O conselho consultivo, criado para pensar questões políticas e administrativas da base aliada da gestão rosada, teve sua primeira reunião apresentada para os norte-riograndenses esta semana. Sendo ocupado pela governadora Rosalba Ciarlini, pelos Senadores José Agripino e Garibaldi Filho, além dos deputados federais Henrique Alves e João Maia e pelo presidente da assembleia legislativa do RN, o deputado estadual Ricardo Mota, o conselho é uma tentativa de conter a solidificação da visão de que o governo rosado é centralizador e autoritário. Mais. Que é, na verdade, liderado pelo primeiro-damo. Numa versão inicial, o Ravengar, como Carlos Augusto é chamado em tom de bajulação por alguns jornalistas, não teria assento no grupo, mas foi também depois confirmado.
Com boa margem de veracidade, a ideia de que é o marido e não a governadora, real eleita, quem administra o estado, retira a competitividade eleitoral de Rosalba Ciarlini, sobretudo nas regiões mais urbanizadas. Algo que pode ser mortal para a sua reeleição. O eleitor, ou mesmo o cidadão que não votou nela, mas é por ela governado, se sente fraudado.
O pior para o status quo é que a estratégia do conselho demonstrou ser um verdadeiro fracasso. Primeiro porque o real objetivo ficou evidente, deixando transparecer que Rosalba Ciarlini irá atuar para manter o poder que lhe foi transferido pelas urnas nas mãos do seu cônjuge. Ou melhor dizendo, a sensação foi a de que fizeram um cargo/conselho apenas para alojar o primeiro-damo. Cansei de ler mensagens nas redes sociais em que as pessoas perguntavam sobre quanto o “governador de fato” iria receber para desempenhar a atividade, e/ou mesmo se a ação não configuraria nepotismo.
Segundo, a explicitação da eleição de mossoró como “primeiro assunto” a ser enfrentado pelo grupo cria a noção de que as eleições são bem mais fundamentais do que pensar estratégias de enfrentamento para os problemas vivenciados pelo estado, tais como a seca, crise da saúde, segurança, etc. Dizer que o tiro saiu pela culatra, portanto, é eufemismo.
Alguém precisa falar para o grupo governista que conversar publicamente sobre eleição em momento de crise é coisa de amador. Algo que passa a sensação de desleixo com a coisa pública e com a administração do RN. A oposição, que não é boba, continua mais afiada na disputa argumentativa e soube explorar muito bem a criação do conselho e seus furos.
PS. Várias lideranças e partidos foram deixadas de lado, o que também foi explorado pela oposição como demonstração da centralização política, enquadramento que o sistema governista tenta se afastar.
PS.2. Se quer fugir das idéias de centralização e autoritarismo, o governo poderia começar abandonando a prática de pedir a cabeça de jornalista que critica a atual gestão em periódicos da cidade, como fez com o cartunista Amâncio, ex-Tribuna do Norte e atual Jornal de Hoje.