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O Babaca e o Resiliente

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Anax Ribeiro – Jornalista e Professor de Língua Inglesa

Você conhece um babaca? Na verdade, quem não conhece? Todos os dias nos deparamos com um. Tem o babaca do trânsito, que faz barbeiragem e, quando você reclama, ele mostra o dedo, ou os dois dedos médios de uma vez. Tem o babaca do supermercado, que desconta na coitada da caixa “aos berros” a diferença de preço de um produto. Tem o babaca do banco, que passa na frente de todo mundo quando o primeiro da fila dábobeira e não vê um caixa eletrônico livre. Tem a vendedora babaca, que olha você dos pés à cabeça com ar de desprezo antes de se aproximar, como se você estivesse fazendo o favor de comprar na loja dela. Os casos são inúmeros.
Mas há um tipo de babaca especial. Vou dispensar a explicação do dicionário e defini-lo com exemplos práticos. É aquela pessoa que, quando você conta seu sonho, eladiz imediatamente que não vai dar certo. É aquele que joga um balde de água fria quando você (inocentemente, por achar que é seu amigo) fala de suas metas, de seus planos. Ele se apressa em vaticinar que sua ideia não vai funcionar ou que vai ser muito difícil, ou que é complicado, ou que outros já tentaram e se deram mal, ou que é preciso ter dinheiro, ou que é questão de sorte e blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá.
Muita gente famosa (ou antes de ficar famosa) também já teve de enfrentar um babaca assim (às vezes até mais, muitos mais). Stephen King, hoje conhecido pelos seus livros de terror, teve seu primeiro livro Carrie, A Estranha rejeitado 30 vezes por editores babacas antes de ser publicado. A justificativa? “Nós não estamos interessados em ficções científicas que lidam com utopias negativas. Elas não vendem”. Walt Disney, no início de sua carreira, foi demitido do jornal onde trabalhava porque seu editor babaca achou que ele não tinha imaginação nem boas ideias. Algum babaca da gravadora britânica Decca disse aos quatro rapazes de Liverpool que eles não teriam futuro no showbiz, e este ano o mundo comemora os 50 anos da maior banda de rock de todos os tempos, Os Beatles. A jornalista Ana Paula Padrão ouviu de um babaca de uma emissora de televisão brasileira que ela esquecesse essa história de fazer TV, de aparecer no vídeo, porque ela não levava o menor jeito com a coisa. Por causa do nariz, “inadequado para a profissão”, Gisele Bündchen, a modelo mais rica do mundo, com uma fortuna de mais de R$ 260 milhões, foi rejeitada por babacas de algumas agências.
Mas esses babacas têm seu valor. Sim, tem sim. São eles que, no fim, acabam motivando as pessoas a seguir em frente, a mostrar que eles não estão certos. Todos os citados no parágrafo acima provaram por A + B que esses babacas cometeram erros de julgamento. Os babacas são importantes porque desencadeiam nas pessoas algo muito forte: A RESILIÊNCIA. Resiliência é a propriedade física de alguns elementos que os faz retornar à sua forma original após uma deformação ocasionada por uma pressão sobre eles exercida. Mas quando aplicamos aos seres humanos, a definição é outra: a capacidade que um indivíduo ou uma população apresenta, após momento de adversidade, de conseguir se adaptar ou evoluir positivamente frente à situação.
O babaca seria o antípoda do resiliente, portanto. Este, incentivado, instigado, provocado por aquele, cresce, se transforma, se desenvolve, evolui, amadurece. Busca forças onde jamais sonhou que haveria. Seriam vilão e herói, bandido e mocinho. Reflita: o que seriam dos super-heróis sem os vilões? Estes também são importantes na trama. Ao se deparar com um babaca, não perca a esperança, não fique triste com as palavras desestimulantes, não se deixe abater. Muito pelo contrário, sorria, se fortaleça, agradeça. Você acabou de ganhar a oportunidade de se tornar um  ser humano melhor. Você teve a chance de se tornar resiliente.