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A produção cotidiana de sensações e emoções pré-fabricadas

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Muitas são as constatações psicossociais ao observarmos a relação das emoções com os estímulos externos produzidos pelas poderosas corporações da publicidade, em nome da manutenção dos impérios econômicos; deixando na ordem do dia a instantaneidade, como elemento primordial dos eventos cotidianos.

Num cotidiano de perceptível fluidez, impressiona-nos a intensidade das induções e estímulos (ora explícitos ora subliminares) que nos oferecem a felicidade e sensações de satisfação: “faça”, “seja”, “use” e principalmente, “compre”. Isto nos dá a impressão de que os maquiavélicos homens produtores destes estímulos sabem exatamente dos níveis de vulnerabilidade a que estão expostas as pessoas “comuns”, as que perambulam à procura de sensações que preencham seus vazios existenciais; mesmo que isto resulte em fugacidade e prazeres efêmeros.

Lamentável constatarmos que a manutenção das sociedades modernas e contemporâneas, em sua prática, é baseada no consumismo. O que implica na ausência de produção de indivíduos afetivos e criativos, dos quais tanto necessitamos para a construção de convívio com menos crueldade e apreço pela vida e dignidade humana.

O saudoso geógrafo Milton Santos já havia constatado tetricamente que estas sociedades são incapazes de gerar cidadãos e sim consumidores.
As grandes corporações econômicas celebram os altos níveis de consumo, que muitos confundem com qualidade de vida. As mesmas não estão nem um pouco preocupadas com o adoecimento psíquico de suas cobaias (que podem se resumir, em sua maioria: seres agressivos, narcisistas, depressivos e impotentes afetivos) que reproduzem as próprias mazelas interpessoais que as afligem.

Dentre a produção de seres ávidos por consumir, observamos como conseqüência o esvaziamento das relações humanas, calcado na, cada vez maior, precariedade pessoal e ausência quase que total da espontaneidade dos gestos e ações.
Mais agravante ainda será a construção das percepções (pessoais e coletivas) intoxicadas e doentias dos seres sociais, incapazes de perceber que são os reprodutores e mantenedores de uma gigantesca rede de exploração da miséria humana, devidamente disfarçada e camuflada (quase imperceptível) pelo colorido e “vivacidade” dos ambientes, mensagens e as sedutoras e convidativas imagens de consumo.

A produção da sensação permanente de frustração é um poderoso instrumento de manutenção do consumismo doentio. Sensação esta que pode, inclusive, ser associada a um importante dado: parte grande dos furtos promovidos por jovens (mesmo os de classe média) são motivados pela vontade de obter objetos de consumo glorificados pela publicidade e pela coletividade quase psicopata; ou criação de simulacros de situações de exibicionismo, luxo e poder.

As sensações e emoções fugazes originárias dos estímulos consumistas promovem mais inquietações e infindas frustrações nos indivíduos perambulantes e “invisíveis”. Basta observamos as expressões dos mesmos quando estão nos corredores dos templos e santuários de consumismo (shopping center), a intensidade dos seus olhares “masturbatórios” diante dos objetos desejados para então percebermos e entendermos a eficácia da publicidade maquiavélica diante de seus objetivos.
As grandes corporações econômicas vendem, através de suas ferramentas publicitárias ou de seus templos, sensações “prontas” e pré-fabricadas de prazer e promessa de felicidade; numa realidade em que não serão necessários a espontaneidade, o sentir, interação humana e afeto. Fica-se limitado apenas à condição de consumir e à pouca capacidade de pensar!!!

Para concluir, abordamos esta capacidade de pensar e refletir (o que mais tem sido evitado pelos indivíduos perambulantes). Parece ser muito perigoso e comprometedor, por exemplo, pensar sobre o que diz o filósofo Zigmunt Bauman sobre a contemporaneidade: “O advento da instantaneidade conduz a cultura e as éticas humanas a um território não-mapeado e inexplorado, onde a maioria dos hábitos aprendidos para lidar com os afazeres da vida perdeu sua utilidade e sentido.”