Prof. Gilmar Guedes (CE/UFRN)
O aparelhamento partidário do estado nas universidades públicas brasileiras através dos “antigos intelectuais de esquerda, arrependidos” avança rumo a um conservadorismo que atenta contra as liberdades públicas constitucionais dos trabalhadores desde o direito de greve até a liberdade de expressão!
Quando entrei na UFRN em 1989, naquele ano de greve nacional das IFES, logo de pronto me identifiquei com os professores ligados a esquerda, que então eram tidos como os intelectuais “radicais”. Em uma universidade que estava enraizada de todos os ranços do autoritarismo, perseguições e violência do estado civil-militar, eles eram, então, os arautos das mudanças, lutávamos todos, e sonhávamos pelo legítimo direito de greve e uma universidade pública e democrática, com qualidade e acessível aos trabalhadores.
Passados pouco mais de duas décadas, pasmem!!! Reconheci muitos desses mesmos intelectuais “radicais” na assembleia da ADURN de hoje, com uma diferença fundamental, agora embebidos pelo ópio do poder e pelo envolvimento no aparato estatal da universidade, alguns deles, exercendo um cargo temporário por meio de uma chancela democrática dada pelos próprios pares. Ainda havia aqueles que tinham receio de sacrificar seus projetos pessoais e profissionais na Academia. Mesmo, os recém chegados temiam minar projetos futuros de fazer parte da cúpula mandatária; por tudo isso e algo mais, sacrificaram seus princípios políticos e éticos em função de projetos institucionais ou pessoais, deixando a imensa maioria de trabalhadores dessa IFES, a ver navios na possibilidade de poder lutar pelos seus direitos fundamentais de salário e condições de trabalho satisfatórios.
Mesmo que os outros colegas trabalhadores das IFES venham a conquistar estes direitos, por meio da luta dos sindicatos nacionais, ANDES, e PROIFES, inclusive; ainda assim, nossa geração foi tolhida do direito de apoiá-los, num momento que exigia apenas união política, ponderação sobre o desprezo patente do governo com nossa categoria, e mesmo, a justiça salarial. Como nossos intelectuais do sindicalismo de resultados devem dizer: eles que façam por nós, esperamos, e colhamos os frutos; no entanto, eles desconsideram essa exploração insidiosa, a apropriação do trabalho alheio de outros. Como dizem os políticos de má índole, que os “ditos” homens de bem criticam: às favas com essa tal de ética política.
Os ex-arautos da liberdade, agora instituídos do poder, conchavam as escuras, distorcem dados estatísticos e documentais, mudam estatutos, tumultuam processos democráticos com discursos polidos, chamam os colegas professores das IFES que lutam, de forma aguerrida nacionalmente, de autoritários e irresponsáveis. Eu pergunto? Não são eles os irresponsáveis quando dão as costas para a história e para as lutas por uma universidade pública, gratuita, democrática e socialmente referenciada. Chegam a encher o peito, e dizer, queremos o título: UFRN a única universidade do país a não aderir à greve; ao contrário do título de campo de excelência em pesquisa cientifica na área de neurociência, este sim que deve ser motivo de júbilo para todos nós. O primeiro título, ao contrário do último, com a “potencial” anuência da maioria dos professores dessa Instituição, caso votem contra a greve no dito plebiscito, poderá entrar para o currículo como uma vergonha histórica, antes uma instituição berço e baluarte das lutas democráticas, hoje, berço de projetos pessoais e institucionais de poder.
Os intelectuais de esquerda arrependidos agora chamam o legítimo direito greve, conquistado por séculos, muitas vezes com a vida de muitos trabalhadores, e institucionalizado a duras penas na Constituição Federal de 1988, com uma ação “ineficaz”, a mesma posição que outrora eles afirmavam que possuíam os “demônios” neoliberais. Na década de 1980 e 90 os estudantes eram companheiros aliados contra os neoliberais conservadores, hoje são radicais, baderneiros, desordeiros…..
Sem medo de errar o lado no campo de luta prefiro aquelas que primam pelos trabalhadores e por uma universidade pública com ética política, que garanta os direitos legítimos a um salário que remunere com justiça o trabalho desenvolvido e uma sociedade plural e democrática. Para os jovens alunos e professores da UFRN, aprendam que na sociedade capitalista misto de neo-conservadora e neo-socialista pelega em que vivemos, os nossos “heróis” políticos são na maioria das vezes fugazes, não tenham ilusões, fiquem atentos aos camaleões ideológicos! Nunca percam sua identidade na luta por uma UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE. GREVE E LIBERDADE DE EXPRESSÃO SÃO DIREITOS INALIENÁVEIS DOS TRABALHADORES!