Por Tiago Souto
(Mestrando em Ciências Sociais – UFRN)
Estudantes universitários da UFRN são alvos de disparos de arma de fogo por segurança privada no campus
No discurso oficial, as formas de intervenção de Segurança “Pública”, sobre aqueles que criticam, contestam e denunciam se posicionando, revelam-se um poderoso instrumento de expansão do controle. As perspectivas deste discurso ideológico percebem as reivindicações e o debate social, facilmente como conspiração que põem em risco a “ordem social”.
No Brasil, o tema é motivo de intenso debate entre os intelectuais, dentre estes, Alba Zaluar[1], antropóloga de reconhecido saber sobre o tema, que tem se empenhado na investigação científica sobre o inacabado processo de democratização e o fracasso da segurança pública no país.
Hoje na República Federativa existem 58 tipos de polícias, incluindo as polícias da Câmara e do Senado, além destes, temos um enorme contingente de forças de segurança privada, formais e informais, incapazes de diminuir os riscos e inseguranças nas cidades.
Cabe destacar ainda que o país tem quase 5 seguranças privados para cada policial[2] o que representa um enorme ônus para sociedade e, sobretudo para os órgãos públicos que contratam esses serviços.
Esse cenário não é exclusividade dos municípios, pois as universidades tem sido alvo de patrulhamento ostensivo, como é o caso da USP, onde estudantes são revistados, em frente à biblioteca, no controle do acesso ao restaurante universitário e na abordagem em espaços de sociabilidade dos jovens, voltando-se, prioritariamente na moradia estudantil, entre negros, punks e gays[3].
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a situação não é muito diferente, na última sexta-feira, uma simples necessidade de beber água no corredor de aulas do setor II, após o horário “permitido” culminou em disparos de arma de fogo de calibre 38 na direção de estudantes universitários, que por sorte não se registrou feridos, apenas uma viatura privada depredada, pelos estudantes em reação a grave ameaça.
Essa ação traduz as formas contemporâneas de atuação das forças policiais e dos aparatos repressivos, que extrapolam suas competências legais, e o que é mais grave, ao incluir no quadro do efetivo armado da Instituição Educacional Superior 200 seguranças privados armados, num custo mensal de aproximadamente R$8.000,00 mensais para cada homem – é só fazer as contas – e pensar o quanto se tem retirado de poder da Segurança Pública do Campus (servidores) que hoje somam em torno de 140 servidores e os interesses do lobby das empresas nas licitações da UFRN, que justificam a permanência de contratos milionários, devido à famigerada “burocracia” de Estado, não só na segurança, mas também em outros contratos como limpeza e construção civil.
Universidade e Cidades em Pé-de-Guerra!
Abaixo a Repressão e Supressão da Autonomia Universitária/Estudantil!
Referências
[1] Alba Zaluar. Democratização inacabada: fracasso da segurança pública. Revista Estudos Avançados 21 (61), 2007. Link para acesso direto ao artigo http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-40142007000300003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
2 Luciana Coelho de Washington. O País tem quase 5 seguranças privados para cada policial. Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1153310-pais-tem-quase-5-segurancas-privados-para-cada-policial.shtml
3Juliana Machado Brito. Guerra às drogas e territórios em disputa. <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1125>