É dia dos namorados e aquele casal sai para comemorar a data em um belo restaurante de cidade. Ele toma banho, escova os dentes, veste uma roupa limpa e engomada; ela compra roupa nova, faz escova no cabelo, se maqueia com esmero, usa aquela lingerie sexy, faz as unhas e passa o perfume que ele mais gosta.
Ao buscá-la em casa, ele a surpreende com um buquê de flores, um embrulho contendo um presente e um cartão. Ela recebe, chora e o abraça com paixão. Em retribuição, lhe dá um presente e um cartão enfeitado de corações e beijinhos, tudo dentro de uma caixa enorme, embrulhada com muito capricho por ela própria. Ele não chora, mas acha massa a camisa nova do seu time que acabou de ganhar. Trocados os presentes, vão para o jantar romântico.
A fila enorme não desanima os amantes, sequiosos por uma refeição comemorativa – assim como os outros casais enfileirados. Depois de uma hora de espera conseguem uma mesa próxima à porta de saída, local de passagem tanto de quem entra como de quem sai. Não importa. Nada pode estragar aquele dia dos casais enamorados. Sentam-se e solicitam o cardápio ao aturdido garçom. Um frenesi de vozes domina o ambiente, num turbilhão inaudível de pedidos de vinhos, risotos e declarações de amor.
Trocam olhares apaixonados e um aperto de mãos até que são importunados pelo garçom com a entrada e uma garrafa de vinho. Petiscam aquela iguaria entre um gole e outro, e continuam a esperar o tempo passar.
Enquanto isso, cada um saca o seu BlackBerry e começa a explorar suas infinitas possibilidades virtuais: Twitter, Facebook, BBM, WhatsApp etc., obtendo em tempo real a situação de outros restaurantes da cidade.
– Olha, amor, no restaurante tal a fila de espera está…
Sem levantar o olhar do visor do aparelho ele responde:
– Já vi a foto no Twitter.
Sem qualquer surpresa com a resposta, ela volta a teclar no seu aparelhinho mágico.
Passam minutos valiosos conectados com o mundo – desconectados um do outro – aguardando a chegada do prato principal. Ele já está arrependido do seu pedido, pois um amigo que está do outro lado do restaurante o informa pelo WhatsApp que o spaghetti que está degustando é uma maravilha.
– Porra, eu pedi outra coisa – fala primeiro para o amigo, e depois para a namorada, responsável pela sugestão.
Ela desanima e fala para a melhor amiga pelo BBM:
– Ah, amiga, pedi um prato mas acho que ele não vai gostar.
Sem problemas. Mesmo assim eles comem, silenciosos, aquele indesejado prato, molhando a garganta com um bom vinho, e depois vão embora.
Quando pensa que a noite romântica foi um fracasso, já no carro ela dá uma última checada no celular e vê uma mensagem dele no BBM:
– Te amo!
Seus olhos se encheram de lágrimas e eles se embalaram num caloroso abraço, que terminou na quilométrica fila no motel mais próximo.