Com uma atmosfera que lembra a era de ouro da Hammer Film (produtora britânica famosa pelos filmes de terror da década de 1960), e com uma atuação segura e madura de Daniel Radcliffe, o filme A Mulher de Preto peca nos momentos finais do roteiro escrito pela geralmente talentosa Jane Goldman (Stardust).
Arthur Kipps (Daniel Radcliffe) é um advogado que perdeu a mulher no parto do seu único filho. Melancólico, ele parte a trabalho para reunir a documentação da falecida proprietária de uma mansão num vilarejo onde crianças estão morrendo de forma estranha, detalhe apresentado já na cena de abertura. A mansão se encontra isolada do resto do vilarejo pela maré que sobe e isola a pequena ilha em que a casa se encontra, e pela névoa quase constante.
Numa paleta de cores em que o cinza predomina, numa Inglaterra no início do século XX, o filme tem algumas das características dos filmes que fizeram a história da Hammer, produtora que retomou suas atividades recentemente com a refilmagem do sueco Deixe Ela Entrar. E, nesta refilmagem de um filme homônimo de 1989, ela adapta com relativa liberdade um enredo baseado no livro da escritora Susan Hill. Há, entretanto, algumas diferenças em relação à produção original: como a mulher do protagonista, que na versão de 1989 está viva. Entretanto, o lugar dado à esposa falecida neste novo projeto é, justamente, um dos pontos em que o roteiro falha. Há uma tentativa de desenvolver a personagem como uma espécie de “anjo bom” em contraste com a mulher de preto do filme. Essa proposta fica mais clara quando vemos o espírito da mulher do protagonista de branco, enquanto que o espírito vingativo da mulher de preto, obviamente, surge vestido de preto.
Outra diferença facilmente notada em relação ao original está exatamente na interpretação de Radcliffe. Enquanto Adrian Rawlins interpreta um Arthur Kipps aparentemente feliz e que aos poucos vai se deixando perturbar, Radcliffe exibe uma expressão melancólica que permanece durante toda a projeção. E, enquanto o primeiro se assusta da forma como nos assustaríamos diante das assombrações que perturbam a já sinistra mansão, Radcliffe parece agir como se nada de tão assustador estivesse acontecendo. Assim, em termos de provocar arrepios no público, A Mulher de Preto é muito bem-sucedido. O filme consegue, graças à direção de arte e o design de som, nos fazer entrar numa casa que parece realmente assustadora. O detalhe do quarto das crianças, por exemplo, é genial, pois consegue transformar o aparente aconchego de um espaço infantil num lugar tétrico. Contudo, o que incomoda mesmo o espectador é ver a frieza do protagonista em permanecer naquele lugar por mais tempo.
Apesar de todas as qualidades de um bom filme de terror, A Mulher de Preto falha, como disse anteriormente, num roteiro que se mostra preguiçoso ao não desenvolver habilmente o pensamento do protagonista e o desfecho da situação com um final anticlimático que desperdiça a atmosfera bem desenvolvida durante todo o filme. Além disso, ainda desperdiça a presença do talentoso Radcliffe.
Título original: The Woman in Black (Reino Unido , 2012)
Direção: James Watkins
Roteiro: Jane Goldman
Elenco: Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Daniel Cerqueira, Janet McTeer, Sidney Johnston, Tim McMullan, Cathy Sara.