Enfrentei três greves durante a minha graduação. Era o tempo da gestão FHC e a UFRN juntava moedas para conseguir pagar sua conta de energia. Os departamentos estavam lotados de professores substitutos, contratados temporários. A estrutura universitária definhava, contexto que os críticos da administração Lula preferem esquecer.
As greves eram votadas e aprovadas em assembléia. Nas primeiras, os discentes apoiaram, inclusive, com manifestações. Porém, na medida em que as greves foram se multiplicando, muitos alunos – eu era um deles – começaram a questionar a validade da estratégia.
Foi então que me interessei em saber como se dava o processo de votação das paralisações. Na terceira greve que passei, fiz questão de comparecer e assistir a discussão sobre o assunto no auditório da reitoria/UFRN. O que vi foi uma reunião de um punhado de professores. Os rumos de milhares de docentes eram decididos por cerca de 40 professores.
A metodologia, pouco representativa e legitimadora do processo, começou a ser questionada por alunos e profissionais da educação e, na última greve, muitos docentes e discentes não engrossavam mais as fileiras do movimento.
Depois de um tempo e vendo a perda de aceitação das deflagrações se esvaindo, uma nova metodologia foi consentida e posta no estatuto do sindicato dos professores da UFRN, ADURN. Ao invés da aprovação em assembléia, as greves seriam votadas por plebiscito, ou seja, uma questão é posta em votação e todos os professores, sindicalizados, terão direito a sufragar seu ponto de vista nas cabines espalhadas pelos vários campi do RN.
O meio se configurou como o mais acertado. O último plebiscito, que ocorreu dia 12/06, se mostrou bem mais democrático. Ao invés dos 40 votos das antigas assembléias esvaziadas e, às vezes, meticulosamente montadas para fazer passar os interesses da cúpula sindical, o plebiscito levou mais de 900 (de cerca de 2200) professores as urnas.
Ganhou o NÃO a paralisação. Ganhou um projeto que diz respeito sobre como continuar dialogando com o governo federal. Quem perdeu, deve acatar o ponto de vista vencedor sem se “amufinar”. A oposição é o caminho.
Democracia é assim mesmo. Nossas escolhas nem sempre levam a melhor e é preciso aceitar o resultado que vem da maioria. Democracia tem de ser valorizada e preservada quando se ganha, mas sobretudo quando se perde. E isso vale para o grupo opositor a ADURN. A hora não é para mimimi.
DISCENTES
Não foram legais as declarações de membros da ADURN, tentando secundarizar/invalidar o papel dos alunos. Até porque, quando o sindicato precisa, não faz cerimônia para pedir o apoio dos discentes em seus protestos e discussões.
O DCE-UFRN perdeu boa oportunidade de lembrar aos dirigentes da ADURN um passado não muito distante em que o sindicato conclamava os “alunos para a luta”.