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De que lado estão alguns setores do Movimento de Professores e Estudantes?‏

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Por Dennys Lucas, Cientista Social e Militante

 

Ontem, 14 de junho, fui a Assembléia de Estudantes da UFRN, convocada com o intuito de debater a Greve nacional dos professores e técnicos administrativos. A intenção era tirar uma linha de qual postura os estudantes deveriam tomar frente ao cenário de luta pela educação que nos bate a porta hoje. Não deu coro. Alguns colocaram a culpa na Direção do DCE-UFRN, direção colegiada onde todas as forças organizadas tem espaço eleitoralmente, mas a maioria não ocupa. Ficando alguns bravos a gerir uma nau que precisa ser recolocada na direção dos novos tempos e marés que vivenciamos. Permaneci no espaço porque as forças queriam discutir um documento conjunto, além de tirar uma agenda conjunta. Tínhamos acordo, e achávamos necessário. Um dos principais méritos da luta e do processo de mobilização é aprofundar e trazer a público o debate dos temas que permeiam o fazer conhecimento e a articulação de atores, recursos e instrumentos para tal. Claro, quando se é este o verdadeiro interesse.

Dito isto, é precisamos avaliar quem são os atores e o que eles querem, porque não acredito que o problema que vivenciamos seja meramente um problema de direção, mas sim um problema de análise de conjuntura e projeto de universidade que queremos para o futuro – ou se eu, nós ou eles tem. Logo, se não teve coro, talvez tenha sido porque a pauta não está antenada ao desejo dos estudantes, ou mesmo, que a convocatória não está baseada na realidade concreta, quero dizer mais claramente, não vivenciamos um processo de precarização da educação superior, este terrorismo foge a realidade nua e crua de quem viu a universidade ser transformada nos últimos anos e viu os professores e técnicos em melhores condições de trabalho e melhor remunerado do que antes.

Então, o mapa da maré não é de precarização, ainda assim, é imprescindível que coloquemos no nosso roteiro a necessidade de chegarmos o quanto antes no destino desejado. Ou no porto mais seguro. Já que a luz do dia chega ao fim, assim como a noite surge e recomeça outro dia logo após, e é preciso termos resposta para os desafios que cada situação propicia. A universidade precisa de recurso, espaço e atores com aptidão para as respostas aos problemas que a sociedade elabora. O Estado precisa se responsabilizar disso. E eu acho que tem se responsabilizado em certa medida. A pergunta é: é a medida certa? É o suficiente para a urgência de determinados problemas e desafios que temos? Alguns parecem está interessado nisso, outros tem outros interesses.

Voltando ao momento da reunião. Depois de vários discursos políticos e retóricos – é diferente. A política tem de ser valorizada, a boa ou má política pode ser medida pelos interesses de cada um. É outros quinhentos. Um grupo de estudantes motivado por um grupo de professores e lideranças veio com uma proposta clara. Queria nossa adesão a luta dos professores e técnicos. Como se não estivéssemos. Repetiam a exaustão de modo a nós mesmo acreditarmos que estávamos de fora. Repetiam de modo aos que não estão muito no dia-dia da luta dentro da universidade também acreditassem que nós estávamos distantes. Repetiam que éramos contra a luta dos professores e técnicos. Repetiam, conforme já ensinou um ideólogo do regime nazista, de modo a fazer crer que o que nós estávamos fazendo era travar a luta pela educação.

