Encontrei em meus arquivos um texto muito bacana que merece ser divulgado. Há tempos, quando o consegui, afirmaram que tratava-se de um texto de Luis Fernando Veríssimo. Segue:
Escrevi ontem* que, em tese, a quantidade de partidos permite uma espécie de sintonia fina para quem quer ter atividade política no Brasil, mesmo que seja só votando exatamente como pensa. Portanto caberia aos eleitores — e aos partidos — saberem o que pensam, exatamente. Você, por exemplo, sabe o que é? Está certo, é de esquerda como todo mundo. Eu também sou. No Brasil, até a direita é de esquerda, pelo menos em público, ou até chegarem ao poder. Mas esquerda de que lado, e em que grau de separação do centro? Faça um teste. Fique de pé. Não precisa ser agora, primeiro termine de ler o jornal. Imagine que você está num ponto eqüidistante dos dois extremos do PMDB. Aí é o centro. Digamos que você seja a favor das privatizações em alguns casos, mas acha que deve haver uma presença forte do Estado em setores estratégicos como os serviços públicos etc. Dê dois passos para a sua direita. Pensando melhor, você acha que tudo deve ser privatizado, mas sob fiscalização do Estado. Dê mais três passos para a sua direita. Pensando melhor ainda, o mercado se fiscaliza sozinho, sem a participação do Estado. Mais três passos. Quer saber de uma coisa? O Estado não serve para nada, em vez de Estado mínimo tem que haver é Estado nenhum e… Cuidado! Você passou da direita e virou anarquista! Esqueça as privatizações, o mercado, o Estado e a economia e decida, rápido, que nada disso interessa, o que interessa é que é preciso salvar o Brasil dos comunistas (e da anarquia), e volte dois passos. Pronto, você está salvo. Agora é só extrema direita.
Você está no centro. Decide que o Brasil precisa, antes de mais nada, de desenvolvimento e empregos, sem necessariamente sacrificar este modelo econômico. Dê um passo pequeno para a sua esquerda. Pensando melhor, você acha que a prioridade deve ser o desenvolvimento e o social, mesmo com o risco de desagradar ao capital especulativo internacional. Dois passos para a esquerda. Ou que nada: muda tudo, estatiza tudo, socialismo mesmo, mas com o Armínio Fraga. Cinco passos. Ou quer saber de uma coisa? Não precisamos de ninguém, mercado auto-sustentável, Brasil potência para os brasileiros, governo forte e… Cuidado! Você passou da esquerda e está cercado de ultranacionalistas furiosos, muitos deles de uniforme! Calcule quantos passos precisa voltar para ser de esquerda outra vez, e uma esquerda viável. Depois é só escolher o partido e esperar que ele também tenha feito o teste.
*Teste-se
Há mais de um ano eu tinha visto um “teste político” na internet, onde você respondia algumas questões a respeito de economia, relacionamentos, visão de mundo e sexo, entre outras coisas, e o computador te definia, conforme certos parâmetros, como de esquerda, direita, libertário e/ou autoritário. O teste foi feito por psicólogos ingleses (é em inglês) e aplicado também a alguns políticos, e também localizaram algumas figuras históricas como Gandhi, Hitler e Stalin numa tabela, para você ver de quem mais se aproximam suas idéias.