Search
Close this search box.

Há “Cláudios Guerras” como há civilização ou barbárie

Compartilhar conteúdo:
Imagem: reprodução

Nesta semana tomamos conhecimento de um livro chamado Memórias de uma Guerra Suja, livro reportagem dos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, a partir de depoímentos de um Torturador ‘em busca de paz’, chamado CLÁUDIO GALVÃO.

Pelos relatos, o livro mexe fundo em feridas e ao invés de trazer as esperadas luzes, coloca a história novamente no breu ao ‘informar’ de que os corpos foram incinerados, arrefecendo mais uma ténue esperança de que teríamos efetivas notícias dos desaparecidos e mortos da ditadura.

O livro deverá ter um retumbante sucesso editorial a julgar pelo furor que causou no espaço digital. Antes porém de ler o depoimento do seboso Cláudio Guerra, Delegado de Polícia Civil aposentado e Capixaba, precisamos fazer jús a um outro CLÁUDIO GUERRA, boníssima figura potiguar, amante das letras que, com rara habilidade de traçar perfís, conta histórias e reconstrói o espaço existencial e geógrafico de Natal, do RN, RJ e PE de ontem, do período das trevas. Ler o Cláudio Guerra potiguar, é míster.

Em ‘MARINHEIRO SÓ”, narra a luta de José Maonel e sua Gení. Recuperando-me de uma cirurgia de catarata lí numa ‘tirada’ só esse “Marinheiro Só” que tive a honra de receber por sua iniciativa, pelas mãos cuidadosas de Mery Medeiros. Cláudio Guerra em “Marinheiro Só”, resgata a jornada de lutas de JOSE MANOEL, na ascendente caminhada do nosso povo pelas Reformas de Base e pela quebra do militarismo que sufocava os marinheiros, às vésperas do Golpe de 01 de Abril. Conta os heróicos tempos de resistência bravia no enfrentamento do que sobrou do ‘movimento’ contra o Regime Militar. Faz um apurado desfile aos nossos olhos das assembléias dos marinheiros no Rio de Janeiro. Identifica heróis de carne e osso e cliva com precisão a identificação de vilões e traíras, igualmente de carne e osso.

Indo além da obra histórica, nosso CLÁUDIO GALVÃO resgata o humanismo de cada militante, recria e nos mostra uma Natal e uma poética Recife que já não existe mais a não ser na lembrança de retinas cansadas e com um cuidado e zelo de gênero, enaltece a valentia da Gení ao lado do companheiro na sua convivência e posteriormente na sua solitária , empedernida e perseverante luta para identificar o corpo do seu lutador e de lhe dá um jazigo ainda negado a tantos brasileiros.

“Marinheiro só” saiu pela O baú de Macau – Editora e Artes, 2011, um sonho virando letras do nosso Cláudio Guerra. Cláudio Guerra, o nosso, resgata perfis humanos dos combatentes da Ditadura e seus loucos sonhos por justiça e liberdade, faz da Baú um atalho para a cultura e o resgate emocional e histórico.

Enquanto o outro Guerra não traz a paz que ele quer para si, o nosso dá sua contribuição na construção de uma sociedade humana, fraterna e impregnada da cultura de paz. Enquanto outro assasssinava , o nosso cria por sua caminhada e suas letras o necessário encantamento em busca do império dos direitos humanos e da felicidade para o povo de Macau, Natal e do mundo. Há CLÁUDIO GUERRA e Cláudio Guerra, como existem as opções da Civilização ou Barbárie. Viva a terra de Potí, Viva o nosso Cláudio Guerra, viva Gení, viva José Manoel, viva o baú de Macau.