As contas de 2008 da gestão Carlos Eduardo estão em xeque. Não. Não se trata de suspeição técnica, já que o Tribunal de Constas do Estado aprovou os números. A questão diz respeito a disputa política. É que a Câmara Municipal do Natal precisa referendar o parecer favorável do TCE. E, caso a CMN reprove os dados em 2/3 dos seus votos (14 votos), o ex-prefeito poderá se tornar inelegível por oito anos (ainda há controvérsias a esse respeito).
A situação que se desenha é no mínimo contraditória. Enquanto o TCE, órgão técnico e qualificado, aprova as contas com ressalvas (raros sãos os casos em que as contas públicas de um agente não apresentam ressalvas), a Câmara Municipal do Natal, através dos vereadores que endossam a administração Micarla de Sousa, enfatizam que o referido Tribunal está errado. A CMN é mais qualificada do que o TCE para desaprovar as contas de um gestor?
Mais uma vez. A questão não é técnica. É eleitoral. Alguns vereadores, liderados por Enildo Alves, estão buscando de todas as maneiras tornar Carlos Eduardo inelegível para abrir um suposto caminho sonhado por eles para a sua chefe maior, Micarla de Sousa.
A ação pode parecer simples: “vamos reprovar as contas e tornar Carlos Eduardo inelegível para retirá-lo do nosso caminho”. Porém, a simplicidade da tática perde veracidade quando avançamos um pouco mais sobre a celeuma. Quando saímos das bordas, local em que alguns vereadores ainda permanecem, ou a depender do modo como tratam os interesses públicos, nunca saíram. A estratégia não surtirá o efeito desejado por Enildo e Micarla. Ao contrário, só contribuirá para colocar Carlos Eduardo, novamente, na condição de vítima e gerar uma polarização entre o ex-prefeito e a atual que só provoca o enfraquecimento da última. Foi assim durante toda a administração verde do partido verde.
A história não é só o que de fato aconteceu. Até porque somos humanos e atribuímos, através de disputa social e política, valores e perspectivas sobre o ocorrido. Os fatos são narrados como parecem ser. E, se o órgão competente aprovou as contas, porque a CMN quer reprová-las? Pode até não ser essa a intenção, mas o cenário se aproxima da explicação da “perseguição política”.
Não é preciso ser muito inteligente, ou ter os poderes especiais a que alguns analistas se arrogam, para constatar que o contexto não está para a gestão municipal e seus defensores. Além da polarização desnecessária para a prefeita, que parte da CMN pensa em querer “comprar”, que desde o início de gestão borboleta alojou Carlos Eduardo confortavelmente na oposição, a CMN caminha, caso desaprove os números municipais de 2008, para dar um tiro no pé. Parte significativa dos atuais vereadores foram da base de Carlos Eduardo. Porque só agora, quatro anos depois, resolveram não endossar a administração anterior? Um cidadão minimamente razoável fará tal pergunta.
A CMN também vai aparecer como aquela instituição que cerceou o direito dos natalenses de votar em um candidato que lidera todas as pesquisas. Porque o cerceamento? O eleitor não é burro. Se tocará que a atitude foi para beneficiar uma prefeita que amarga 90% da desaprovação popular e que caminha para um ostracismo ainda maior do que foi o de Aldo Tinoco, este último sim injustiçado pelas elites locais (a maior parte saneada da cidade e as lagoas de captação são do tempo de Aldo).
A sociedade não irá deglutir tudo passivamente. Este tempo já passou. O fantasma do #Foramicarla ainda atormenta o sono de muita gente. E, se a revanchista estratégia for colocada em prática, não acho improvável o florescimento do antigo movimento social aliado agora com um #ForaCMN. A CMN amarga hoje cerca de 80% de desaprovação popular, pouco menos do que o índice alcançado pela presidente estadual do PV, e não falta muito para que aqueles mesmos que se revoltaram contra a prefeita, agora se organizem contra a CMN. Os natalenses não se sentem representados pelo poder legislativo da cidade. Esta bomba está perto de explodir e alguns vereadores brincam com fogo.