Manifestação Contra os Verdadeiros Baderneiros
“A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. John Donne
A Baderna Instalada
Em 15 de setembro de 2012, centenas de pessoas se concentraram em frente à Assembleia da República, em Lisboa. Não eram bandidos, não eram malfeitores, gente do mal, mas elas gritavam palavras de ordem contra representantes da administração pública portuguesa, ou seja, seus próprios deputados e governantes. E num ímpeto de indignação derrubaram as grades que os impediam de chegarem à escadaria do parlamento.
Dezenas de policiais em seus trajes de operações de controle de distúrbio civil, o CHOQUE, estavam de prontidão ostentando o forte dispositivo de restauração da ordem pública, poder representativo do Estado que embora sendo considerado errado em suas medidas extremadas contrapondo o estilo de vida notoriamente beneficiado pela corrupção, precisa da força dos policiais para conter os mais extremados manifestantes.
Homens, mulheres, estudantes, trabalhadores, enfim, a representação de toda a sociedade trabalhadora, gritando e conclamando uns aos outros a gritarem as palavras de ordem “os gatunos estão lá dentro”, os manifestantes apelavam à polícia para deter deputados e governantes.
Estava instalada a “baderna”, o insatisfeito povo português tomara as ruas.
Os Motivos do Levante
Durante os últimos anos a economia portuguesa foi de mal a pior. Estabelecendo culpados em todas as partes menos admitindo os reais, o Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho anunciou mais uma série de medidas em forma de arrocho cujo único cinto a ser apertado seria o do povo.
O aperto que reduz salários, demite e transtorna o modo de vida lusitano, vem sendo mascarado de diversas formas a ponto de Passos Coelho, numa atitude considerada por alguns analistas políticos como desesperada, usar sua página pessoal no Facebook, como se o povo tivesse obrigação de segui-la para postar um discurso instigador: “Quem está nessa situação sabe bem que este é mais do que um problema financeiro – é um drama pessoal e familiar, e as medidas que anunciei ontem [sexta-feira] representam um passo necessário e incontornável no caminho de uma solução real e duradoura”, ele assegura.
Nada é mencionado sobre os 15 políticos profundamente investigados pelo jornalista António Sérgio Azenha, que corajosamente analisou em seu trabalho investigativo, os rendimentos de 15 políticos, observando o comportamento financeiro deles antes e depois de passarem pelos cargos que ocuparam no governo português.
Tentando enaltecer o orgulho pátrio, o Primeiro-ministro diz que vê diariamente o sacrifício de todos para corrigir os “erros do passado”, e se diz frustrado, até falando como pai de família, em não poder “poupar-nos” dos dissabores da situação financeira caótica, e ainda complementa que essa frustração somente é “suplantada pelo orgulho que sinto em ver, uma vez mais, do que são feitos os portugueses”, fazendo alusão à fibra guerreira do povo que se sacrifica.
Numa coisa ele tem razão, a fibra do povo é o que não os deixa se intimidar diante dos desmandos governamentais oriundos da ação desonesta de políticos corruptos que quebraram a máquina administrativa do Estado para seu ganho próprio.
O trabalho de Azenha acorda a sociedade através dos resultados que estão no livro “Como os políticos enriquecem em Portugal”, que deveria fazer escola em outros países, como o próprio Brasil, que talvez agora, no julgamento do mensalão, possa mudar também os rumos da impunidade diante de improbidade tão aberrante na Terra Brasilis.
Por quem os sinos dobram
Um estrago econômico em um país pode ser gerado pela política de autoproteção estabelecida nas leis criadas pelos parlamentares, que visam ampliar seus confortos, regalias, salários e até se blindar contra a capacidade punitiva do Estado para que fiquem livres para enriquecimentos ilícitos.
A impunidade diante da improbidade administrativa presente em Portugal não é diferente daquela que está implantada no DNA Político Brasileiro. Cada dia que passa o povo brasileiro se assemelha aos seus irmãos portugueses em inconformidade e humilhação internacional.
