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Carlos Eduardo representa avanço

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Quem não enxerga as diferenças estabelecidas entre os dois candidatos em disputa no segundo turno na eleição de Natal, expressa mais seu posicionamento e o modo como concebe a política do que, propriamente, reflete uma análise mais apurada da realidade. Demonstra pré-noção (negativa) sobre a arena eleitoral, desconsiderando o que está em jogo. Só vê a forma, varrendo para debaixo do tapete o conteúdo da batalha.

Carlos Eduardo e Hermano Morais não representam simplesmente duas candidaturas. Eles apresentam duas percepções de administração pública, cidadania, participação, democracia, saúde, educação, prestação dos serviços públicos. Estão alicerçados em forças sociais e políticas distintas. Em alguns pontos, há maiores convergências; em outros, a divergência se acirra.

Carlos Eduardo enfatiza que vai acabar com as terceirizações na saúde, defende um maior controle por parte da prefeitura do serviço de transporte público, e já esboçou um projeto de maior participação social. Seu arco de alianças começa no centro e termina na esquerda, com o apoio do PDT, PSB, PCdoB, PT, além de outras agremiações.

Enquanto isso, Hermano acredita ser possível terceirizar serviços públicos para a iniciativa privada. Não tocou na questão da entrega das Unidades de Pronto Atendimento as ONGs, relação que se mostrou perniciosa para o erário público, e endossou o aumento das passagens de ônibus por entender que ela estava, em suas próprias palavras, “defasada”. Tem o apoio do DEM, PMDB, PSDB, etc. Seu arco de alianças começa no centro e termina na direita, inclusive, entre setores mais atrasados da sociedade. Não à toa, alimenta pauta moralista sobre aborto, família, religião, etc.

Talvez, para quem não faz uso das ações públicas de saúde, a questão da terceirização da UPA seja algo menor, mas isso representa uma mudança tremenda na forma como o serviço será prestado para os cidadãos que utilizam a Unidade de Pronto Atendimento. Um maior controle dos custos que compõem a passagem de ônibus por parte do poder público pode significar um valor final menos elevado. Como fechar os olhos para isso?

Vale lembrar também que o segundo turno, com os dois candidatos postos, foi montado de modo soberano pelos eleitores de Natal. Carlos Eduardo e Hermano Morais entraram pelas urnas. Em nenhum momento, a democracia foi desrespeitada. Se nossa opção perdeu, que a gente construa, dentro do cenário estabelecido, uma escolha que mais se aproxime dos nossos ideais. Democracia, em que a via eleitoral é um espaço de participação, tem de ser valorizada quando se ganha, mas, sobretudo, quando se perde. Não é possível transformar a sociedade, se eximindo da política. Até porque um candidato vai ser escolhido, quer queiramos ou não.

A política se faz com senso de proporção, nos ensinou certa vez o sociólogo Max Weber. Nem sempre – ou sempre? – é factível obter exatamente aquilo que o ator almeja, o que não significa afirmar que não é possível atingir ganhos processuais e paulatinos.

Não relevar tais fatos é como dizer: não importo quem vença, aceito ser mandado porqualquer um deles. Aceito a separação entre os politicamente ativos, que decidem o destino da cidade; e os demais politicamente passivos, que são levados a reboque. O efeito prático do voto nulo e não participação eleitoral é a afirmação da passividade, ainda que o significado atribuído ao ato de não votar seja distinto.

Dependendo de quem leve, o RN terá o fortalecimento de um projeto político para 2014, 2016. Hermano Morais vencendo, a parada será dura para os Deputados Fernando Mineiro e Fátima Bezerra, reconhecidamente bons parlamentares, renovarem seus mandatos em 2014 ou alçarem voos mais elevados. Teremos o crescimento de uma via mais conservadora, com Henrique Alves, Garibaldi, Rosalba Ciarlini e todo o seu grupo, comandando, ainda mais significativamente, o RN. O próprio refugo micarlista, procurando sobrevida, atua em prol da candidatura de Hermano Morais.

Como desconsiderar todo esse cenário em nome de um suposto alheamento eleitoral? Como não se envolver?A vitória de Carlos Eduardo implicará numa reversão de um quadro em que a direita tomou para si as principais instâncias decisórias da política. Um futuro de renovação em relação ao que está posto.

Poderia me isentar da disputa e dizer: não ajudarei a eleger nenhum dos dois (ainda que, na prática, o alheamento eleitoral traga um resultado prático para a eleição), me mantendo neutro (limpo?). No entanto, prefiro tomar posição aberta sem me render a pseudo-imparcialidades, pois, além de ser mais honesto para com os meus leitores, digo, claramente, que reconheço, baseado naquilo que acredito, sendo também honesto comigo mesmo, que Carlos Eduardo representa avanço.

MALA

Silas Malafaia, que não é bobo, aproveita a eleição para se legitimar como uma liderança religiosa. Porém, o tiro está saindo pela culatra, pelo menos, para os candidatos. Tanto é que o candidato a prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que usou fartamente a pauta moral (religião, aborto, etc) e foi apoiado pelo pastor evangélico, já tratou de esconder o dito cujo. Enquanto isso, Hermano Morais, que trouxe Malafaia a Natal, acha que vai crescer, utilizando semelhante estratégia na eleição de Natal. Difícil.