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Sobre o voto nulo e a questão da afirmação da passividade

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A política se faz com senso de proporção, nos ensinou certa vez a sociólogo Max Weber. Nem sempre – ou sempre? – é factível obter exatamente aquilo que o ator almeja, o que não significa afirmar que não é possível atingir ganhos processuais e paulatinos.

É o que esquece quem prega “voto nulo”. Quem defende a não participação nas eleições, não leva em consideração também a diferença entre os candidatos, que nunca são exatamente iguais. Pelo contrário. Representam forças sociais e políticas distintas.

O caso de Natal é significativo. Em que pese a aparente semelhança, Carlos Eduardo e Hermano apresentam um conjunto de especificidades, que são significativas. Vou esquematizar algumas delas.

Carlos Eduardo

Coalizão de Centro Esquerda: PDT, PCdoB, PSB, PT, etc;

Concepções menos privatista de saúde: disse que irá acabar com a terceirização nas Unidades de Pronto Atendimento, que se mostraram perniciosas para o erário público;

Prometeu fortalecer o controle-verificação do sistema de transporte público, hoje nas mãos das próprias empresas que prestam o serviço;

Quando prefeito, implementou atividades de participação efetiva da sociedade. Exemplo: construção do premiado plano diretor e geração do orçamento participativo;

Enfim, tem concepções que dizem respeito a atuação mais efetiva do Estado;

Não fez apelo a questões morais em sua campanha.

Hermano Morais

Coalização de Centro Direita: PSDB, DEM, PMDB, PV, etc;

Acredita que parte dos serviços públicos podem ser melhor administrados pela iniciativa privada;

Apoiou o aumento da passagem de ônibus, por alegar que ela estava defasada;

É apoiado por partidos que tem histórico de uma concepção menos participativa de gestão pública;

Uma visão menos efetiva da atuação do Estado, por defender o papel da iniciativa privada;

Faz apelos explícitos a questões morais: aborto, religião, família e incorporou em sua campanha, o pastor Silas Malafaia e o líder Católico Gabriel Chalita.

Talvez, para quem não faz uso das ações públicas de saúde, a questão da terceirização da UPA seja algo menor, mas isso representa uma mudança tremenda na forma como o serviço será prestado para os cidadãos que utilizam a Unidade de Pronto Atendimento. Como desconsiderar tal fato?

Vale lembrar também que o segundo turno, com os dois candidatos postos, foi montado de modo soberano pelos eleitores de Natal. Carlos Eduardo e Hermano Morais entraram pelas urnas. Em nenhum momento, a democracia foi desrespeitada.

Se nossa opção perdeu, que a gente construa, dentro do cenário estabelecido, uma escolha que mais se aproxime dos nossos ideais. Democracia, em que a via eleitoral é um espaço de participação, tem de ser valorizada quando se ganha, mas, sobretudo, quando se perde.

Não é possível transformar a sociedade, se eximindo da política. Até porque um candidato vai ser escolhido, quer a gente queira ou não. Serão duas administrações diferentes e, dependendo de quem vença, teremos um fortalecimento da centro-direita ou da centro-esquerda, com consequências políticas futuras para o Rio Grande do Norte.

Desconsiderar tais fatos é como dizer: não importo quem vença, aceito ser mandado por qualquer um deles. Aceito a separação entre os politicamente ativos, que decidem o destino da cidade; e os demais politicamente passivos, que são levados a reboque. O efeito prático do voto nulo e não participação eleitoral é a afirmação da passividade.