Os Novos Lanterneiros
Enquanto os Argonautas de Punta Crux, a tripulação do Évira e o todo um povo de Pesaria sofria sem voz que legitimasse suas demandas, novas luzes surgiam…
A Escuridão Imperial
Mailla, como era conhecido o Grande Reino de Brasa Petris, possuía uma geografia complicada devido ao seu mapa político montado por conquistas, territórios anexados, divisões internas para diminuição de grandes províncias, enfim, num termo elogioso, aquilo ainda era bagunçado.
Acreditem ou não, alguns líderes eleitos pelo próprio povo ainda se davam ao impropério de tentar subdividir outras regiões, sendo impedidos pelos que os elegeram.
Naquele momento da história, o Grande Reino passava por mudanças estruturais e era sensível a insatisfação até dos empregados imperiais. Havia paralizações em todos os setores dos serviços públicos e até a segurança pública era motivada a deixar de realizar seu trabalho.
A Rainha governava o Grande Reino e havia diversas subordinações. Numa delas se localiza o Império Pesaria, que também apresentava muitos problemas estruturais, inclusive a dos guerreiros de Punta Crux.
Um período de demanda por soluções, de grandes vozes que podiam fazer a diferença e mudar a sociedade da época, mas que se calavam. Fortes e poderosos doutores da palavra permaneciam mudos ou simplesmente falavam coisas que não mais convenciam, pois o povo já estava cansado da mesmice enganosa que os ditos sábios insistiam em propagar.
Uma época de grande escuridão.
Em meio às trevas
Pesaria vivia em meio às trevas da desinformação ou da informação infundada e direcionada pelos falsos líderes do povo. Cansados disso, pensadores começaram a comparecer nas ágoras para esclarecer a população sobre os engodos a que vinham sendo submetidos.
Semenez, Lovures, Casul, Geor e Reifre uniram suas vozes e passaram a bradar mais alto. Em outras ágoras, outro pregador do novo pensamento, Semreh, o ancião entre eles, também gritava suas verdades. Inevitavelmente eles se encontrariam, e se soubessem equilibrar suas diferenças pessoais em torno de seus ideais, poderiam juntos, mudar o pensamento Pesariano.
Sem esmorecer, cada um continuava falando sobre sua especialidade e cada vez mais pessoas tinham conhecimento daquilo que eles falavam. Potenciais mártires, eles estavam protegidos pela verdade que a tudo vence, pois mortos, suas ideias despertariam mais curiosidade nos que permanecessem vivos. E assim eles prosseguiram com sua missão.
Somando forças com os jovens Servata e Cesar e uma grande quantidade de pessoas que contribuíam com suas ideias, aqueles homens passaram a se reunir em torno de uma ideia maior.
Eles poderiam ser chamados de lanternas, pois suas informações e coragem iluminavam o Mar do Norte, porém, outros os seguiam e queriam juntos levar a luz, que eram reproduzidas e se transformavam em novas lanternas, por isso eles foram chamados novos lanterneiros.
Ensaios de Mentes Inquietas
As mentes inquietas dos novos pensadores não paravam de produzir. Seus colaboradores também continuavam produzindo material. Seus colaboradores aumentaram e Reifre procurou Semreh, que se apaixonou pelo renascimento intelectual trazido por aqueles jovens e passou a se empenhar naquela missão, até que um dia o grupo não podia mais se separar.
Ideais e ideias uniam aqueles pensadores que eram incentivados por suas fontes particulares de inspiração e se revezavam diante de uma multidão maior, que a cada dia aumentava em expectadores e contribuintes intelectuais.
Seus veículos de comunicação eram textos e imagens que eram mostradas ao povo, mas que não podiam deixar com eles, pois não possuíam recursos para publicar como os sábios pensadores da época.
Alertados por uma amiga e inspiradora de um deles, eles perceberam a experiência e responsabilidade que tinham. Eles já eram formadores de opinião mesmo sem as ferramentas que outros dispunham, eles transbordavam de vontade de mudar a sociedade em que viviam.