O cidadão português entende de revolução, está habituado a não se calar. A juventude lusitana exorta a sociedade a lutar pelo seu direito, dentre eles o de ter respeitado seus salários e sua dignidade de vida. Relembrando a Revolução dos Cravos, um vídeo foi lançado na internet mostrando a antecipação dos eventos pela polícia portuguesa, que chega a disparar contra seu povo (a despeito de manifestações isoladas de pacifismo) contrapondo o chamamento patriótico da poesia que conclama os jovens para um novo 25 de abril de 1974.
15 de Janeiro de 2012 não marcou o sucesso do pacifismo, mas imposição do poder do Estado, pela lei ou pela força, sobre a sociedade oprimida pela polícia que a prometeu defender.
“Por Quem os Sinos Dobram”, do livro Meditações XVII, do pastor e escritor inglês John Donne, que Ernest Hemingway deu destaque em seu livro Por Quem os Sinos Dobram, é uma pergunta que precisa ser respondida antes de se estabelecer quem fez a baderna no cenário português e no brasileiro.
Referindo-se aos culpados pela situação nos dois países, Por Quem as Badernas São Feitas? Com certeza não é pelo povo revoltado que toma organizadamente as ruas, mas que no furor pátrio se revolta e derruba portões, recebe a agressão de policiais e se vê injustamente repelido pelos seus guardiões. A baderna foi feita antes pelos corruptos e desonestos, e sim, eles são os baderneiros da nação, dos cofres públicos, das leis que só atingem os pobres, baderneiros de marca maior, que usam inclusive a força policial a seu favor e ainda andam soltos e escoltados.
Baderneiros são eles, não o povo aviltado.
A Rua é Nossa!
Determinados, os portugueses se preparam para o dia 15 de Setembro e já se preparam para uma nova data.
No Brasil, em nível nacional e organizado assim, aconteceu no movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984, denominado “Diretas Já”, e também no “Caras Pintadas” ou “Fora Collor”, dessa vez um movimento estudantil que aconteceu durante o ano de 1992 objetivando o impeachment do então Presidente Fernando Collor de Melo, sobre o qual pesavam denúncias de corrupção e falsas medidas econômicas.
Organizar o movimento significa respeitar o direito de todos e lembrando mais uma vez o poema de John Donne que invoca o absurdo da guerra travada entre irmãos, “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade”. Quando o direito de um é ferido, também é o de todos.
Nessa tônica de respeito, os portugueses lutam pelos seus direitos, os brasileiros assim devem fazer, reinventando o simbolismo da cooperação mútua do Ano Brasil Portugal.
Afinal, a sociedade oprimida por um governo visivelmente corrompido, precisa se manifestar por melhores condições de saúde, de segurança pública, de transportes, de salários… Enfim, de justiça, pois se o povo é impedido por leis de usufruir de seus direitos enquanto as mesmas leis protegem os reais baderneiros, o mínimo que se pode fazer é tomar o último reduto livre que pode incomodar: a rua, com caras pintadas ou não, bradando: A rua é nossa!
REFERÊNCIAS | Link Migre | Link de Download |
Centenas de manifestantes concentrados em frente ao Parlamento | http://migre.me/aQbKs | http://db.tt/Z8zvU9Z9 |
Passos Coelho em mensagem no Facebook | http://migre.me/aQbtQ | http://db.tt/JN0CZg25 |
Rendimentos de 15 políticos portugueses antes e depois | http://migre.me/aQcs2 | http://db.tt/QFrVfJ1R |
Diretas Já | http://migre.me/aQcy7 | http://db.tt/UUuXYCHO |
Caras-pintadas | http://migre.me/aQcME | http://db.tt/MN3sv1lN |
Fora Collor | http://migre.me/aQcPT | http://db.tt/qMxk4Z3y |
Manifestação de 15 Setembro | http://migre.me/aJXCM | Não há |
Ano Brasil Portugal | http://migre.me/aQdNH | Não há |
Portugal na boca do mundo na luta contra a austeridade | http://migre.me/aQe5q | http://db.tt/jMiOcl9y |
Conheça a jovem que abraçou polícia em Lisboa | http://migre.me/aQfFT | http://db.tt/GxEAqCXb |