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Bons e maus bocados

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A Angústia dos Outros

Antes do Mergulho

Escrever é algo especial para mim, e não tem como não ser, pois penso em cada detalhe e tornou-se o meio pelo qual me liberto dos meus próprios problemas, dos meus sofrimentos, anseios, saudades, tristezas e até das carências.

Hoje eu queria apenas agradecer pelo apoio que tenho recebido até aqui e que tem trazido considerável sucesso aos meus textos, afinal, estamos comemorando um ano de Blog do Ivenio. Porém, você e eu, que passamos esse último ano saboreando não só vitórias, e não podemos soltar fogos e postar cartazes de felicidades desprezando nosso companheiro, que hoje vive momentos de angústia.

Nos períodos de angústia mergulhamos num mar de aflição onde o ar refrigerador e recuperador parece estar numa superfície distante.

Mergulhando na Angústia

De todas as dores sentimentais que já vi uma pessoa experimentar e que eu já experimentei não tem pior dor do que a angústia. Ela é até definida como ansiedade física acompanhada de opressão dolorosa: os estremecimentos da angústia, uma profunda inquietude que oprime o coração.

Essa dor tão sofrida possui alguns primos sinonímicos: aflição, agonia, aperto, apertura, martírio, tormento, tortura e tribulação. Se você ainda não passou por isso, nem queira passar, se já passou, tenho certeza que não quer passar de novo. Seja qual for o caso, nunca faça alguém passar por essa forma de aflição.

Ninguém melhor do que Jesus Cristo para nos demonstrar o que a angústia pode causar a um ser humano, e Ele, num momento de profunda tormenta se viu tão angustiado que chegou a suar sangue.

A Experiência de Jesus

Do livro de Lucas capítulos 22, versículos 39 a 44 extraímos o relato da angústia de Jesus.

Ele possuía o hábito de subir para o Monte das Oliveiras para orar e dessa vez foi acompanhado por seus discípulos. Num determinado lugar, ele separou-se dos discípulos avisando-os que deviam orar para não entrar em tentação.

Angustiado pelo que em breve poderia vir a acontecer, seu corpo entrou em uma profunda agonia, e o tormento era tão forte, que mesmo munido de toda sua fé ele pediu que se fosse possível aquela dor fosse afastada de sua vida. Contudo, não era possível.

Embora Jesus precisasse passar por aquela dor, Deus nunca foi mau, e mesmo não sendo Ele (Deus), o causador daquela angústia, Ele providenciou o alento através de um anjo que fortalecia seu amargurado filho. Entretanto, era uma angústia quase insuportável, e o corpo sofrido de Jesus começou a suar grandes gotas de suor que escorriam contínuas até o chão.

Alguns não acreditam que isso seja verdade, mas muitos conhecem de perto dores emocionais que se transformaram em dores no corpo, febres, náuseas, gastrites e conhecem casos que até evoluíram para outras doenças. Então, quando acontece muito próximo, fica mais fácil de acreditar.

A Lição do Filho

Passar de largo ou virar o rosto virou costume diante dos problemas que atingem as outras pessoas, mas somente sentimos o desespero da angústia quando é conosco.

Há alguns meses meu filho passava por uma angústia tremenda diante de uma situação que eu não sabia como ajudá-lo, e ele mesmo me disse que era a dor mais excruciante que ele já havia sentido. Impotente, eu estava para dizer que ia passar quando ele me lembrou da angústia de Jesus.

Em meio aquela dor, meu filho estava resignado a dar um mergulho naquele tempo de angústia pensando na dor de Jesus. E fiquei pasmo, eu queria confortar e estava aprendendo com aquele rapaz de 20 anos de idade.

Eu já sabia o que dizer e como os papéis se inverteram mesmo assim eu resolvi perguntar: “Filho, e como é que você fica? Como essa angústia passa?”

Choramos abraçados dentro do carro naquela noite sob o pacto de que eu nunca falaria nada, até que hoje ele me autorizou.

Ele respondeu. “Pai, só existem duas formas de essa dor passar: uma, a pessoa que causou reconhecer e fazer algo para que tudo passe, que realmente nos lave desse mal. A outra forma, pai, é pela saturação. Nosso corpo, coração e mente se saturam, então que percebemos que é melhor nos afastarmos daquele ser humano que nos causa esse sofrimento.”

A angústia na qual ele estava imerso não o impedia de alcançar a superfície e respirar algo que o revigorava. Ele chorava, mas mostrava a força de um guerreiro nato. Eu via no meu filho a fortaleza que meu pai possuiu e que me inspirou. Ele transparecia a angústia embora tentasse escondê-la de nós para nos poupar. Somente eu soube quando a angústia dele foi embora de vez.

Emergindo

Ele se tornou meu mestre em como lidar com esse tipo de sentimento. E foi nele que busquei informações sobre como ele se sentiu após ter emergido.

Novamente ele citou Jesus: “Jesus morreu, pai.” Ele disse.

Deus pediu uma forma de demonstração de amor para Caim e Abel. Abel obedeceu e agradou a Deus, Caim fez do jeito dele, Deus se quisesse que aceitasse, mas Deus não pode aceitar aquele amor e Caim foi rejeitado.

Jesus quis ser amado de uma forma e ensinou esse amor, não aceitaram, queriam de outro jeito, e o mataram. Mas Ele ressuscitou porque deixou outras pessoas aqui que queriam o amor dEle.

Meu filho disse que ressuscitou também, precisou optar entre continuar sofrendo e emergir e respirar um novo ar e não mergulhar mais naquela angústia imposta por outra pessoa. A angústia de Jesus foi tamanha que o levou a dizer: “Pai, por que me desamparaste?” e meu filho disse que fez a mesma coisa, mas nunca perdeu sua fé.

A pior lição foi descobrir que alguém era capaz de causar aquela dor em outra pessoa.

Então terminamos esse ciclo ou iniciamos outro? Foram bons e maus bocados juntos, eu nas minhas angústias e cada um de vocês com as suas, mas sempre nos apoiando mutuamente.

Ao comemorarmos qualquer vitória hoje, vamos procurar sentir a dor do nosso próximo, e principalmente, vamos evitar causar dor no nosso próximo. Não adianta celebrar, se minhas felicidades pesam sobre você, ou se estou tão cego diante de minhas conquistas, que deixo você em segundo plano, pois meu momento de comemorar ninguém pode atrapalhar.

E na lição final que meu filho me deu, ficou um versículo que cantávamos aqui em casa numa canção e que registra uma opção de respeito:

“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” Salmos Capítulo 119.11