Que luta é esta? Para onde vai? Qual o conteúdo? Em que base se sustenta os termos da luta? Repetiam as chamadas terroristas de que estávamos vivendo o fim do mundo, e que a luta dos grevistas estava crescendo e ia continuar matematicamente crescendo. E que nós éramos o impedimento. Repetiam que Adurn também era o impedimento. Queriam que encaminhássemos uma Carta de Repúdio à ADURN pela não Greve da UFRN, exigiam ao menos que a Carta demonstrasse o repúdio à “Gangue de professores” que estavam a frente da ADURN que impediam a Greve. Esqueceram eles, ou não quiseram lembrar, que a ADURN foi eleita e que a decisão de NÃO Greve foi tomada pelos professores. E se existe um “bando” ou uma “Gangue” que não quer a Greve, esta Gangue não são somente os professores do PT ou do PCdoB – até porque tenho certeza que não temos 513 filiados ao partido entre estes professores, assim como temos vários professores ligados ao PT que reivindicam a greve para agora – nem nós que refletimos sobre o momento e os métodos de luta e mobilização para esta situação.

Logo, estes sujeitos cheios de verdade – para eles ela é única – e ditos portadores do modus operandi -para eles só existe um modo de operar a luta – da democracia operária chamam de “Gangue” todos os professores e estudantes que não queriam greve agora, e decidiram autonomamente e soberanamente por não entrar em “Greve agora”. E deixo isto, porque não acredito que os professores que decidiram pela “não Greve agora”, não possam entrar no momento em que avaliem que não estão de fato avançando nas suas demandas específicas. Porque nenhum deixará de se preocupar primeiro com seu bolso, principalmente quando lá pesar por preferência político-partidária nenhuma. Até porque o que vemos é um distanciamento do Grande Debate de Universidade. Portanto, um distanciamento político-ideológico de que universidade queremos. E isto de ambas as partes como mostrarei agora.

Diante da solicitação de Carta de Repúdio à ADURN e apoio a greve dos professores e técnicos administrativos, nós tendo posição sobre a luta pela educação e o destino da nossa universidade, propusemos que não deveríamos fazer Carta de Repúdio à ADURN, porque o intuito da luta não era deslegitimar um processo democrático, inclusive comemorado pela própria oposição (que bradava aos quatro ventos a vontade da base em decidir pela greve imediata, derrotando os “pelegos” da ADURN, respaldando a situação de precarização – ou processo deste – que eles repetem existir nos últimos anos na educação superior brasileira), que era o plebiscito de consulta a base, de modo amplo e direto, no seu local de trabalho, e em horário que garantisse acesso ao voto dos professores em todo o decorrer do dia, de maneira que não evitasse sua participação.

Portanto, não serviríamos aos interesses da disputa política dos professores pela ADURN, e nem ao interesse partidário de desgastar o Governo Dilma (PT) por representar a oposição, mas que, mesmo sendo do PT, estávamos dispostos a tornar pública a pauta dos professores e técnicos administrativos, sendo solidário e estando junto, como militante que somos para a luta, desde que os termos fossem a luta pela melhoria da educação, logo propomos, nestes termos:

– Nota de solidariedade com a luta e processo de mobilização e debate dos professores e técnicos administrativos da UFRN, assim como a defesa dos seus métodos definidos coletivamente;

– Defesa pública do papel pedagógico que toda esta mobilização, seja da situação ou oposição, tem proporcionado à comunidade acadêmica sobre o modelo de universidade que queremos para a UFRN e para o Brasil;

– Pelos 10% PIB e 50% do Pré-Sal para a educação;

– Em defesa de um plano de carreira dos professores que possibilite a melhor produção de ciência no tripé da pesquisa, ensino e extensão;

– Contra o corte de 22% no orçamento do Ministério de Ciência & Tecnologia, porque não tem como pensarmos um projeto de nação soberana sem produzir as respostas para os problemas e desafios brotados da nossa sociedade;

– Questionar a autonomização das universidades públicas frente ao Estado, através da desresponsabilização do Estado e do Governo no financiamento da educação superior, possibilitando a subordinação aos interesses particularmente privatistas de suporte às empresas, e não cumprindo essencialmente sua função social diante das necessidades da maioria da população;

– A defesa de uma Universidade antenada aos problemas e desafios atuais e futuro dos povos;

– Contrários a política de ajuste fiscal desempenhado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento & Gestão;

