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Os Paralelos da Vida e da Insegurança

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Onze Anos Após 11 de Setembro de 2001

 

1996 e a Síndrome da Insegurança

A vida parece girar em torno de todos nós. O tempo passa em um ciclo que se repete e não é incomum sermos tomados por aquela sensação de “dèja vú” como se algo que estamos acabando de experimentar parece já ter acontecido conosco.

A sensação de insegurança não é algo que acompanha o ser humano nos dias atuais, já existia antes e não importa em que país viva, sempre falta.

Embora alguns discordem, para os norte-americanos já não havia sensação de segurança há muito tempo e não era diferente em 1996. O estilo de vida americano, que tanto arrebata imigrantes legais ou ilegais a se aventurarem a morar naquele país, não seduz tanto o próprio povo, que vive um idealismo e está longe de conhecer certos “confortos” que a paz trás para os moradores de outros países.

Eles não possuem certas garantias trabalhistas que possuímos no Brasil, por exemplo, fundo de garantia por tempo de serviço, 13º salário, estabilidade em cargos públicos concursados, adicional de férias, 30 dias de férias por ano e algumas outras coisas.

Em 1996 nasceu meu segundo filho. Deixei aquele país e retornei ao Brasil, para o cargo público para o qual me esforcei e que nem as facilidades da minha vida americana não me seduziam a não assumir. Também foi o ano do meu divórcio, marcado principalmente pela separação dos meus dois filhos (ainda não tinha o terceiro).

Naquele ano, Khalid Sheikh Mohammed também apresentava com empolgação religiosa o primeiro projeto a Osama Bin Laden, daquilo que seria conhecido cinco anos depois como os Atentados de 11 de Setembro.

2001 e o Calcanhar de Aquiles

Bin Laden e sua organização terrorista Al-Qaeda estavam preparados para o maior golpe no coração e no brio americano. O símbolo do capitalismo tão odiado pelo fundamentalismo da Al-Qaeda, o calcanhar de Aquiles localizado no coração de New York, estivera sob cinco anos de planejamento cuidadoso para sua destruição.

Motivado pelos sucessos recentes de 1998 com os atentados terroristas às embaixadas dos Estados Unidos na África, para Bin Laden era momento de sacar sua “saif” (cimitarra) e ferir a potência mundial. Estranhamente, a poderosa Agência de Inteligência Americana, a CIA, que articulou 21 anos de ditadura no Brasil, apresentou um dossiê ao então presidente Bill Clinton sobre os preparatórios da Al-Qaeda para atacar em solo americano mencionando até a possibilidade da utilização de táticas como sequestro de aviões, mas foi em vão.

Nesse ano eu me preparava para ingressar no grupo nacional de operações especiais. Haviam exigências físicas e psicológicas desafiadoras mesmo para quem já pertencia às unidades regionais e eu me sentia preparado.

Assim como a CIA se achava imbatível, eu me achava perfeitamente seguro e não acreditava que nenhum obstáculo pudesse me impedir de passar naquele teste que aconteceria em setembro/outubro de 2001. Fazia um ano que meu filho caçula havia nascido e eu me orgulhava de um preparo físico ao invés de dar atenção para coisas mais importantes da vida como minha fé em Deus.

Dois meses antes do meu aniversário, durante uma atividade, sofri uma torção boba no tornozelo. De repente, me vi sozinho no apartamento onde eu morava com meu calcanhar de Aquiles particular ferido. Naquele estado eu não passaria nos testes que chegariam. Mas era uma bobagem e eu ainda estava seguro de minhas capacidades, pois sabia que sete meses eram o suficiente para me recuperar.

2001 e O Fracasso da CIA

Trazendo para as expressões modernas, “eu me achava”. Já tinha publicado e sido premiado por meu primeiro livro há 10 anos, já estava escrevendo o terceiro, era chefe do núcleo de operações especiais, tinha facilidade em me recuperar fisicamente e por isso, quando a dor começou a desaparecer, já iniciei caminhadas e pequenas corridas para não perder todo o preparo. O pé inchou e ficou roxo, fui imediatamente ao médico.

