A Falência Anunciada
Chegando ao século XXI – e com ele o advento da globalização da informação, acabo de me deparar com um efeito colateral até então insuspeitado, ou se suspeitado, não admitido pela minha geração. Temos uma imprensa constituída de mortos vivos – os zumbis das lendas da América Central. E pensar que o Jornalismo como profissão de nível universitário ainda não completou um século no Brasil… Lembro-me que meu pai mesmo escrevendo para jornais, e já sendo formado na faculdade de Direito, fez questão de frequentar se formar na 1ª turma da Faculdade criada no Rio de Janeiro. Ele achava que não era correto exercer uma profissão sem registro legal – coisa totalmente fora de moda nos dias que correm. Era o respeito pelo “oficio”! Será que alguém ainda sabe o significado disto?
O que estamos presenciando hoje em termos de informação é que os Jornalistas com formação universitária, registro, diploma, sindicalizado e toda a burocracia legal envolvida, se dividiram em dois tipos: os meros repassadores de noticias (facilmente acessáveis pela internet e direto da fonte); e os “analistas” (ou imprensa especializada) que “criam” fatos e deformam as “notícias”, com o fim especifico de “formar” opinião de acordo com o que lhes é encomendado pelos seus patrocinadores. Os demais estão devidamente amordaçados até não se sabe quando!
Estes jornalistas zumbis estão fadados à extinção, é certo! Mas enquanto o inglorioso fim não chega, se utilizam de todos os meios para se locupletarem, em um vale-tudo que chega a “fazer corar um frade de pedra”, tal a primariedade ( e precariedade) dos artifícios que empregam para obter seu “soldo”. A coisa está tão séria, que nem mesmo respeitam as regras de ortografia e gramaticais, e muito menos ainda, a inteligência do seu público. O que me admira mais, no entanto, é que ainda existam otários que se disponham a pagar por tais manipulações. E aí se começa a entender, ou melhor, explicar o porquê de tantos ataques à dita mídia informal (blogs e outras mídias sociais) e que em sua grande maioria é gratuita.
Ora, imaginem vocês o que passa na cabeça destes “profissionais da imprensa vendida” quando se deparam com uma “concorrência” que: não cobra para escrever e publicar matérias; não vende este material “publicado”; não aluga espaço em suas mídias; muitas vezes é mais bem escrita e falada; e além de dar a notícia tal como ela se “produz”, ainda dá sua opinião e até divulga os comentários do público leitor/ouvinte… E sobre tudo, seguramente o mais irritante, está a salvo dos vetos de terceiros (governos, empresas, candidatos, proprietários de emissoras e jornais). Imaginaram? Pois é!
Aos inúmeros Jornalistas que ainda merecem o título (tenham eles diploma ou não) e que não optaram pelo caminho das areias movediças e do cambalacho vodu, lhes incumbe a árdua missão reinventar-se – ou até um retorno às origens, pois apesar de todos os tropeços e mal feitos a “informação” ainda é um bem precioso, mas que precisa ser cuidadosamente tratada e respeitada por aqueles que têm a responsabilidade de dá-la à luz. Aos demais… Bem, estes provavelmente vão continuar espetando bonequinhos com seus alfinetes rombudos, e sairão de suas catacumbas, passeando suas carnes pútridas nas noites de lua nova para assombrar as redações vazias de jornais, e emissoras falidas. E que São Assis Chateaubriand os guarde (ou os puna)!
¹Beth Michel não se considera escritora, ela se diz apenas artista plástica, mas ela é uma cronista e crítica contemporânea. Possui um blog que agrega publica material de diversos autores, inclusive meus. Já sofreu e sofre perseguições por ter sua língua afiada contra mentirosos e manipuladores de informação. Entretanto, acima de tudo, Beth é “Minha personal Miss Marple” (apelido merecido por já ter me ajudado em diversas pesquisas investigatigativas) uma colaboradora assídua do meu blog e uma amiga/mãe.