Suas mentes inquietas, também fomentadas pelos seus mestres que vieram antes deles, não podiam se acalmar diante das injustiças que estavam ocorrendo em Pesaria, por isso eles decidiram ir adiante.
A Epístola Pesariana
Empenhados em difundir suas ideias e colaborar com o povo, os escritores pesarianos conseguiram, com a ajuda de dezenas de escribas, transcrever seus pensamentos para a forma de epístolas, uma publicação que alcançaria mais pessoas e poderiam surtir um resultado melhor.
E foi assim que aqueles homens conhecidos como os novos lanterneiros, mas que se chamavam entre si de “epístolas”, publicaram seu primeiro grande recado ao povo, a Epístola Pesariana.
Grandes presenças estiveram num parlatório particular e a Epístola Pesariana foi lançada, num esforço ímpar, com pouco recurso e investimento próprio. Muitos convites foram lançados e muita gente compareceu, até representantes do Reino e do Império se fizeram notar no ambiente da festividade. Nem todos que foram esperados, estiveram lá, mas outros muito importantes como vários membros do grupo Operação Évira, doutos professores da Universidade Real e da Imperial, amigos e incentivadores dos novos lanterneiros que fizeram daquele momento de sagração um ponto inesquecível nas vidas de cada um daqueles homens.
Geor, um dos novos lanterneiros, exclamou diante do trabalho do grupo: “Fazeis bem mais do que falais, oh caros comparsas de pensamento e ações, e esta é a atitude de guerreiros, homens de ação, não de homens de palavra sem sustento.”
E Semreh, respondendo exultou: “nosso propósito é o mesmo, isso une os guerreiros para a batalha, afinal, o discurso de motivação nós mesmo já fornecemos uns aos outros.”
Os Novos Lanterneiros
Para muitos o evento acabou após o término da festa, para os novos lanterneiros, o dia seguinte foi marcado por transporte dos exemplares da Epístola para os pontos de fácil acesso da população, captação de recursos para a publicação da 2ª edição, divulgação e outras províncias do Reino para mostrar aos que viviam fora, aquilo que acontecia dentro da área cercada pelo grande Mar do Norte.
Os novos lanterneiros ou os “epístolas” (ou talvez queiram atribuir outro título para eles) estão trabalhando nesse exato momento, de alguma forma, para contribuir através do pensamento deles, que juntos dos que leem com honestidade de propósito, para que sua forma de pensar possa ser despertada para luz que eles querem que você veja.
Quebrar paradigmas não é fácil, mas as conquistas vão se agregando e transformando até o pensamento dos pensadores originais.
Eles vieram para criar um movimento cultural que recria o estado de raciocínio do homem levando a enxergar com seus próprios olhos, pois os desvenda e desperta para uma nova Era da Razão.
Isso incomodará algumas pessoas, principalmente quem não protege o intercâmbio intelectual que impede e luta contra a intolerância religiosa, abusos do Estado, a interferência da religião nos negócios do estado e na legislação.
A razão despertada não execra o lado emocional, pelo contrário, alia-se para fazer o homem se importar com seu semelhante, sentir-se ligado por empatia e sentimento de compaixão amorosa.
Que esse trabalho cumpra seu objetivo missionário de mudar a realidade da sociedade de Pasaria e quem sabe, de toda Mailla, o Grande Reino de Brasa Petris.
Toda mudança social demanda tempo, tempo esse que talvez nem todos tenhamos para presenciar. Contudo, deixaremos as pegadas na linha temporal para aqueles que querem participar deste movimento por uma sociedade de convivência mais igualitária e respeitadora.
As epístolas estão nas ruas, e o povo está lendo, vai ler e vai adquirir novo conhecimento, e contamos que ele saiba utilizar bem esse novo conhecimento, pois ainda queremos estar vivos para contemplar a mudança.
Referências:
Ágora http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora
Iluminismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo