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Relatos de uma Cena Anarcopunk

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Por Cesar Silva – Jornalista

Vídeo documentário sobre o surgimento da cultura anarcopunk em Natal, Rio Grande do Norte. Foi produzido em 2008 e apresentado como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da UFRN por César Medeiros e Danilo Tázio. Foi re-editado em julho de 2012 com novos cortes, cenas e imagens de arquivo que haviam ficado de fora, e reduzido em 20 minutos para exibição.
Foi produzido em cerca de 2 meses, entre idealização, captação, edição e apresentação. Feito no esquema D.i.Y. (do it yourself), com recursos zero e muita força de vontade e correria, o filme procura contar como a cultura punk chegou à cidade de Natal, como se organizou e se consolidou com base no anarquismo. Bandas, coletivos, zines, eventos, tudo relatado por alguns dos personagens ativos da cena punk potiguar entre 1980 e 2003.

Breve história do produtor/documentário: Me formei em jornalismo pela UFRN em 2008. Durante todo o curso eu pensava em fazer um doc sobre a cena musical de Natal, pois venho tocando em bandas e participando dela desde 1995 e sabia que tinha muita história interessante pra se contar, que seriam esquecidas caso não fossem registradas. A princípio, pensei em falar sobre as bandas alternativas em geral, abrangendo tudo o que fosse rock n’ roll, incluindo punk, metal e rock alternativo. Sempre tive mais afinidade com pessoas envolvidas com o movimento punk e delas ouvia as melhores histórias, então terminei optando por focar mais na cultura anarcopunk. Além disso, era bem mais interessante por não ser só uma manifestação musical, incluindo o jornalismo alternativo, a formação de coletivos, o discurso politizado com embasamento e a peculiar história de vida dos personagens. Em Natal, nos anos 80 e 90, pré-internet, era uma afronta ser punk.

Me juntei com um grande amigo, Danilo Tázio, que nada conhecia sobre o punk mas tinha interesse na produção do vídeo. Elaboramos um pré-roteiro, listando todos os possíveis entrevistados se baseando nas histórias que eu ouvia nas gigs e pelas ruas da Ribeira, bairro histórico de Natal. Tínhamos pouco tempo, muita gente pra entrevistar, nenhum recurso. Nosso orientador estava atolado em vários outros projetos e a UFRN não possuía equipamentos. Arrumamos uma câmera emprestada, que durante a produção foi roubada. A universidade nos “emprestou” um cameraman que nos ajudou a captar alguns depoimentos, com uma boa vontade meio duvidosa. Tivemos dificuldade em encontrar algumas pessoas que haviam se distanciado da cena e por isso não aparecem no vídeo.

Em dois meses, elaboramos o roteiro, fizemos uma pré-entrevista com Renato Maia, da banda Discarga Violenta, pegamos o depoimento de todos que conseguimos encontrar e descolamos a edição na faixa com um amigo que trabalhava com isso. Fechamos o vídeo nas pressas, com uma duração muito longa e alguns problemas técnicos. Mas conseguimos nos formar a tempo (era nosso último semestre e podíamos ser jubilados).

Sempre que eu assistia o vídeo percebia que muita coisa não tinha entrado, como alguns depoimentos, cartazes de shows, fotos, e muito material cedido por Leão, DDThrash, Renato, Jean, Anderson e nosso amigo Wagner, que estava bem envolvido com a cena anarcopunk. Ficava no ar essa vontade de re-editar o vídeo, agora que eu estava trabalhando com edição e podia fazer a montagem eu mesmo, com calma, escolhendo cada corte.

Essa oportunidade chegou agora em 2012, quando Renato disse que ia exibir o doc no CICAS, no Dia de Cultura Punk, evento anarcopunk que aconteceu em São Paulo no dia 7 de julho de 2012. Quem já trabalhou com vídeo sabe como é foda “re-abrir” o projeto e começar tudo de novo. Mas vi que a hora era agora e decidi deixar o doc com uma dinâmica, digamos, mais “exibível”, e não apenas um trabalho acadêmico. E agora comigo mesmo botando a mão na massa, varando madrugadas, fazendo novos cortes e incluindo o material que tinha ficado de fora.

O resultado é esse aí, um relato fiel e sincero, talvez com algumas lacunas, mas que traduz bem o espírito “do-it-yourself” do anarcopunk de Natal.

Convido a todos a conhecerem ou reverem essa história, uma dentre tantas que rolaram e ainda rolam na capital potiguar, e que atentamos para que ela não se perdesse apenas em relatos verbais e ficasse registrada pra posteridade. Cheers!!

César Silva.