O intelectualoide acima de tudo é um chato. É aquele sujeito que lê Sartre, no original, já leu duas vezes “A Divina Comédia” de Dante, não gosta de MPB, prefere os clássicos e se veste como um bem comportado advogado. Sua erudição não serve para nada. Aliás, serve, para mostrar aos amigos que o suportam que ele é um culto. Compra todo final de semana, o “Estadão” e a “Folha de SP” para ler aquele suplemento de cultura que a maioria dos autores escreve para eles mesmos. Adora réplicas como aquela que movimentou o meio cultural envolvendo o poeta Ferreira Gullar e o poeta concretista Augusto de Campos, em torno da questão, quem descobriu a obra de Oswald de Andrade? Como se isso tivesse a mínima importância.
O intelectualoide detesta o novo. Para ele, o Poema/Processo foi uma aberração e artistas como Falves, Jota Medeiros, entre outros são uns incultos que vulgarizam a arte, a poesia. Ter uma colagem de Falves, na parede? Jamais. O intelectualoide é reacionário, que defende Deus, Pátria e Família. Geralmente gostam de ser chamados de Mestres ou Professores. Jamais escreve qualquer cosia. Se o fazem, o texto é de uma chatice absoluta. Odeiam qualquer manifestação pop, da contracultura. Desde a geração beat até os Rolling Stones. Gostam de ópera e politicamente definem-se como “neoliberais”, o rótulo mais cretino para definir a nova Direita Nacional, povoada de “neoliberais”. O intelectualoide é extremamente moralista, desde o seio familiar. Acha que toda nudez deve mesmo ser castigada. É a favor da Censura. Para proteger “os valores familiares”. Nem quer ouvir falar em cultura popular. Prefere Shakespeare, para ele (os críticos) “o maior escrevedor que a humanidade já criou”.
O intelectualoíde não comete excessos, como tomar um porre no Beco da Lama, na companhia de Falves. Prefere um bom vinho francês, em casa, com a família, discutindo a reforma da casa com a patroa. Em casa tem uma vasta biblioteca, maioria de clássicos da Literatura. Já tentou ler “Káos” de Jorge Mautner. Desistiu e acha Mautner insuportável, tanto como escritor e pior ainda como musico. Acha que Nelson Jacobina, tocando violino, um atentado aos instrumentos que tanto arrancou suspiros na velha realeza.