Viva aridez do dia-a-dia
Que traz morbidez ao coração
Uma vida de semeio umedecida
Que floresce apenas na imaginação
Um quadrado meio a uma enorme esfera
Diminuto, discreto, desprezível
Abraçado por uma outra grande gleba
Que o torna bem ainda mais risível
A soja nasce, o milho cresce, o gado pasta
Sob a benção do mercado e do veneno
Irrigando os bolsos de quem muito gasta
Para o gozo de quem necessita menos
Não se planta para quem tem que comer
Mas somente para quem pode pagar
Espoliados do direito de viver
Usurpados do direito de sonhar
Antiquada, engessada como um fóssil
Sob a sombra colossal do agronegócio
A família agricultora então padece
Enquanto o lucro do setor hoje só cresce
Desespero de quem sente enorme fome
E as promessas que só ficam no gerúndio
A desgraça, essa sim tem um grande nome
Que se chama tão somente latifúndio.