Bom dia, minha querida Segunda-Feira!
Faço esta saudação carinhosa pois sei bem o que você sofre a cada nova aparição de seu nome no calendário. Coitada de ti, pobre dia da semana, que recebe tantas injúrias por parte dos preguiçosos que não aguentam vê-la desfilar, majestosa, com sua ação exemplar de quem abre a semana para as ocupações ordinárias tão necessárias à nossa sobrevivência. Você carrega na fronte um permanente recado de dedicação e trabalho para os observadores da folhinha; seu olhar é severo e imperativo, sempre a dizer: “É hora de trabalhar, vagabundo!”
Por ser assim obtusa em seu receituário, não é bem vista pelos que são exortados ao trabalho somente após uma pesada reprimenda. Sei que o fazes com certa dose de arrependimento, já que sua ação benfazeja não é compreendida pelos incautos. Deixa estar, minha caríssima, seu dia há de chegar, e ele não será uma segunda-feira modorrenta com as que V. Exª. anuncia, e sim um sábado ensolarado em que poderás, finalmente, desfrutar do prestígio que lhe é negado.
Carregas o peso de ser o primeiro dia da semana, mesmo sem sê-lo de direito; seu vizinho, o Domingo, tem o encargo de ser o primeirão, mas recebe a glória de ser o último dia de descanso. A infâmia só o alcança quando está beirando seus sofridos costados; à noite, o Domingo recebe as mesmas pragas que lhes são impingidas durante as 24 horas de tua existência. És maldita até quando ainda não chegaste. Injustiça maior não pode haver!
Na prática, você inicia a semana para novos acontecimentos que mudam a vida das pessoas, mas estas, injustas que são, preferem exaltar a adorada Sexta-Feira e o idolatrado Sábado. Muitos até resumem o objetivo de suas vidas ao desfrute dos nababescos presentes que o fim de semana pode oferecer: um turbilhão de lazer fugaz e, por vezes, vazio. Esses são os que nutrem verdadeira ojeriza por ti, minha cara. Para esses, guarde suas lições alvissareiras; gasta-as só com os bons ouvidos que sabem reconhecer o teu valor e cultuar o trabalho que se inicia com o seu advento.
Além de todas essas infâmias, ainda tem que suportar as infinitas promessas que são pactuadas para serem cumpridas no seu transcurso. Esse encargo é teu e de ninguém mais! Ai de ti, pobre moça! És responsabilizada pela inobservância dos planos de voltar para a academia, fazer dieta e lavar o carro, sem que nada tenhas com tais frivolidades. Ao final, ainda tens que aguardar, resignada, que as mesmas promessas se renovem a cada virada da semana, caindo sobre teus ombros a responsabilidade de lhes iniciar o cumprimento.
Venho aqui, portanto, oferecer minha humilde palavra de solidariedade para ti. Me junto ao minguado coro de vozes que a defende da infame acusação de ser a assaltante do sossego alheio, como se você arrebatasse os humanos do seu leito de repouso com o auxilio de uma corda espinhosa e eletrocutada
Salve Segunda-Feira!, dia de se entregar ao trabalho com ardor e dedicação, de organizar nossas vidas, de renovar as esperanças – e de querer que um dia tenha menos de 24 horas.
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