Do blog consciencia.blog.br
Por Robson Fernando de Souza
Um artigo extremamente preconceituoso e falacioso, publicado no último dia 29 no site Carta Potiguar sob a autoria de Daniel Menezes, exorta que os gatos de rua de Natal/RN sejam exterminados, sob o velho pretexto do controle de zoonoses. Num texto recheado de achismos e discriminação moral contra os animais não humanos, de título claramente apologista da violência contra os animais, acusa os gatos de serem os vetores da toxoplasmose e potenciais causadores de uma epidemia dessa doença.
O texto distorce e discrimina quem defende os animais não humanos, deixando a entender que quem o faz, valoriza mais a vida dos não humanos do que a dos humanos. E põe na mesa a dicotomia “ou eles ou nós”, segundo a qual se estaria valorizando “mais” a vida dos gatos do que os humanos infectados pelo toxoplasma. E ainda incide numa visão rasa dos Direitos Animais, como se sua grande questão fosse não a exploração animal em si, mas a “necessidade” de “só fazer uso dos animais não racionais em condições bem claras e eticamente sustentadas”.
Como todo texto reacionário de quem escreve manifestando indiferença ou aversão aos pacientes morais não humanos, investe-se também em lançar um argumento furado, baseado em falácia “Olha o avião” (fuga do tema), falácia genética e distorção de fato, contra o vegetarianismo – segundo o qual “o homem [sic] dependeu de proteínas e aminoácidos advindos da carne animal para se desenvolver. Se tivéssemos ficado apenas na salada, muito provavelmente eu não estaria escrevendo este texto”.
Ignora o argumentador que esse tal desenvolvimento não foi atrelado à qualidade nutricional da proteína animal, mas sim porque os hominídeos que deram origem aoHomo sapiens sapiens precisavam se alimentar de carne para evitar sucumbir à baixa diversidade de nutrientes vegetais de seu meio ecossistêmico, conforme artigo de Sérgio Greif.
Voltando ao assunto principal, o autor ironiza com a ética animal e sua proposta de igualdade moral entre os animais humanos e os não humanos, atitude típica de quem se recusa a sequer ler sobre o assunto. Mais adiante, ele despeja toda uma série de achismos preconceituosos sobre a transmissão da toxoplasmose pelos gatos, não fundamentados em qualquer dado científico. Alterna tal visão de mundo com uma interpretação desrespeitosa e reducionista da convicção ética de quem defende os animais não humanos, acusando indiretamente os defensores de emotividade.
No último parágrafo, ele é incisivo: quer que exterminem o “excesso” de gatos que vivem na cidade de Natal e criminalizem a tutela comunitária de animais, e defende que os animais não humanos são de fato seres inferiores assim como nos “países desenvolvidos” – perguntando no final “por que não pode ser dessa maneira aqui também”.
Parece o autor ser incapaz de uma pesquisa mesmo rápida, para que se omitisse uma opinião mais séria e menos enviesada por preconceitos pessoais, sobre as soluções para as zoonoses. Se ele tivesse pesquisado, teria tomado ciência de que o extermínio de animais de rua é, além de profundamente imoral e antiético mesmo para uma maioria ainda especista da sociedade, algo ineficaz no controle populacional e na detenção das doenças transmitidas por esses seres – o Projeto de Lei nº 04/2005 está aí para mostrar isso. Para que incitar uma “Solução Final” de assassinato em massa se há métodos muito mais éticos, eficientes e que não demandam tal sacrifício para se combater a toxoplasmose?
É de se perguntar por que algumas pessoas, usando de falácias e preconceitos para emitirem uma opinião que deixaria o alto escalão de regimes totalitários genocidas com inveja, preferem ser “politicamente incorretas” a ser respeitosas, empáticas e intelectualmente honestas.
Protestos podem ser enviados ao Twitter do autor e aos comentários do artigo no site Carta Potiguar. Recomendo que não dirijam comentários atentatórios à honra (ofensas, ameaças e outras reações irracionais).