Por Paulo Afonso Linhares, Professor da UERN
A maldição do velho marechal Charles de Gaulle – a quem se atribui ter dito que “o Brasil não é um país sério” – nos visitou com muita intensidade nestes últimos dias. Em primeiro lugar, tivemos o affair patrocinado pela poderosa Federação Internacional de Futebol (FIFA) através de seu secretário-geral Jérôme Valcke que, em vista dos atrasos nas obras dos estádios brasileiros para a Copa de 2014 em tom pouco diplomático, teria afirmado recentemente que o Brasil precisa “de um chute no traseiro” para acelerar as obras nas cidades-sedes dos jogos, onde o atraso no andamento das obras seja dos estádios, aeroportos ou de mobilidade urbana, é visível e leva a crer que a corrida contra o tempo pode resultar em uma grande derrota.
A frase do desastrado Valcke foi como um rastilho de pólvora na imprensa brasileiro, ensejando uma reação dura por parte do governo brasileiro diante desse ultraje à pátria das chuteiras amarrotadas. Finalmente, assediado por uma turba de repórteres, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo aceitou, em nome do Brasil, o pedido de desculpas formalmente apresentado pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter. Como gesto de boa vontade por parte do Brasil, a aprovação da polêmica Lei Geral da Copa, pelo Congresso Nacional, deverá ocorrer nos próximos dias, enquanto as obras nas cidades-sedes caminham em ritmo que ameaça a não realização da Copa de 2014 nestas paragens tupiniquins.
Outro episódio de destaque foi o arranca-rabo envolvendo a presidente Dilma Rousseff e a chanceler alemã Angela Merkel quando da abertura, em Hannover, da CeBIT, a maior feira de tecnologia de informação do mundo, com um passeio pelo pavilhão principal do Brasil no evento, além de percorrerem os espaços de grandes companhias alemãs de tecnologia informacional (TI). O passeio das duas chefes de governo incluiu os estandes das empresas brasileiras Embrapa, Padtec, Positivo, Stefanini, Atech, Petrobrás, Embraer, e Totvs. Apesar do tom descontraído, a troca de farpas foi inevitável. Diante das críticas de Dilma Rousseff, ao que chamou de “tsunami monetário”, a chanceler alemã Angela Merkel rebateu, referindo-se ao protecionismo brasileiro, em especial através do aumento do IPI dos carros importados, algo que afeta diretamente a indústria alemã, embora o governo brasileiro visasse impedir a invasão do mercado automobilístico brasileiro pelos veículos (descartáveis) fabricados na China e na Índia.
Inegáveis são as bem sucedidas ações afirmativas do Brasil no front da política exterior, especialmente neste momento de fragilidade do bloco da União Europeia causado pela crise econômica que se abateu duramente sobre a chamada “Zona do Euro”. Claro que, segundo afirmação contida na página da Internet da Agência Brasileira de Cooperação, órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, “[…] A política externa brasileira prioriza a importância da cooperação Sul-Sul no contexto das relações internacionais tendo em vista sua capacidade de estreitar laços, na esperança de que seja um dos caminhos mais seguros para lograr o desenvolvimento sustentável, a elevação do nível e da qualidade de vida das populações com mais justiça social.”
Todavia, reagir a pequenos e grosseiros agravos, a exemplo do ocorrido no caso de Valcke, deve ser regra, porém, o Brasil se afirma da cada vez mais conturbada cena internacional a partir da execução e uma pauta de ações afirmativas que, como ocorreu na CeBit de Hannover, possa o Brasil mostrar a competitividade de suas empresas a partir da capacidade tecnológica e de empreender, com a ocupação de espaços importantes no mercado internacional. Por isto, são preferíveis as farpas da chanceler Merkel, que mostram o Brasil a “incomodar”, ao pontapé desvairado de um burocrata qualquer da FIFA, embora seja um dever nossos devolvê-lo de imediato e com a mesma intensidade. Afinal, segundo afirmação de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, “[…] Ainda é resíduo ingrato dos tempos passados, em que a lição da história só ensinava o pessimismo, a ideia de que agrupamentos de homens só se fazem contra outros homens.” Toca pra diante.