Por Paulo Afonso Linhares, Professor da UERN
Quando Lula foi candidato pela quarta vez à presidência da República, depois de derrotado por Collor e duas vezes por Fernando Henrique Cardoso, a imprensa conservadora e os direitistas de todos os matizes apostavam que ele não ganharia a eleição e, num arrobo tipicamente udenista, diziam que se ganhasse não tomaria posse e se empossado não governaria. Lula ganhou a eleição para o tucano Geraldo Alckmin, tomou posse solenemente, governou por quatro anos e foi reeleito para mais mandato que foi inteiramente cumprido e que teve na eleição da presidente Dilma Rousseff sua maior realização política.
Naquele começo, depois de assustar a população e, sobretudo, parcela significativa do empresariado – o então presidente da FIESP, Mário Amato, até ameaçou ira emborca do Brasil – a banda conservadora viu que malhava em ferro frio e que somente conseguiria algum êxito se assestasse um duro golpe no governo Lula, que a cada dia apresentava melhores resultados. e decerto foi bolado um plano a partir do pressuposto de que o então presidente Lula, despreparado e com pouco apetite para o poder, segundo imaginavam, era manietado por um grupo de cardeais petistas, cujo “camerlengo” seria o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Claro, se o “entorno” de Lula fosse “detonado” este não teria condições de sobrevivência política; o governo petista ruiria como um castelo de cartas.
Para o plano dar certo, era preciso que todo o primeiro time do governo fosse “explodido”. E inventaram essa história de “mensalão”, ou seja, foi exposto o esquema de compra de votos de parlamentares aliados do governo, prática mais do que usual nas três esferas do poder federativo desde priscas eras. Claro, precisavam de uma bem azeitada CPI e alguns aliados do governo descontentes. Foi nesse momento que apareceu o falastrão Roberto Jefferson, presidente opcional do PTB.
Um a um os principais auxiliares do presidente Lula fora sendo retirados da cena política, inclusive José Dirceu e o presidente nacional do PT, José Genoíno. Apesar da crise grave, essas sucessivas quedas de auxiliares deixaram incólumes a figura o presidente e o governo cada vez mais apresentava excelentes resultados. Foi então que os adversários deduziram que o grande quadro do governo Lula era… Lula! E que era ele mesmo o maestro da orquestra governista. Descoberta tardia: Lula ainda faria dois períodos de governo de grandes realizações e muito bem avaliado pela opinião pública.
Entretanto, o espetáculo não terminou com o fim do governo Lula, porquanto o procurador geral da República denunciou 38 pessoas – de José Dirceu à banqueira Kátia Rabello, passando pelo publicitário Duda Mendonça e pelos deputados Valdemar Costa Neto, José Genoíno, João Paulo Cunha e o bispo Rodrigues. A presença de deputados federais fixou a competência para processo e julgamento de todos os réus no Supremo Tribunal Federal, posto que nas defesas de muitos desse
acusados tenha havido pedidos de desmembramento do processo. Depois de marchas e contramarchas, o processo de mais de 50 mil páginas teve o seu julgamento iniciado no Supremo Tribunal Federal neste começo de agosto.
Com efeito, “as vivandeiras alvoroçadas que vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar”, referidas pelo Marechal Castelo Branco, agora procuram um solução que nasça das togas dos ministros do Supremo Tribunal Federal, em julgamento que despreze as questões jurídicas e aja politicamente. Essa é a grande incógnita que se coloca: qual será, afinal, a posição da mais alta Corte deste país-continente: com uma enorme pressão da imprensa conservadora e da própria oposição dificilmente haverá um julgamento técnico-jurídico; as condenações de grande parte dos réus pode até aplacar os anseios da população, mas, poderá fazer com que o Supremo Tribunal Federal saia desse julgamento com um tamanho bem menor do que quando o iniciou. A conferir.