Carlinhos Cachoeira, eis o nome mais falado no Brasil por esses últimos dias. Além dos inúmeros trocadilhos que seu apelido proporciona, todos eles já gastos e sem graça, temos outros fatores que nos fazem continuar pronunciando seu nome em quedas d’água (não resisti em fazer o meu trocadilho).
No jogo político a disputa entre a situação e a oposição é a constante legitimadora da democracia. Quem está no poder defende o seu lugar da vontade incontida de quem está fora, que quer ocupar aquele espaço recheado de benesses incalculáveis, impossível, porém, de ser habitado por ambos ao mesmo tempo, como sabiamente sentenciou Isaac Newton há alguns séculos atrás.
Pois bem. Este senhor habituado com jogos de azar e uma infinidade de outros afazeres, conseguiu, do alto de sua felpuda conta bancária, unir esses eternos inimigos usando, paradoxalmente, daquilo que de mais pernicioso existe no homem: a cobiça.
Mais ainda. Não só a classe política se rendeu aos encantos do rapaz das cataratas, mas também empresários, jornalistas, e mesmo a polícia. É um fenômeno, meus amigos, digno, portanto, de ser admirado e aplaudido por tal feito que faz corar os benfeitores da humanidade, devotados em praticar o bem, mas que por vezes terminam por desagradar alguém. Ou seja, enquanto estes querem fazer o bem e às vezes fazem um mal, ele faz do mal um bem.
É realmente um mestre! Bateu na porta de um, o pegou pelo braço, levou até a casa do inimigo e intermediou as pazes, conseguindo, além disso, que os novos amigos trabalhassem árdua e furtivamente em favor dos seus negócios beneméritos.
Por sorte e, acima de tudo, por justiça, a humanidade costuma premiar essas nobres almas com a posteridade, hoje já bem encaminhada para nosso amigo Cachoeira, com a descoberta de novas e altivas ações antes soterradas pela maledicência invejosa que execra covardemente os atos pios. Vejamos.
Consta que Cachoeira foi o responsável retroativo pela instalação do Cristo Redentor, uma das Sete Maravilhas do Mundo, no pico do Morro do Corcovado, como pagamento antecipado pela liberação dos bingos e demais jogos de azar. Em que pese ainda não ter alcançado tão venturosa graça junto a Nosso Senhor, e nem dela necessitar mais, ele, do alto de sua magnificência, deu aos devotos um monumento colossal, capaz de romper o dique das lágrimas de nós que somos filhos de Deus.
No mesmo estilo “Exterminador do futuro”, descobrimos que foi Carlinhos Cachoeira o culpado pelo Maracanazzo, a retumbante derrota do escrete Canarinho na Copa de 1950 para o Uruguai num Maracanã lotado por 200 mil pessoas, deitando em prantos toda uma nação aterrada pelo fracasso. Explico como foi.
Cachoeira, já naquele tempo preocupado com o excessivo amor que nosso povo devotava ao futebol, achou por bem impedir que nossa Seleção ganhasse sua primeira Copa do Mundo, a fim de evitar que caíssemos na maior gandaia de todos os tempos, paralisando, assim, seus negócios altamente rendosos. Tomado desta nobre determinação, cuidou de “molhar” a mão dos nossos craques para que entregassem o caneco ao Uruguai, adiando, assim, nossa primeira conquista futebolística e mantendo intacto não só o velho “complexo de vira-latas”, mas também seus lucros.
Para não restar qualquer suspeita sobre sua ação, Cachoeira arrumou uma desculpa para justificar a derrota e, por algum meio ardiloso que não conhecemos ainda, disseminou que a culpa pelo infortúnio futebolístico se deveu ao goleiro Barbosa, acusando-o de ter engolido um frango catastrófico que sacramentou a tragédia. Satisfeito com o esfarrapo da desculpa, e mais ainda com o sucesso dela, mesmo que temporário, há rumores de que Cachoeira, orgulhoso com a manobra histórico-publicitária que vai do presente para o passado, e deste para o futuro, assinala em meio a sorrisos:
– Se perdermos novamente, que desta vez seja por um gol contra.
Para arrazoar o vaticínio indesejado, caso realmente ocorra, e com vistas a encobrir os verdadeiros culpados, a zaga da Seleção Brasileira já está devidamente avi$ada desta possibilidade, de modo que antecipo que esta é a razão de um eventual fracasso no Mundial de 2014, que passará à história do futebol como Cahoeirazzo.
Outros feitos igualmente louváveis certamente serão creditados na conta de Cachoeira, mas este escriba fica por aqui, deixando que tal seja levado a efeito pela CPI instalada no Congresso Nacional tão somente para apurá-los, prová-los e, principalmente, para enaltecer, por dever de justiça, aqueles que tão desapegadamente colaboram com este benfeitor do povo brasileiro, cujo nome em breve estará gravado com letras de fogo no Livro dos Heróis da Pátria.
Rogo a Deus para que esta CPI, e apenas esta, tenha um destino diferente das demais, alcançando seus objetivos alvissareiros para consagrar nas páginas da história a esplêndida figura de Carlinhos, o Cachoeira do Brasil.