, a palavra “confortabilíssima” que ela usava para definir seu jeito de falar de suas convicções, parecia ser seu próprio sobrenome, ainda mais quando carregado pelo seu sotaque.
Numa inevitável reflexão, não pude deixar de pensar nos milhares de adeptos de determinadas religiões que têm vergonha de admitir a fé que professam.
A Doença do Fundamentalismo
“Fundamentalismo é nunca ter que admitir os próprios erros.”
Rebeca explica que tanto o fundamentalismo filosófico quanto o religioso são agressivos. “O fundamentalista se nega a argumentar, e a negativa a argumentação não é enriquecedora”, diz ela para explicar como as mentes fechadas ao argumento podem ficar incapazes de evoluir.
Durante uma argumentação inteligente, mesmo com opiniões contrárias e respeitadoras, há um enriquecimento do tema, enquanto que num debate com um fundamentalista, ocorre uma construção de barreiras para discussão proveitosa.
O fundamentalista religioso empobrece a religião a qual pertence e aos seus membros, assim como o fundamentalista filosófico faz o mesmo com os que partilham das mesmas ideias.
Os Fieis da Balança
“A verdade em assuntos de religião é simplesmente a opinião que sobreviveu.” [Oscar Wilde (1854-1900), autor anglo-irlandês]
A agressão à liberdade religiosa começa no lar. Isso é algo comum de perceber quando membros de algumas famílias não aceitam as convicções de outro. Eles adotam uma conduta combativa às novas posturas presentes dentro de casa.
A filósofa Rebeca Alves, apresenta explicações no mínimo arrebatadoras para situações vivenciadas no cotidiano. Ela vive a clássica situação tão temida por algumas religiões: o jugo desigual.
Trata-se da relação conjugal entre pessoas de religiões ou filosofias diferentes que pode gerar problemas na vida do casal ou discordância na forma de criar os filhos.
Recentemente, ela foi vista numa igreja católica, sob alguns olhares críticos, alguns dos quais achava que a presença dela ali não era válida, afinal, ela era uma infiel. O motivo de sua presença naquele dia era o batizado do próprio filho.
Contra o batismo de crianças, pois ela acredita que a criança deve atingir uma determinada maturidade e escolher a religião que quer professar, a partir daí passar pelos rituais próprios da fé escolhida, Rebeca se viu dentro de sua própria casa sob o dilema de uma escolha que vinha do lado paterno. Seu marido é católico professante, ou como se diz na linguagem mais corriqueira, católico praticante.
Ela ressalta que foi interessante o fato de o diácono que fez as audiências preliminares precisou consultar o superior dele para saber se ela poderia participar. Ao que lhe foi perguntado se ela teria interesse em participar, fora o fato de se tratar de seu filho, ela mencionou que o ritual que ali seria efetuado não significava nada para ela. Mas alguns familiares começaram a murmurar entre si que se ela participasse, ela não apareceria nas fotos.
Naquele momento, para ela ficou evidente que o que importava eram as fotos, não o ritual do batismo em si. Aquilo a desagradou. Mas relata que algo positivo adveio do episódio. A convivência do bebê com os padrinhos é altamente saudável e eles já demonstraram interesse em investir na educação religiosa do filho, oportunizando a ele o conhecimento religioso que falta nela.
Agora, o filho da professora Rebeca terá a oportunidade de optar entre o ateísmo da mãe e a religiosidade dos padrinhos.
Assim, o jugo desigual precisa de dois fieis para a balança da convivência harmoniosa, segundo as palavras dela mesma: tolerância e diálogo.
Em ambos os sistemas de pesagem, ambos precisam se dosados em grande quantidade, ou seja, muita tolerância e muito diálogo.
Muito ainda a ser dito
“Ubi dubium ibi libertas” (Onde há dúvida há liberdade)
Rebeca Câmara Alves possui muita informação para oferecer. Sua mente ateia é uma máquina de racionar sobre o respeito a liberdade religiosa, materializando ideias que precisam ser lidas por ateus, budistas, católicos, evangélicos, afro-religiosos, adventistas…
Ela é professora, graduada em direito e advogada atuante, pós-graduada em processo, mestranda em educação, e já escreveu dois artigos sobre liberdade religiosa, cujo conteúdo está sendo preparado para serem reproduzidos, quem sabe, nas páginas do Blog do Ivenio e da Carta Potiguar.
Durante a semana, a segunda parte deste artigo trará mais ideias originais e interessantíssimas de Rebeca “Confortabilíssima” Alves, onde ela revelará opiniões pessoais sobre os atuais grupos religiosos mais evidentes no Brasil, como os católicos, adventistas, evangélicos e outros, e ainda encerrará com importantes conselhos para as pessoas que possuem uma mente convicta.