Por Vinícius Mota
(Folha de SP)
Não conheço texto político que supere “O Manifesto Comunista”, de 1848, em fluência e capacidade de arrebatar o leitor.
“Todas as relações fixas são varridas; todas as recém-formadas tornam-se antiquadas antes que possam ossificar-se. Tudo o que é sólido se dissolve no ar; tudo o que é sagrado se profana”. O trecho do memorável panfleto de Marx e Engels estiliza, em marcha prestíssima, o mundo revolucionado pela burguesia.
É tentador aplicar essa coleção de alegorias a respeito da velocidade e da profundidade das mudanças econômicas e sociais ao novo mundo das comunicações.
Alguém se lembra da proliferação das LAN houses pelos bairros populares do Brasil? Foi aclamada como um dos efeitos da emergência da “nova classe média”, cheia de promessas de inovações na sociabilidade e diminuição da desigualdade.
Quantas teses de doutorado sobre o tema ainda estarão frescas, se é que concluídas. Pois a onda das LAN houses está em franco declínio, como mostrou a Folha ontem.
O acesso à internet residencial e pelos celulares está drenando a demanda pelos serviços dessas pequenas lojas de conveniência cibernética. Quase uma em cada quatro fechou as portas de 2010 para 2011.
O “individualismo possessivo”, para invocar o politólogo canadense Crawford Macpherson, parece ter derrubado a “nova sociabilidade”. Mais uma vez.
E o que dizer das transações bilionárias que envolvem o futuro das empresas imersas nesse mundo em transe?
No final do ano, o Facebook pretende tomar dinheiro pela primeira vez na Bolsa. A companhia da rede social, que faturou menos de US$ 4 bilhões em 2011, dificilmente será avaliada abaixo de US$ 75 bilhões.
Vale o risco?
Há dez anos a empresa nem sequer existia. Sobreviverá a esta década revolucionária?