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Refletir sobre a violência antes do apertar do gatilho

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A banalização dos atos de violência tem preocupado toda a sociedade, porém, o que vem a agravar ainda mais esta realidade é maneira como este fenômeno tem sido veiculado pelos meios de comunicação. Sendo transformada em produto tanto por sensacionalistas inescrupulosos quanto por aqueles que geram riqueza com a “indústria do medo”.

Espanta-nos todos os dias as inomináveis barbaridades vistas nos programas de TV, nos causando choque, revolta e sentimento de impotência diante de um monstruoso número diário de notícias relacionadas à crueldade humana. Correndo certo risco de banalização e frieza, quando chegamos ao ponto de não nos sensibilizarmos e não nos causar mais tanto espanto. Isso parece muito comum, principalmente nas grandes metrópoles.

Existem programas de TV que são apresentados por locutores bizarros, que são orientados exatamente para explorar o lado mais deplorável do fenômeno da violência: o sensacionalismo e a ignorância. Os atos de barbaridade são expostos atrelados a uma locução repleta de apelo emotivo. Estes mesmos programas não apresentam nenhuma disponibilidade para fazer o telespectador refletir sobre os diversos e inúmeros fatores que são intrínsecos aos atos de violência.

A ignorância é vizinha da maldade, assim diz o inteligente provérbio árabe (muito bem utilizado por Renato Russo na canção Do espírito de 1994) que nos lembrar que a mesma, fomentada pela falta de formação e miséria, seriam as grandes contribuições para construção de opiniões empobrecidas e irracionais da maioria bovina que parece ávida por soluções imediatas e sangrentas para combater a própria violência.

Os apresentadores lacaios, sem nenhum constrangimento, fazem apologia à tortura e a métodos medievais para combater a mesma.

Algo muito comum na exploração deste fenômeno, é a busca de visibilidade destes mesmos apresentadores, que desejam se promover através da credibilidade garantida pela aparição diária e apelativa nestes programas bizarros. Numa conduta muito previsível, acabam se candidatando, se elegendo à cargos públicos para logo prestarem serviço imundo e inútil para o banditismo politiqueiro e a vigarice eleitoral (obviamente que, camuflados como “representantes do povo” ou o “amigo certo das horas incertas”). Atendendo de forma teleguiada as orientações de coronéis e oligarcas que controlam o estado, ou simplesmente aqueles que lhe pagam propina.

Os donos dos meios de comunicação em nosso país estão pouco interessados com a violência de fato, mas apenas em transformar este fenômeno em espetáculo, em mais audiência, em atrair mais patrocinadores etc., Quando estes programas bizarros apenas exibem as cenas deploráveis de violência, estão mostrando o fato, mas sem estimular o debate da questão que não nos parece nada simples de se resolver.

Os fascistas que dão suporte ideológico para este tipo de programa desejam que as instituições que deveriam zelar pela cidadania, pela promoção de seres éticos e pelo bem-estar comum, ajam com a barbaridade e a irracionalidade dos ditos criminosos, usando métodos medievais contra os mesmos. Pensamento estimulado pela avidez por soluções rápidas e imediatas como a dos regimes tirânicos e facínoras vistos na história da humanidade.

Tarefa praticamente impossível para apresentadores que carecem inclusive de algum grau de inteligência: ao invés de falarem de compra de mais armas e construção de mais presídios, poderiam estimular o pensar dos telespectadores bovinos. Sobre os princípios que regem nossa sociedade “humanista”, “cordial” e “acolhedora”, em que o poder de consumo sobrepuja a cidadania e valores humanos, fazendo com que a vida humana tenha pouco ou nenhum valor.

Importante lembrar que não existem soluções de curto prazo para o fenômeno da violência, que a falência da educação (familiar, escolar, etc.) e dos vínculos humanos também contribui para o mesmo, pois parte significativa dos envolvidos em crimes são pessoas muito jovens (e homens!). Em parte grande das situações de furto, buscam corresponder aos estímulos consumistas incutidos a todo instante, para assim se sentirem (doentiamente) saciados, incluídos e respeitados.

Preferimos fazer reflexão sobre a violência antes que o gatilho seja apertado, num olhar preventivo e profilático: pensar os indivíduos, os valores, a sociedade que os rege e problematizá-los. Em como pensar nos mecanismos diversos que possam estimular a violência de várias formas, pois reprimir o crime sem refletir suas múltiplas causas é inútil e contraproducente.

Enquanto imperar ignorância, sensacionalismo, audiência bovina e lacaios ávidos por mais lucro, é quase impossível que encontremos respostas salutares para fenômeno tão complexo como a violência e as inúmeras particularidades de cada contexto.