[Essa história relata um casal específico, que levou ao pé da letra as suas ideologias. Qualquer semelhança com a realidade não passa de mera coincidência].
Depois de 5 meses de amor na militância, uma feminista e um militante de esquerda resolvem morar juntos e ter sua primeira relação sexual. Ambos muito excitados, doidos para liberarem suas pulsões, chegam em seu pequeno quitinete e resolvem logo tirar a roupa um do outro, se beijam e abraçam.
O militante leva a menina feminista para a cama e… ela, meio deslaçando-se dos braços do militante, diz:
– Peraí, como vamos fazer?
O militante para, olha para ela, muito excitado, e diz: – Como vamos fazer… quer dizer que você nunca fez?
– Fiz… é que quando eu fiz eu tinha uma outra visão disso…
– Como assim? Senta aqui, vamos conversar…, diz o militante, sentado no pé da cama e traz a feminista para perto, para conversar.
Ela, com a expressão séria diz:
– Temos que fazer uns acordos…
– Tipo?
– Eu não posso ficar de quatro para você. Eu estaria me submetendo, me rebaixando, em posição animalesca para um homem. Foram anos de submissão, eu não vou ficar nessa posição…
– Tudo bem, amor… amor não, que é um sentimento burguês. Você é minha companheira!
– Tá… e outra, eu não quero que você me bata. Eu até gostava antes, mas é que se você me bater eu estaria dando vasão não só a dominação masculina como incitando simbolicamente a violência contra a mulher…
– Concordo, companheira!
– Não acha que companheira é demais, não?
– Você acha que eu vou te chamar de amor? Amor é um sentimento vendido, o capitalismo já capturou a noção de amor romântico. Veja as novelas, veja o mercado! O amor é uma ilusão, não existe…
– É mesmo… então, não vou ficar de quatro, não pode me bater, nem me chamar de amor…
– Nem de safada, puta, cachorra ou qualquer tipo de agressão verbal, porque eu não estaria te respeitando enquanto uma companheira cujo ideal é o mesmo do meu. Você sabe, eu não quero reproduzir o ideal machista, muito menos sua linguagem…
– Você é um companheiro e tanto! Ah, lembrei, eu não vou fazer oral em você, eu não me sentiria a vontade, assim como de quatro, eu me sentiria submissa…
– Tudo bem, companheira!, disse o militante, já com o corpo frio, meio cabisbaixo.
– O que foi? O que você está pensando?
– Não acha que me perguntar o que estou pensando não é infringir minha liberdade de pensar no que quiser, não?
– Ora, companheiro, devemos colocar em pauta tudo, lembre-se que isso é uma atitude egocêntrica, um tanto liberal…
– É mesmo né?
– É… o que você está pensando?
– Estava pensando como é que vamos começar a trepar…
– Trepar? A gente não trepa, a gente tem relações sexuais livre.
– É… tem razão… mas como é que iremos fazer? Com todas essas restrições…
– Restrições? Não, isso é a nossa liberdade. Garanto que com isso iremos ter a relação sexual mais livre de preconceitos que algum casal jamais teve.
– É mesmo…
– Então…
– Estou com um pouco de sono.
– É, eu também.
– Amanhã conversamos mais, temos muita coisa pra conversar ainda. Não podemos nos submeter a essas submissões burguesas, machistas, capitalistas…
– É.
– É.
O lindo casal foi dormir. E passaram semanas discutindo formas de se relacionar na cama. Será que eles conseguiram transar como queriam? Aliás, será que eles conseguiram transar?