– Contra a política de superávit primário que tolhe os investimentos sociais necessários ao desenvolvimento sustentável da nação e da solidariedade entre os povos em benefício de dívidas e juros infindáveis, comprometendo boa parte do nosso orçamento;

– A meritocracia deve ser repensada por meio da amplificação do debate sobre o modelo de universidade, em que converte os professores em empreendedores que ganham por projetos subordinados majoritariamente à lógica do capital, da alienação e do consumo irrefletido, frequentemente ao custo da ética na ‘produção do conhecimento’;

Logo, fica claro, nunca fugimos da Luta pela Educação que acreditamos nem muito menos do debate da Grande Política. Estamos presente, e independente da preferência política, ou mesmo, pela preferência política que temos, é que queremos a discussão nos termos do que é necessário para melhorar a educação superior em nosso país e em nossa universidade, e não nos termos para deslegitimar ou desfazer a opção tática, através de ataques pessoais, grupos organizados ou decisões democraticamente tomadas. Não necessariamente, quem não pensa como os sujeitos da verdade estão errados, simplesmente optaram por acertar de outra forma, e não tendo acertado, e tendo tempo hábil, como acredito que ainda temos, já que faltam 75 dias para o projeto chegar ao congresso nacional, poder mudar a tática e com a postura de quem apostou no cumprimento dos acordos e na negociação de quem sabe fazer política, para além de fazer jargão.

Entretanto, o interesse era outro. Não assinaram a proposta de unificação – esta aí em cima – e deram por encerrada a reunião. O interesse não pareceu ser a valorização da carreira nem o processo de mobilização da categoria – já que se lixam para o resultado da democracia e dos que pensam diferentes, são tidos como “Gangues” e “pelegos” – e muitos menos com o debate sobre a Universidade que Queremos. A intenção era clara e simplesmente deslegitimar os professores que “não queriam Greve agora”. E não compactuamos com revanchismo nem paredão para quem pensa diferente da gente. Boa luta aos que lutam juntos. Boa sorte aos que insistem na truculência, no desrespeito, no pragmatismo corporativista, no ganho político eleitoreiro imediato e mesquinho. Porque lá na frente, e o quanto antes, o que esperamos é que a Universidade saia fortalecida e a Educação mais valorizada. Com grupo do A ou grupo do B, estes passarão, a conjuntura será outra – não mais a do passado, nem a do presente – e uma melhor universidade cada vez sempre necessária.

Portanto, enquanto a subordinação de uns (PSTU, ANEL e outros) é greve de modo a deslegitimar um grupo político, a nossa subordinação é à Luta pela Educação, com “Greve agora”, “com a melhor negociação” ou com a deflagração de Greve para depois. Destarte, seja quaisquer dessas opções escolhidas continuaremos a cumprir nosso papel de defender uma Universidade mais democrática e socialmente referenciada. Eles preferiram assinar uma Carta de Repúdio à ADURN – e talvez a decisão da maioria dos professores – nós preferimos está em luta pela solução dos motivos expostos acima.

P.s.: lembrando que enquanto os Autonomistas, PSTU e POR buscavam encontrar culpados pelo não quorum da Assembléia, embora eles tivessem em mobilização tão pífias quantos os culpados – repetidamente por eles -, vários estudantes se retiraram e ficaram somente as mesmas figurinhas carimbadas de sempre. O que fazer? Sair destes espaços e ir discutir temas que interessem mais os estudantes. De culpas e dedos apontados estamos cheios, o que se pode querer é o que está por vir. E isto só está sendo possível pela insistência dos que colocaram sobre este tempo e espaço um mundo cheio de sonhos factíveis e um horizonte por se abrir cada vez mais. Utopia num é isto? É o que faz caminhar, pois caminhemos, porque tem alguns que só querem motivo para voltar atrás e novos atores sempre virão, e estes é que são os necessários para para o que pode vir.