Por Anax Ribeiro, Professor de inglês e Jornalista,
Macunaíma, do livro homônimo de 1928, é fruto da conclusão do autor, Mário de Andrade, que afirmava que o brasileiro não tinha caráter. Segundo ele, a falta de caráter seria derivada da falta d identidade do povo brasileiro.
Fazendo uma leitura atualizada da obra, pode-se ver que esse conceito não mudou muito desde que ela foi publicada pela primeira, lá na segunda década do século passado.
A televisão, por exemplo, nosso veículo de integração nacional, está recheada de heróis sem nenhuma ética, moral. Para eles o que vale é o dinheiro, ou seja, ter e não o ser. Fica difícil separar herói de bandido em alguns momentos.
Macunaíma era um malandro na ficção. Hoje, a malandragem impera tanto na ficção, quanto na realidade. Cada um que queira levar vantagem sem se importar com o coletivo. A não ser quando são pegos pelas operações de nomes criativos das polícias. Aí eles choram por remorso, arrependimento, vergonha ou por que foram pegos e não aproveitam o fruto do roubo.
Heróis morrendo de overdose, inimigos históricos em alianças pelo poder, apenas por alguns segundos a mais na Tv, pessoas aparentemente corretas da porta pra fora, mas com desvio de comportamento grave nos bastidores. Tudo isso mostrado em forma de espetáculo, com cenas exclusivas, conversas gravadas através de grampos telefônicos autorizados pela justiça, muitas x romanceadas em capítulos recheados c intervalos p vender produtos p emagrecer…acompanhado d músicas c letras kda x mais engraçadinhas, c duplo sentido, e paupérrimas em criatividade.
Há uma “desidentidade nacional”. Em quem confiar? Em quem se espelhar? Cinco regiões unidas pela mesma língua, agredida violentamente todos os dias, substituída por gírias ininteligíveis de jovens idiotizados, como diria o título do livro de um amigo meu.
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, do início do século XX, inaugurou um estilo literário tipicamente brasileiro, de vanguarda, em meio a uma sociedade atrasada, ainda agrária e reacionária.
Os Macunaíma modernos são fruto de uma sociedade que consome produtos importados de segunda linha, que se divide em “tribos” para se encontrar, que não largam os celulares nem para comer, que vê casos de corrupção explícita mas não se impressionam, q é q agora é urbana e não sabe o q significa a palavra “reacionária”.