Bin Laden dera a aprovação para Khalid Mohammed prosseguir com a organização dos ataques entre 1998 e 1999. O planejamento envolvia estratégias do próprio Mohammed, de Bin Laden e seu segundo em comando, Mohammed Atef, cuja principal função era a logística operacional, com providências na escolha dos destinos e rotas de viagens para os sequestradores.

Bem sob as barbas da CIA, Bin Laden dava apoio financeiro ao projeto e até escolhia candidatos. Os homens eram adeptos do “Jihad”, que nada tem a ver com “Guerra Santa”, conceito emprestado pelos Europeus das Cruzadas da Idade Média quando tiveram contato com o Islão.

Jihad é um conceito de plenitude para a religião islâmica e sua orientação é para empenho pessoal, o esforço próprio que pode ser confundida como uma luta de acordo com o grau de fundamentalismo na busca e conquista da fé perfeita.

Em segurança pessoal, pública e nacional, todos os alertas devem ser considerados como possíveis perpetradores de resultados. Nada pode ser desprezado quando tratamos de nossa família, de nossa sociedade e de nossa Nação. Mas a CIA esqueceu sua própria diretriz, deixando os escolhidos da Al-Qaeda terem aulas de voo já em solo americano desde janeiro de 2000, e mesmo com as dificuldades dessa operação e o alerta anterior da CIA, tudo ficou pronto a contento.

Após as radiografias sugeridas pelo médico que busquei para tratar adequadamente o tornozelo, saiu o resultado, uma quase ruptura de ligamento. Seguido da recomendação de uma cirurgia e a seriedade do doutor ao proferir aquele quase veredito de que eu não voltaria mais à minha capacidade total e talvez nunca mais voltasse a correr. Na minha suposta autossuficiência desconsiderei os alertas do meu corpo em forma de dor e a situação se agravou demais.

2001 e a Queda do Símbolo

Evidentemente busquei outras opiniões e como os dias dos testes se aproximavam, um amigo me falou de um paliativo, uma injeção aplicada diretamente no local com efeito anestésico para aguentar a carga de exercícios, combinado com antiflamatórios, compressas, tênis especiais para evitar o impacto que o excesso de peso gerado pela inatividade causava no pé.

Em uma semana eu estava correndo de novo, muito aquém da minha capacidade costumeira, mas estava feliz, pois sabia que recuperaria o tempo perdido. O tornozelo reclamava, mas eu não dava atenção àquele alerta idiota, eu “sabia” do que eu era capaz. Deus era consultado por hábito, não havia necessidade dEle com toda a segurança que eu tinha.

Um grupo formado por homens bem educados, fluentes em inglês, experiência de vida nos EUA fora selecionado por Bin Laden enquanto a Al-Qaeda buscava mais recrutas que eram escolhidos por suas habilidades. Desses grupos saíram os perpetradores diretos do atentado enquanto a CIA não dava importância aos relatórios de seus próprios analistas.

No grupo de terroristas estava Hani Hanjour, que já possuía licença de piloto comercial e fora encarregado de treinar os outros. Depois, outros foram se agregando. Células eram formadas em países com aeroportos estratégicos para chegarem rapidamente aos EUA. Uma das células assumiu o treinamento de pilotos na Flórida e sequestradores secundários chegavam aos Estados Unidos sem que a CIA percebesse.

Atta e Al-Shibh traçaram os detalhes finais numa reunião na Espanha e de lá definiram os alvos e coordenaram a operação, sob a exigência de Bin Laden para que fosse deflagrada a ação o mais rápido possível.

A falta de integração entre as agências americanas que deveriam impedir ações desse tipo ampliou as chances de sucesso dos ataques. Sem o fluxo de informação contra espionagem, nem o poderoso Echelon pode monitorar e evitar as consequências desse duro golpe na segurança mundial.

Na manhã do dia 11 de setembro de 2001, eu cheguei em casa após uma corrida, mesmo com Deus me avisando através da dor no tornozelo de que eu devia parar. Sentei no chão da sala com uma bacia de água para a compressa e liguei a TV no FOX News e fiquei perplexo.

