O jornal tribuna do norte vem trazendo reportagens sobre o papel que as mídias sociais irá desempenhar nas eleições 2012.
Em que pese o esforço, louvável, de abordar e debater um tema novo. As análises não estão ultrapassando a profundidade de uma gilete deitada. Dizer que as redes sociais serão importantes para se comunicar com o eleitor é quase o mesmo que dizer que o céu é azul.
Urge ultrapassar a borda.
As redes sociais intensificarão um tipo de estratégia, já produzida por alguns candidatos no mundo real. As redes sociais terão a incumbência de espalhar uma pauta “negativa” sobre os adversários.
É preciso realismo para não subordinar a análise a uma visão idílica do processo eleitoral. Uma eleição, demonstra o sociólogo Pierre Bourdieu, é muito mais pautada pela tentativa dos candidatos de colar estigmas e visões reprovadoras no adversário do que propriamente debater propostas.
Proposta todo mundo tem. Elas são até vendidas na internet. E o marketing entra para fazer os devidos acabamentos. O elemento não equacionado é que o candidato também necessita – isto se quiser vencer – mobilizar os medos do eleitor e jogá-los contra o seu adversário. É uma atitude inerente ao processo de disputa política, diz Bourdieu.
E as redes sociais cairão como uma luva. Ou melhor, a levar em consideração a quantidade de fakes (perfis falsos) que estão gravitando na rede, já estão caindo.
O “mundo real” da política já conhece bem esse processo. Várias técnicas, similares a venda porta em porta de produtos, já são empreendidas com o intuito de “convencer” os eleitores de que o seu candidato é bom e que o outro representa o atraso.
Durante as eleições, um batalhão de soldados – uma espécie de militância privada – sai de porta em porta, apresentando, de modo bastante discreto para não tornar o objetivo evidente, as qualidades de fulano e os defeitos de cicrano. Tudo muito bem planejado. A pesquisa quantitativa mapeia e a qualitativa gera a pauta de convencimento.
Quando não ocorre a visita em domicílio, o enquadramento se processa em pontos de aglomeração. Nos centros de metrô, feiras, central de ônibus, de taxi, etc, são espalhados boatos, para que o adversário seja enquadrado pejorativamente. Essa estratégia apresenta o limite de surtir efeito apenas entre as classes E, D e C2. Não logra êxito entre as classes mais abastadas (c1, b2, b1, a2, a1).
E é aí que as redes sociais vão entrar. Isto porque, enquanto o Twitter é mais utilizado pelas classes A e B, o Facebook e ainda o Orkut apresentam um maior alcance entre os estratos A, B, mas também C (o twitter tem 20 milhões de usuários no Brasil. O Facebook 70 milhões e o Orkut ainda congrega 60 milhões de usuários).
Como as redes sociais são de gerações diferentes (twitter vem de uma geração posterior as do Facebook e Orkut), cada uma terá sua finalidade política. A vantagem do Twitter, até pelo seu modo de funcionamento, é que ele permite espalhar um boato/pauta mais facilmente. As redes Facebook e Orkut são mais “pessoalizadas”, ou seja, a vida do usuário está mais exposta, o que facilita a caracterização de um suposto “fake” (perfil falso). Este aspecto torna a ação em massa mais complicada no facebook e no orkut do que no twitter.
Não tenho a menor dúvida de que os candidatos e seus marketeiros, ainda que não mencionem, estão planejando tais estratégias. O exemplo do indiano, que trabalhou na campanha do José Serra, espalhando, através de grandes malas diretas, supostas teses defendida por Dilma, em 2010, está batendo a porta eleitoral.
É aguardar para conferir.