Enquanto exaltamos o fato de que ultrapassamos o Reino Unido e nos tornamos a sexta economia do mundo, tem gente no Brasil que sofre por causa de doenças medievais.
O jornalista Cezar Alves, que alimenta o bom blog “Retrato do Oeste”, apresenta bem o cenário que deveria ser motivo de vergonha coletiva.
Do Retrato do Oeste (http://www.nominuto.com/blog/retrato-do-oeste/)
O calazar que mata silencioso e o estado que não reage
Tenho defendido aqui e nas ruas um trabalho sério de combate ao calazar em todo o Rio Grande do Norte, considerando que é de uma doença de tratamento cruel e que se não tratado corretamente não tem como sobreviver. É morte certa.
Como é público, meu irmão contraiu calazar em Mossoró/RN e o sofrimento que ele passou durante o tratamento não desejo nem mesmo ao responsável pelo combate a doença no Estado, que deveria existir com o máximo de seriedade.
E em Mossoró os números e a atenção dada ao ser humano com calazar são de arrepiar. Provamos na pele a irresponsabilidade acrescida de incompetência para encontrar a cura.
Mossoró registrou quase mil sacrifícios de cães com a doença em 2011. Neste mesmo período, 22 pessoas tiveram diagnóstico positivo e 4 mossoroenses não resistiram.
Em 2012, pelo menos 3 mossoroenses já foram diagnosticados com calazar. Não existe registro de óbito. Também se tivesse acontecido, não teria como. Entendam o motivo!
Como se trata de uma doença do século XV é fácil combatê-la. É um protozoário que geralmente usa o cão para se multiplicar e chegar ao ser humano através de um mosquito.
Combate-se o mosquito, o cão e pronto. Só isto.
O complicado mesmo para o mossoroense é o diagnóstico e o tratamento. Quando meu irmão precisou, no dia 5 de fevereiro, não tinha o teste rápido e nem o exame de comprovação na cidade.
E havia outras 10 ou 15 pessoas com indicação médica para fazer o teste rápido e, dando positivo, fazer uma bateria de exames, que também não é disponibilizado em Mossoró.
Meu irmão, com muito esforço de nossa família, conseguiu o teste, os exames de comprovação e o tratamento no Hospital Giselda Trigueiro, em Natal.
Já recebeu alta e está em casa. Recupera-se muito bem.
Não sei se por sacanagem ou por desorganização mesmo, no dia 8 março, exatamente um mês e três dias após termos procurado o teste rápido no Hospital Rafael Fernandes, em Mossoró, ligaram para a residência de meu irmão chamando-o para fazer os exames.
Minha família agradeceu e informou que o mesmo já estava curado.
No dia 5 de fevereiro, quando houve a prescrição médica para realizar o teste, meu irmão estava muito debilitado e certamente se tivesse esperado um mês e 3 dias já teria morrido. Esta foi a informação repassada pelos médicos que gentilmente nos acompanharam em Mossoró.
Quanto aos outras pessoas que precisavam do teste rápido e dos exames de comprovação, peço desculpas por não ter qualquer informação a respeito. Estava junto com minha família correndo atrás do atendimento de saúde para meu irmão. Fico devendo.
Passado o pesado, voltei às ruas e ao trabalho. Encontrei cães com sintomas de calazar não só em Mossoró, mas em Macaíba e Ceará Mirim. E creio que o mesmo ocorre em outras cidades da região também. Existem registros de calazar em toda esta região.
E onde tem um, não é somente um, infelizmente.
Foto: Cezar Alves