Embora sombrio e melancólico, Batman, antes de Nolan, não teve uma adaptação digna nos cinemas. Com o desastrado Batman & Robin (1997), o diretor Joel Schumacher fez tudo o que não deveria ter feito com o personagem, fazendo deste filme um motivo para muitos fãs do homem morcego passarem anos de terapia para tentar esquecer. Mas graças a visão “realista” do genial diretor Cristopher Nolan (A Origem), foi dado mais uma chance ao herói apagar seu desastrado passado cinematográfico e ser tão bem sucedido no cinema quanto é nos quadrinhos. Finalmente os executivos de Hollywood perceberam que, se quiserem adaptar um personagem já consagrado nos quadrinhos, eles terão que respeita-lo nas suas características principais e naquilo que o fez vender tantos “gibis”. Coisa que os filmes anteriores de Batman não fizeram (embora Tim Burton tenha se aproximado um pouco disso nos dois primeiros filmes da franquia anterior). Batman é um herói sombrio e melancólico, com um certo traço esquizofrênico, criado e moldado a partir de uma tragédia. Por isso, nunca houve sentido o elemento cômico nas suas adaptações para o cinema e televisão.
Com um diretor e roteirista que entendiam isto, e com um maior amadurecimento dos executivos que deram o dinheiro e a liberdade para o diretor reinventar o herói no cinema, o Batman de Nolan conseguiu agradar os fãs do personagem, e ainda ser algo independente dos quadrinhos. Nolan criou um novo universo para Batman, um universo mais cruelmente realista, do mesmo modo que Frank Miller fez com o personagem nos quadrinhos: algo novo e genial, mas sem fugir das características dramáticas essenciais do personagem, ao contrário, até mesmo tendo essas características como base fundamental ao desenvolvimento dos seus roteiros.
Mas, e o filme que fecha esse bem sucedido retorno ao cinema?
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge comete falhas, principalmente naquilo onde os filmes anteriores foram tão atenciosos. Se em Batman Begins (2005) tudo é muito bem justificado, explicado e amarrado, nesse terceiro filme há lacunas que exigem um certo esforço de alguns a não levarem isto muito à sério. Além do fato de que, com uma atenção maior nas entrelinhas do roteiro, é possível prever com bastante antecedência certos acontecimentos importantes, o que faz do roteiro conter em si seus próprios spoliers.
Outro detalhe que me incomodou foi a sensação de que certos detalhes estava sendo desenvolvidos de forma precipitada. Por exemplo, a conclusão de um empresário a respeito de Bane (Tom Hardy), além da péssima atuação de uma atriz em sua última cena.
Entretanto, o filme também surpreende em momentos dramáticos perfeitos. Dentre eles destaco um emocionante diálogo entre Bruce Wayne (Christian Bale) e Alfred (o impecável Michael Caine, em um dos seus melhores momentos como o mordomo de “master Bruce”). E, embora peque algumas vezes no ritmo, o filme traz bons momentos, como, por exemplo, a esperada volta do Batman, ausente por oito anos. Num plano geral, Nolan mostra toda a perseguição da polícia sobre o personagem com uma grandiosidade nunca antes vista.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é, acima de tudo, a consagração de um mito dos quadrinhos e do seu universo. Durante a projeção, Nolan insere vários flashbacks, que, intencionalmente ou não, se mostrou como uma espécie homenagem à trajetória do herói ou, até mesmo, a própria trilogia, dando a ela um claro tom de despedida. Entretanto, no filme quem mais aparece não é seu protagonista oficial, mas a mítica cidade de Gotham. É Gotham com seus personagens, seus excêntricos vilões, suas ruas, sua integridade sempre ameaçada, ora pela máfia, ora pela Liga das Sombras que tenta “purificá-la”, que se torna a grande personagem dessa épica conclusão.
O desfecho do filme é a coroação de uma trilogia que provou que é muito mais do que um filme de super-herói. Feito com inteligência e uma certa dosagem de realismo, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é a consagração definitiva do personagem no cinema.
Ficha técnica:
Título original: The Dark Knight Rises (EUA , 2012 – 164 min.)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, David Goyer
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Michael Caine