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Empenho Profissional em Investigação Policial

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Resultados Reais ou Gráficos Quantitativos

 

Investigação sob Mira

Por Ivenio Hermes

A Investigação policial no Brasil sofre em todas as esferas policiais. Cheios de um falso orgulho, gestores públicos encarregados de comandar essa atividade nas polícias, os delegados, acreditam que possuem tudo que precisam para uma boa prestação de serviços, o resultado: centenas operações desencadeadas todos os anos, um enorme gasto do erário público e resultados que não vão além da repercussão midiática.

Sem objetividade e sem a vontade de servir a sociedade brasileira, muitos ingressam nas polícias judiciárias apenas pelo salário, status, estabilidade, mas seu compromisso profissional está muito além do que é necessário para obtenção de reais sucessos.

Convivendo com isso e tentando usar sua voz para refutar e mudar o paradigma estabelecido, Décio Neves, agente especial da Polícia Federal, cristão, radialista, jornalista e gestor público, como ele mesmo se descreve em seu perfil no twitter, não consegue conter seu inconformismo e nesse texto declara com a sincera crueldade da qual a sociedade não pode ser poupada sobre o que é a sua realidade.

Os jargões utilizados no texto são de domínio policial, utilizados diariamente sem qualquer conotação ofensiva, como deltas para os delegados e escribas para os escrivães, e outras verdades assim ditas que não ameaçam ninguém.

O que não ocorre com o próprio Décio, que por causa de sua atuação como blogueiro, jornalista, defensor de ideias diferenciadas, está sempre na mira dos inconformados com a publicação da verdade, inclusive respondeu processo pelo texto abaixo, que resultou em arquivamento, por não ter fundamento para punição.

Método de Investigação Brasileiro

Por Décio Neves

Por que ir às ruas investigar? A Polícia Federal não precisa imitar o FBI, nem a Scotland Yard e nem outras polícias, afinal de contas, alguém deve achar que já somos A MELHOR POLÍCIA DO MUNDO e por isso, com nossa bola de cristal, não precisamos descolar-nos da escrivaninha para colher nenhum elemento na persecução penal.

Costumo dizer que o método de investigação levado a efeito pelo Inquérito Policial no Brasil é o MÉTODO DO CAGAÇO. O que significa isso? O modelo espera que o indivíduo ao comparecer perante o “Doutor delegado”, a dita autoridade policial no âmbito da Polícia, se desmanche de MEDO e quiçá, no seu ABALADO ESTADO EMOCIONAL, por estar na presença de tão sublime figura, expila alguma declaração que possa vir a elucidar determinada situação.

Bem nos moldes dos tempos do Coronelismo ditatorial!

Alguém aí acredita que existam tantos bocós assim, medrosos, se desmanchando em M na presença de um policial? E no caso da Polícia Federal, cuja área de atuação ainda faz com que alcancemos elementos de maior nível de escolaridade e intelectualidade? Quanto aos poucos pés-rapados que já prendemos, quantos “entregaram” alguma coisa simplesmente no interrogatório, “na boa”?

Por vezes chego a pensar que sou muito ácido na minha análise, mas creio que não. Assim como muitos delegados que sonharam ingressar na PF para ser verdadeiramente peça fundamental em investigações, eu também tive a ilusão de um dia atuar colaborando decisivamente para a elucidação de crimes e dar agilidade à justiça.

Hoje sabemos que o INQUÉRITO POLICIAL nos propicia bem menos que nossos sonhos de criança e muito menos que a eficiência esperada pelo povo brasileiro.

A diferença reside no fato de que estou aqui a fazer uma crítica e outros não têm a necessária coragem pra isso. Ingressam nesta casa e aqui ficam na esperança de “migrarem” para uma carreira jurídica ou serem aprovados num concurso para tal fim. Não vejo amor ao serviço público e sim apego ao status.

Fico imaginando a projeção deste orgulho patriótico estampado na satisfação proporcionada aos pais e manifestada entusiasticamente: “Ah!!! meu filho é Delegado da Polícia Federal!!!”. E o Brasil, coitadinho, segue em frente na Vanguarda do Atraso quando se trata da prestação de um serviço público de qualidade na esfera policial.

Esclareço que sou AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL e, por que não dizer, com muito orgulho? No início os sonhos são os mesmos. A coisa muda de figura com o doutrinamento da Academia Nacional de Polícia.

Não sou bobo. Acompanhamos a vibração e o entusiasmo de jovens concurseiros a debater a realidade da PF antes de nela ingressar. Muda tudo. Como diria o poeta Cazuza “…pois aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo de cima do muro…” Desafio qualquer um a me contradizer.

Daí chegar à conclusão que muitos deltas levam isso aqui como um emprego. Produtividade? Traduz-se nas estatísticas, no número de IPL relatados. Quem se importa com isso? Têm os agentes pra fazerem as diligências e os escribas pra fazerem toda a parte cartorária.

Basta colocar uma assinatura e pronto!

Uma Reflexão Necessária

Por Ivenio Hermes & Décio Neves

O paradigma de investigação policial sofre com a mesmice há muito tempo. Geralmente, o empenho na solução dos casos está nas mãos de poucos abnegados que valorizam o salário que recebem e têm consciência que o salário do servidor policial, bem como dos outros servidores públicos, é pago pela carga tributária à qual a sociedade brasileira está sujeita.

Para quem paga por um bom serviço, no mínimo se quer resultados e não a produtividade de relatórios quantitativos. A população consciente está cansada de tabelas destacando números de ações, quantidades de presos e outros itens que apenas visam encher os olhos desavisados de belos gráficos coloridos.

Que as ações investigativas futuras mostrem o resultado pretendido, aquele que realmente interessa, ou seja, se as ações iniciadas tiveram conclusão adequada, ou se por causa da falta de empenho de servidores não comprometidos, acabou no ostracismo que alguns insistem em fazer a velha piada: acabou em pizza!