Completar quinze anos sempre foi um sonho acalentado por nossas adolescentes. Debutar com toda a pompa e circunstância, trajada com um luxuoso vestido e ser esperada por fina assistência que lota o salão de um elegante Buffet. Sim, meus amigos, as festas de quinze anos sempre foram uma coqueluche da sociedade.
Isso para qualquer garota, menos uma: Maria Augusta de Almeida Bittercourt, a popular Mary.
Mary chegava aos quinze anos com a cabeça cheia de problemas. Nada muito grave como o aumento do preço do feijão ou a conjuntura econômica internacional, mas suficiente para cultivar algumas minhoquinhas no terreno fértil do seu cérebro adolescente sempre às voltas com romances vampirescos e ídolos da música pop.
As notas da escola eram excelentes, tinha boas amigas, era bonita e nenhuma característica de seu corpo era objeto de apelidos pitorescos a justificar um indesejado bullying. Era cobiçada pelos meninos de sua idade, e até mais velhos. Ou seja, tudo, tudo na mais absoluta normalidade.
Aí você pergunta: e que tipo de problemas essa jovem poderia ter?
Ah, a adolescência… É a idade em que procuramos problemas para nos preocupar. Talvez seja parte do ritual de amadurecimento. Ora, é nessa idade que ouvimos nossos pais dizerem “Quando você crescer vai entender!”. Mas queremos entender logo, e nada melhor do que criar nossos próprios problemas para talvez compreender o que se passa na cabeça dos adultos e, de quebra, tornar-se um o quanto antes.
E criamos! De repente chegamos à conclusão de que não somos populares o suficiente, que nossas notas não são as melhores, que não temos talento para o esporte ou que nossos amores não são correspondidos, e isso já é capaz de perturbar uma cabecinha juvenil.
São baboseiras? Para os adultos, sim. Mas você acha mesmo que um adolescente tem mesmo que estar sofrendo dia e noite por causa de uma crise cambial na Malásia ou da entressafra da cana-de-açúcar?
Pois bem. Mary sofria por problemas semelhantes e os guardava para si.
Às portas de debutar já viu a movimentação de seus pais no sentido de suprir a ausência cotidiana com um grande presente. Estava ela reclusa em seu quarto enfeitado, os cabelos comprimidos no travesseiro, as pulseiras, miçangas e brincos abundavam na vestimenta; fuçava as redes sociais com o seu notebook, compartilhando com estranhos suas aflições de adolescente com os fones de ouvidos grudados tocando músicas melancólicas, isolando-se do mundo exterior, o mundo com que não se preocupava ainda.
Seu pai entra no quarto e fala do assunto, dentro, claro, dos cânones tradicionais da sociedade:
– Filha, daqui há seis meses você completará quinze anos e eu vou lhe dar duas opções de presente: uma viagem para a Disney ou uma grande festa.
Sem tirar os fones do ouvido e sem desviar o olhar do monitor do computador, ela responde secamente:
– Quero um analista.
O pai coça a cabeça, olha com ar de dúvida e diz:
– Vou falar com sua mãe.
E saí confuso para se socorrer com alguém que possa lhe explicar aquela exigência inusitada.