Meninos e meninas, eu vi! Vi a lista das palavras e expressões que estão com os dias contados não só nos dicionários, mas também nas nossas bocas maldosas, ofensivas e preconceituosas. Foi de relance, pois na hora que estava a sacar caneta e papel para anotá-las, veio um sujeito arrogante e me tomou o papel das mãos. Mas meus olhos não me enganam. Juntos com minha memória de formiga, pude guardar algumas que vou compartilhar com vocês para que possamos pronunciá-las pela última vez sem que tenhamos que ser incomodados pela patrulha.
Vamos a elas.
1 – Filho da puta
Justificativa: A expressão de baixo calão disseminada de maneira geral por todas as classes sociais ofende de maneira preconceituosa as Profissionais do Sexo, bem assim seus pobres filhos que têm que carregar a infâmia pelo simples fato de terem vindo ao mundo pelo ventre de uma dessas mulheres. Assim, opina pela sua imediata retirada de circulação.
2 – Vândalo
Justificativa: A conotação pejorativa que a palavra assume na boca da população tem potencial para ofender os descendentes deste povo extinto há mais de 1.500 anos, de modo que é de bom alvitre suprimi-la do uso corrente como significado de arruaceiros e baderneiros, restringindo-a ao sentido histórico de identificação de um povo ancestral.
3 – Burro/Jumento/Cavalo/Jegue
Justificativa: Todas as palavras em questão atribuem aos que são por ela rotulados a pecha de pessoas incapazes, ignorantes, despreparadas, ofendendo gravemente a honra destes animais tão úteis à sociedade. Assim, atendendo a um apelo da Sociedade Protetora dos Animais, opinamos pela supressão dos significados em questão.
4 – Baixinho
Justificativa: O adjetivo em comento é totalmente inadmissível em um país onde a média de altura está abaixo da mundial, de modo que ser uma pessoa enquadrada nesta média, ou abaixo dela, só a faz igual à maioria, sendo descabido, portanto, que assuma uma conotação escarnecedora. Sugere-se que seja também suprimida quando aplicada às pessoas, à exceção, claro, do Baixinho Romário, o heroi do Tetra.
5 – Palhaço
Justificativa: Costuma-se usar o vocábulo em questão de maneira pejorativa quando se quer dizer que o povo aguenta rindo as falcatruas das autoridades brasileiras. Ora, o palhaço de verdade só nos dá alegria e risos, e o povo, por evidente, leva a coisa na brincadeira como espectador do palhaço, e não como um palhaço. Assim, a ser mantida a conotação teremos um dano coletivo que deve ser evitado com a proibição de se chamar o povo de palhaço – mesmo que ele o seja de fato.
Neste momento o papel me foi tomado das mãos e não pude memorizar o sentido que eles querem que prevaleça para as outras palavras constantes da lista. É aguardar para ver. Por enquanto, caríssimos, é bom ir guardando os velhos dicionários em locais escondidos, pois talvez eles, os patrulheiros, queiram adentrar em suas casas para tomarem-no de você, alegando que se trata de material altamente subversivo cuja circulação está terminantemente proibida.