Aquele lugar tão familiar para mim estava sendo atacado e até hoje ainda pasmo com o resultado:

1. 19 terroristas foram usados na ação final;
 2. 04 aviões comerciais a jato de passageiros;
3. 02 colisões dos aviões contra as Torres Gêmeas;
4. Desmoronamento posterior destruiu muitas construções vizinhas;
5. Um terceiro avião de passageiros caiu contra o Pentágono;
6. Um quarto avião caiu na Pensilvânia;
7. Saldo de 2.977 mortos de mais de 40 nacionalidades diferentes, dentre os que estavam a bordo das aeronaves, trabalhando nas Torres e sem considerar os 19 sequestradores.

O meu resultado particular foi o insucesso no teste físico e justamente naquilo em que eu me considerava melhor. Meu distanciamento do meu Radar e a falta de interação com minha família, de quem eu escondia tudo sob o pretexto de não preocupar ninguém, mas que hoje admito se tratar de orgulho, pois não queria que ninguém me visse fraquejar, me fez amargar uma derrota.

2012 e Os 11 Anos dos Atentados

Hoje completa 11 anos desde aquele dia em que O World Trade Center ruiu. Na ilha de Manhattan, o vazio deixado pelas Torres Gêmeas projetadas pelo arquiteto norte-americano Minoru Yamasaki, representa a queda de um dos grandes símbolos do capitalismo juntamente com a dor de milhares que tiveram seus entes queridos perdidos naquela trágica situação.

Esse evento inaugurou uma fase de exacerbação de preconceitos contra árabes, seus descendentes e seguidores de religiões islâmicas. Políticas duras foram adotadas contra as minorias pela própria inépcia do Estado de agir preventivamente.

Estou em constante processo de aprendizado. Hoje tento sempre falar com meu Deus antes de tomar decisões mínimas na minha vida e esse procedimento tem me ajudado. Continuo errando, é claro, mas pelo menos tento não repetir os anteriores.

Cheguei ao lugar no desejado grupo nacional de operações especiais com a exclusiva ajuda e no tempo de Deus, não no meu. E agora, após 11 anos volto a passar por uma fase ruim na minha vida, a despeito do sucesso público, porém estou caminhando devagar e me orientando pelo radar dEle.

Nossa segurança pessoal está diariamente ameaçada por pessoas que vêm em nós algo a ser temido ou invejado, algo que podem retirar de nós para seu próprio benefício o simplesmente para nos prejudicar, pois devido a sua intolerância, não nos consideram dignos de merecer aquilo que conquistamos ou recebemos.

A segurança pública dos Estados está seriamente comprometida. A falta de investimento em material e equipamento, valorização dos agentes, aumento de efetivo e nova capacitação dos atuais integrantes das forças é uma prática costumeira e irresponsável. Todos esses problemas ficam inchados e em estado de anorexia diante da aproximação dos Eventos da Copa de 2014.

Nossa vulnerabilidade ante nossa incapacidade para gerir a segurança pública da forma como se apresenta atualmente é tão evidente, que me ponho a imaginar o planejamento estratégico que está sendo feito pelo Estado diante de algo grandioso.

Vejo o Estado Brasileiro repetir o erro do americano em não dar a devida atenção aos alertas para o perigo potencial que se aproxima de nosso povo.

Embora nos solidarizemos como os norte-americanos, não é nosso desejo que sobre nós venha a recair um grande golpe e nem mesmo séries de pequenos golpes, porque não fomos capazes de atender os alertas e não nos preparamos antecipadamente e em tempo hábil para realidade atual e futura da nossa segurança pública.

 

REFERÊNCIAS:

MARQUES, Renato. WTC – os atentados de 11 de setembro. Notícias Universia. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2004/12/03/493936/tc-os-atentados-11-setembro.html>. Acesso em: 11 set. 2012. Download em: <http://db.tt/Tk5GNoKR>

MAGNOLI, Demétrio. Terror Global. São Paulo: Publifolha, 2008. (Série 21).

ROBERTS, Paul Craig. A Nova Ordem Mundial Os Atentados de 11 de Setembro e a Redefinição Orwelliana de “Teoria da Conspiração”. Disponível em: <http://www.anovaordemmundial.com/2011/06/11-de-setembro-e-redefinicao-orwelliana.html>. Acesso em: 11 set. 2012. Download em: < http://db.tt/YKDiXauV>